4ª Conferência Municipal de Promoção da Igualdade Racial retoma luta antirracista em parceria com a sociedade camaçariense

Debatendo propostas que visam a construção de uma sociedade mais digna para todas as pessoas negras, povos e comunidades tradicionais, a Secretaria de Desenvolvimento Social e Cidadania de Camaçari (Sedes) promoveu nesta segunda-feira (28) a 4ª Conferência Municipal de Promoção da Igualdade Racial. O encontro ocorreu no Horto Florestal e reuniu representantes da sociedade civil, do poder público e de movimentos sociais.
Camaçari é uma cidade com forte herança das populações negra e indígena, que são parte fundamental no processo de construção da história e identidade do município, conforme lembrou o prefeito Luiz Caetano. “Temos que abrir as portas do social cada vez mais para dar voz a todos, sem distinção. Nosso povo é diverso e essa tomada de consciência precisa ocupar mais espaços. A canetada do gestor ajuda a colocar leis em prática, mas uma sociedade igualitária se constrói com luta, organização e planejamento, definindo prioridades”, avaliou.
A titular da Sedes, Jeane Gleyde, reforçou o compromisso de envolver os cidadãos no processo de elaboração coletiva das ações governamentais. “A gente entende que agora é o momento dessa escuta popular com as comunidades tradicionais e tantas outras vozes, que por séculos foram silenciadas. É, portanto, um grito de resistência, mas também um chamado à ação. Essa responsabilidade recai ao poder público e toda sociedade civil. Falar de igualdade racial é reconhecer que o racismo estrutural ainda molda as oportunidades, os acessos e a dignidade de milhões de brasileiros”, afirmou.
Compondo a mesa de abertura, Gilson Santos, representante da comunidade cigana que vive no município, celebrou o momento de visibilidade. “O povo cigano sempre foi discriminado. Passamos anos vivendo como se fôssemos invisíveis. Estou aqui para defender e lutar pela nossa cultura e quero agradecer e aproveitar esse acolhimento para dizer que queremos respeito e, entre as reivindicações apresentadas, um olhar voltado à saúde da nossa gente”, disse.
Com mais de 260 anos de história, a comunidade quilombola da Cordoaria é marcada pela ancestralidade e preservação de tradições e práticas culturais, além da produção de alimentos que fazem parte da agricultura familiar. Representando as famílias que vivem no local, Maria Antônia Matos Ferreira, mais conhecida como Odara Ferreira, falou sobre os desafios enfrentados.
“Antes de tudo, queremos nossa identidade afirmada. Fomos pegos de surpresa, quando na administração anterior, a única comunidade quilombola do município ficou identificada como uma rua de Cajazeiras de Abrantes. Isso é um absurdo. Hoje enfrentamos diversas dificuldades quando temos que receber correspondência e até para entrar em uma universidade pública, em virtude de comprovar que nós somos realmente quilombolas. Queremos nossa identidade de volta”, revelou.
A mesa também contou com a cacica e ativista Renata Silva, da Aldeia Tupinambá Divino Espírito Santo, de Vila de Abrantes, que representou a comunidade indígena da cidade, e Núbia Bispo, representando a ancestralidade dos povos e comunidades tradicionais de terreiros, bem como outras entidades da sociedade civil.
A conferência é embasada pela temática ‘Redirecionando as Políticas Públicas da Igualdade Racial’ e os subeixos ‘Democracia’, ‘Justiça Racial’ e ‘Reparação’. A iniciativa integra a etapa da Conferência Estadual de Promoção da Igualdade Racial (CONEPIR), que visa o diálogo, escuta, debate e articulação entre governo e sociedade civil, com o intuito de formular políticas públicas e ações que contemplem a superação das desigualdades raciais no país, com destaque à população negra e demais grupos étnico-raciais.
Palestras, painéis e aprovação do regimento interno, também compuseram o cronograma do evento, além da plenária final e deliberações das prioridades definidas pelos grupos de trabalho. Ao final dos debates, foi realizada a eleição de delegação. Ao todo, foram selecionados 10 representantes para participar da conferência estadual agendada para os dias 20, 21 e 22 de agosto, em Salvador.
Foto: Juliano Sarraf