Considerada a subnotificação, casos de coronavírus no Brasil estariam acima de 1,2 milhão, estima grupo da USP
Considerados os casos subnotificados, o número total de infectados pelo coronavírus no Brasil chegaria a 1.201.686 (podem flutuar entre 957.085 e 1.494.692) em 28 de abril, um número 16 vezes maior que o oficial naquela data, de 73.553, que considera somente doentes graves e mortos (os casos de pessoas que sofreram internação).
Esse número supera o oficial dos Estados Unidos, o país mais atingido até agora pela pandemia e que também tem uma grande subnotificação e, portanto, pode ter ainda um total significativamente maior. A análise é do portal Covid-19 Brasil, que reúne cientistas e estudantes de várias universidades brasileiras.
– Falamos de ter ultrapassado em mortos a China, mas estamos em casos totais próximos dos EUA, mesmo tendo cerca de dois terços da população americana e tendo começado a sofrer com a epidemia um mês depois. Na verdade, se considerados os casos subnotificados de óbitos, também ultrapassamos a China há cerca de duas semanas – afirma o especialista em modelagem computacional Domingos Alves, integrante do grupo e líder do Laboratório de Inteligência em Saúde (LIS) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo (USP).
E isso, sublinha ele, com o distanciamento social de cerca de 50% em todo o Brasil, insuficiente, mas que reduziu um pouco o ritmo de avanço do coronavírus. Com o enfraquecimento das medidas de distanciamento, o ritmo da epidemia deve acelerar.
– Não estamos nem perto de um pico de casos de doença e morte. Estamos no começo de uma curva ascendente livre, leve e solta para o coronavírus no Brasil – destaca o pesquisador.
Cidades mais atingidas deveriam entrar em lockdown
O portal Covid-19 Brasil, cujas projeções têm se confirmando, alertou pela primeira vez para a brutal subnotificação de mortos e doentes graves pelo coronavírus no início deste mês. Em 11 de abril, a modelagem do grupo estimou haver 313.288 infectados, número mais de 15 vezes maior que o oficial naquela data, de 20.727.
De acordo com ele, São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza, Manaus, Macapá e Recife deveriam entrar agora em lockdown, o fechamento total.
Para estimar o número de casos de pessoas infectadas no Brasil, os cientistas fazem uma modelagem reversa, com a qual contornam a colossal ausência de dados, uma vez que continua não haver testagem em massa. O grupo emprega como base de cálculo o número de mortes notificadas.
Embora as mortes notificadas também sejam subnotificadas, constituem o indicador mais consolidado. Os cientistas aplicam a taxa de letalidade da Coreia do Sul e ajustam os números à pirâmide etária do Brasil. A Coreia do Sul é usada para base porque dispõe de dados consolidados sobre testagem em massa desde os primeiros casos.
– Quem quiser que veja a metodologia e questione os dados. Estamos à disposição. Temos total confiança em nossa análise – salienta.