‘Às vezes, tem fogo amigo” diz Rui Costa sobre Brasília

 ‘Às vezes, tem fogo amigo” diz Rui Costa sobre Brasília

Depois de concluir dois mandatos no governo da Bahia com alto índice de aprovação, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, escolhido por Lula para o cargo mais importante do Palácio do Planalto, admite que a experiência de comandar uma equipe ministerial tem sido mais desafiadora e lamenta “eventual” fogo amigo que há em Brasília. Criticado por supostamente dificultar a relação com o Congresso ao travar liberação de emendas e nomeações, ele diz não participar diretamente da articulação política e avalia que a aprovação recente de medidas econômicas é prova do distensionamento da relação com o Parlamento.

Em entrevista ao jornal O Globo, o ministro antecipa que o principal objetivo no segundo semestre será o lançamento do Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) com ampliação do investimento em obras públicas, incentivando Parcerias Público Privada (PPPs) e concessões – mecanismos antes tratados como tabu por gestões do PT. Veja os principais pontos.

1. O senhor foi alvo de críticas de parlamentares. Por que houve tensão política com o Congresso nos primeiros seis meses de governo? Eram previsíveis e naturais. Na política não tem vácuo. Como existia um completo vazio de governança de gestão do Executivo, esse espaço foi ocupado por muitos outros atores institucionais. Na medida em que o governo passa a existir, a ocupar o seu devido lugar, as coisas vão se acomodando. A partir de agora consigo começar a abrir mais a minha agenda para interlocução com parlamentares. Mas, se for para discutir assuntos que não são da minha parte, da articulação política, não tem condição. A ênfase do presidente foi, desde o início, pedir que eu me concentrasse na gestão de governo e que resistisse ao máximo para não entrar na articulação política. Humanamente não tem como fazer as duas coisas.

2. E as intrigas palacianas? Eu não nego que eventualmente tem fogo amigo, gente que planta notícias. Isso é uma coisa que eu não vivia na Bahia. Você via muito mais unidade e time jogando, do que eventualmente, às vezes, se percebe aqui. O que mais me incomoda é a inverdade e a mentira. Eu já li três ou quatro livros para ver se eu conforto mais minha alma sobre o fim da verdade. Mas é um negócio que a mim me incomoda profundamente, essa era da fake news, da notícia plantada, porque a velocidade da informação é muito grande.

3. E agora como está a relação com o Congresso? A semana passada (retrasada) foi simbólica (quando houve aprovação de medidas econômicas). Houve um processo de distensionamento. Muita reunião, muito café, muito almoço, muito jantar, e isso vai ajudando a distensionar. Houve a diminuição também de intrigas, de fofocas, de disse me disse. Até dissuadir disso, leva um tempinho.

4. Como o senhor vê a possibilidade da chegada ao governo de novos partidos como PP e Republicanos? A relação do Congresso, do ponto de vista da articulação política, é da Secretaria de Relações Institucionais (comandada pelo ministro Alexandre Padilha). Não é comigo. Então, eu não participo disso. Não pretendo participar. Se, eventualmente, em reuniões de coordenação, o presidente solicita opinião, eu posso eventualmente dar. Mas eu não faço e não farei essa articulação. Sobre a ampliação do governo, é absolutamente natural. Quanto mais o governo se fortalece ao longo dos anos, mais as pessoas vão desejar participar.

5. O PT pode perder espaço nesse arranjo político? Quem vai definir a composição é o presidente, então ele vai olhando o cenário. O governo é dele, a quem cabe fazer essa negociação. Acho que é indevido, cada ministro ficar fazendo especulações. Isso fragiliza o governo. Se cada ministro ficar dando palpite não dará certo. Porque a cada dia a cabeça de um ministro ou de um presidente de empresa vai a público. Isso fragiliza muito o governo, atrapalha. Então, as composições e mudanças, o presidente fará. E quando ele fizer, troca um diretor de empresa, um superintendente, um ministro, e acabou. A vida segue e o governo segue.

6. Qual a prioridade do governo para o segundo semestre? A prioridade número um que está pré-agendada para o fim do mês é o lançamento do Novo PAC. Vamos ampliar de forma substantiva os investimentos para além do orçamento geral da União, utilizando projetos de PPP. Além de estimular estados e municípios e eventualmente participar deles, a União também fará projeto de PPP diretamente. E vai ampliar o projeto de concessões. Vamos fazer financiamento a estados e municípios que tenham margem de empréstimo para fazer esse investimento, com Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, BNDES, Banco do Nordeste.

7. De quanto será o investimento público no Novo PAC? Estamos trabalhando com a perspectiva de R$ 60 bilhões por ano, fora concessões e PPPs.

Todo o conteúdo deste portal é protegido por leis de direitos autorais. Para republicação ou uso, entre em contato com nossa equipe de suporte.