Enem: 91% das escolas públicas não batem média

 Enem: 91% das escolas públicas não batem média
Um retrato da desigualdade de acesso à educação aparece no desempenho das escolas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2015. Dos colégios públicos, 91% ficaram abaixo da média nacional; entre os privados, 17%.
 
O quadro ainda reflete a crise do ensino médio vista no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), divulgado no mês passado.
 
Em quase seis de cada dez escolas públicas (59%) houve queda na nota do Enem em relação a 2014. Na rede privada, as médias caíram em 53%. O cálculo leva em conta os colégios com médias divulgadas nas duas edições do exame.
 
Os dados do Enem por escola devem ser analisados com cautela para avaliar a qualidade das redes, segundo especialistas. “O que o Enem faz é retratar a desigualdade do Brasil na oferta educacional”, pondera o professor da USP Ocimar Alavarse.
 
A maior parte das escolas com notas altas são particulares pequenas, que têm a maioria dos alunos “importados” (que migraram de colégio, sem estudar no mesmo local nos três anos do ensino médio). Já as melhores públicas são federais ou colégios técnicos, que selecionam alunos.
 
O perfil dos estudantes é algo em comum entre elas. Das 200 escolas com notas maiores, 180 têm níveis socioeconômicos alto e muito alto -os dois maiores intervalos entre os sete níveis de classificação do Ministério da Educação.
 
O resultado corrobora a tese de que a condição socioeconômica é um dos fatores de peso no sucesso educacional.
 
As médias do Enem foram divulgadas nesta terça (4). Para calcular a média geral das escolas, a reportagem considerou as notas das quatro provas objetivas do exame: linguagens, matemática, ciências humanas e ciências da natureza.
 
‘Importados’
Em 19 das 100 melhores escolas, ao menos 80% dos alunos não cursaram os três anos do ensino médio no mesmo local. Em 2014, eram 15.
Além disso, 42 delas têm até 60 alunos -sendo 17 delas com até 30 estudantes.
 
Criar escolas pequenas com os melhores alunos, muitos tirados de outras escolas, têm sido uma estratégia para despontar no ranking. A prática é criticada por especialistas.
 
Essas unidades não representariam uma escola real, acessível às famílias. Essas escolas defendem que buscam criar condições específicas para alunos acima da média.
 
“Não faz sentido dizer que um colégio particular com apenas 40 alunos no ensino médio, todos de nível socioeconômico muito alto, faz um trabalho melhor do que uma escola pública que atende 200 alunos, todos de nível socioeconômico médio ou baixo”, afirma nota do Movimento Todos Pela Educação.
 
Levando em conta a rede pública, a federal tem 36 unidades entre as 100 primeiras. O restante é de escolas técnicas, como as Etecs de São Paulo, e unidades de aplicação ligadas a universidades ou fundação municipal.
 
As redes estaduais concentram 84% das matrículas no ensino médio -a mais bem colocada dessas escolas, no entanto, está só em 1.700º  lugar na lista geral do país.
Trata-se da escola Gomes Carneiro, de Porto Alegre (RS), que obteve nota superior à média da rede privada.
 
A diretora, Susana Souza, 50, aponta a baixa rotatividade de professores e envolvimento dos pais como parte do sucesso. Mas dificuldades, como atraso da verba de merenda, preocupam. “Nossa forma de protestar é mostrando o nosso melhor”, diz.
 
No anúncio dos dados, representantes do MEC voltaram a defender o projeto de Temer (PMDB) de reforma do ensino médio -que prevê, por exemplo, a diversificação do currículo. Antes prevista para 2018, a implementação é cogitada agora para 2019.

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