Casos de raiva em cavalos e bois disparam na Bahia e acendem alerta em órgãos de saúde e agropecuária

O avanço de casos de raiva em animais na Bahia tem acendido um sinal de alerta entre autoridades da Vigilância Epidemiológica. Embora os números ainda estejam dentro da média histórica, o crescimento expressivo entre equinos e a manutenção de casos em bovinos têm motivado monitoramento mais intenso por parte da Secretaria da Saúde da Bahia (Sesab) e da Agência de Defesa Agropecuária da Bahia (Adab).
Entre janeiro e abril deste ano, os registros de raiva em cavalos subiram de 2 para 12 — um salto de 600% em relação ao mesmo período de 2024. O número já supera em 50% o total de casos em todo o ano passado. Entre bovinos, o patamar de 12 registros se manteve, mas a preocupação continua alta por conta do tamanho do rebanho no estado. No geral, os casos positivos em animais somam 44 até agora, frente a 37 no ano passado — um aumento de 18,9%.
Uma das hipóteses para o aumento é o relaxamento da vacinação em animais de produção após o fim da obrigatoriedade da imunização contra a febre aftosa, em 2024. Segundo a coordenadora de imunização da Sesab, Vânia Rebouças, muitos produtores costumavam vacinar contra raiva junto com a campanha da aftosa. Com a suspensão desta última, cresceu a possibilidade de descontinuidade na proteção contra a raiva. “Todos os animais com confirmação de raiva estavam há dois anos sem vacinação”, confirmou o fiscal agropecuário Paulo Ferraz, da Adab.
Além da falta de imunização, o contato direto com animais infectados — especialmente equinos, frequentemente tratados como animais de estimação — aumenta o risco de transmissão. A Adab reforça a orientação para que produtores não manipulem a boca de animais com sintomas neurológicos, como dificuldade de locomoção ou salivação excessiva, pois a raiva é transmitida pela saliva.
Outro foco de preocupação são os morcegos hematófagos, principais vetores da doença entre herbívoros. O aumento na circulação desses morcegos é natural e segue ciclos populacionais. Ainda assim, a Adab alerta para sinais como mordidas nos animais, conhecidas como “esfoliações”, que indicam repetidos ataques dos morcegos. A recomendação é acionar imediatamente a agência para controle das colônias.
Na capital, Salvador, também houve registros. Até abril, dois casos foram confirmados — um em morcego e outro em equino — e pelo menos mais um já é contabilizado em maio. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, a maioria dos morcegos encontrados na cidade não pertence à espécie hematófaga, mas todo morcego deve ser evitado e nunca tocado.
Em humanos, a raiva permanece letal em praticamente 100% dos casos. A vacina está disponível apenas para grupos específicos ou em situação de pós-exposição. O último caso humano na Bahia ocorreu em 2017, em Paramirim, após ataque de morcego. No Brasil, neste ano, duas mortes por raiva foram registradas — uma em Pernambuco e outra no Ceará, ambas transmitidas por saguis.
Com a atualização cadastral obrigatória dos rebanhos marcada para ocorrer entre 1º de julho e 15 de agosto, a expectativa das autoridades é reforçar a vigilância e mensurar o real índice de cobertura vacinal contra a raiva no estado. Para isso, os produtores deverão apresentar nota fiscal da vacina na unidade da Adab mais próxima.
A principal recomendação segue clara: vacinar animais de produção, evitar contato com animais silvestres e notificar qualquer sintoma ou situação suspeita. Em caso de acidente com animal possivelmente infectado, a orientação é procurar uma unidade de saúde imediatamente para iniciar a profilax