Os Ternos de Reis levam beleza por onde passam

Estrelas que brilham, Ciganas do Egito e Baianas que rodopiam suas saias coloridas, Saluas, Samaritanas, Espanholas, Camponesas, Pastoras, Floristas e a Porta Estandarte no abre-alas. O cortejo que reúne essas e outras tantas alegorias anuncia o ritual de louvor ao nascimento do Menino Jesus, é o Dia de Reis.

Datado de 06 de janeiro, o festejo é inspirado na jornada bíblica dos três Reis Magos – Gaspar, Melchior e Baltazar – que foram a Belém encontrar o Menino Jesus para lhe presentear com ouro, mirra e incenso.

Também conhecida como Folia de Reis, Risado de Reis ou Noite de Reis, a tradição foi trazida pelos colonizadores portugueses e tornou-se uma das mais importantes manifestações do folclore brasileiro, sendo comemorada em várias regiões do país com apresentação dos Ternos de Reis, grupos que simulam o a viagem dos Reis Magos.

A riqueza estética é de encher os olhos, roupas e acessórios salientam a beleza da apresentação que mistura fé e tradição e que é regada a cantigas de louvor. Cada Terno é, geralmente, composto por mais de 30 pessoas divididas em alas alegóricas que simbolizam figuras do catolicismo e da cultura popular de cada região.

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Do período colonial até o ano de 1940, aproximadamente, a celebração era dominada por pessoas da alta sociedade, mas o cenário mudou como explica a pesquisadora Sue Ribeiro. “Somente pessoas da nobreza poderiam desfilar, por isso as pessoas mais humildes passaram a fazer sua própria celebração, criar seus próprios Ternos. Com isso a festa foi caindo no gosto popular”.

Na Bahia, o Dia de Reis é a quarta celebração do Calendário de Festas Populares. O estado possui 42 Ternos catalogados, sendo seis na capital: Rosa Menina, do bairro de Pernambués; Estrela do Oriente, da Liberdade; As Ciganinhas, da Suburbana; Terno da Lua, de Brotas; Terno do Sol, da Boca do Rio e Terno da Anunciação, da Lapinha.

Na década de 50, o número de grupos chegava a 70 em todo o estado. Mas, segundo Sue, fatores como: morte de dirigentes, falta de apoio financeiro e ausência de matéria sobre a importância das festas populares nas escolas, fizeram com que a quantidade declinasse ao longo do tempo. “É difícil manter as tradições populares, principalmente porque os jovens não se interessam em dar continuidade, e os saberes antigos se vão junto com os mais velhos”, lamenta a estudiosa.

Rosa Menina, o mais antigo

O Terno de Reis precursor em Salvador é o Rosa Menina. “Meu pai era muito ligado à natureza e gostava muito de flores, por isso colocou esse nome”, explica Isabel Nascimento, atual coordenadora do grupo.

Criado em 1945, no bairro de Brotas, pelo carpinteiro Silvano do Nascimento e abraçado pela costureira Luíza Cruz, que viria a ser sua esposa depois que Silvano se mudou para o bairro de Pernambués, o Terno Rosa Menina virou tradição familiar.

Os nove filhos do casal participavam da elaboração do desfile ano após ano. Depois do falecimento dos pais, a menina Isabel, que desde os 12 anos passava as noites de Natal e Réveillon costurando e organizando o desfile, passou a ser a responsável por manter o legado da família Nascimento.

Hoje, aos 49 anos com dois filhos e dois netos, que participam do desfile, Isabel afirma com veemência que não pretende deixar a herança dos pais se perder. “É algo nosso que faço questão de manter. É nossa singela homenagem ao Menino Jesus”, diz.
Terno da Bailarina, tradição no interior

No município de Saubara, no Recôncavo, o Terno da Bailarina completa 117 anos de resistência em 2017, apesar de alguns intervalos de apresentação.

Resgatado em 2005 por Nilo Trindade, de 50 anos, a tradição secular estava se perdendo, quando os mais antigos viram no professor a oportunidade de retomar a tradição. “Passei a trabalhar com pessoas da melhor idade na Secretaria de Ação Social da cidade e elas começaram a me pedir para resgatar o Terno. Então, passei a pesquisar sobre sua história, catalogar as cantigas e lá se vão dez anos”, conta o educador.

No Terno da Bailarina desfilam homens e mulheres com idade entre 60 e 90 anos, como Dona Aurelita Rocha, de 65, que teve a oportunidade de participar pela primeira vez do Dia de Reis há cinco anos. “É um desfile muito luxuoso. Eu gosto muito. Desfilo como Porta Estandarte”, conta orgulhosa.

Anunciação, o anfitrião de Salvador

Criado há 25 anos pelo Padre Pinto, na Paróquia da Lapinha, o Terno da Anunciação é o anfitrião da Festa de Reis na capital. O cortejo sai com mais de 70 pessoas que anunciam a chegada dos três Reis Magos e abre caminho para os desfiles dos demais Ternos que participam da celebração.

Há mais de uma década à frente do Terno, após a saída do Padre Pinto, Naíde Simas, de 70 anos, organiza o desfile junto com uma comissão composta por cerca de 10 pessoas “por amor”, segundo ela, “Quando o Padre Pinto saiu me vi na obrigação de dar continuidade ao trabalho que ele desenvolveu com tanto carinho e que virou tradição em nossa comunidade”. Mas, de acordo com Naíde os obstáculos são muitos, “Não é uma tarefa fácil. Principalmente porque falta verba para produzir. Mas eu tenho muito amor pelo Terno e fé em Deus para superar as dificuldades”, finaliza.

O tríduo preparatório da Festa de Reis começa no dia 03 de janeiro e segue até o dia 05, na Paróquia da Lapinha. Este ano, a festa tem como tema “Identidade de Jesus nos presentes de reis”.

A cada noite um sub-tema conduzirá a celebração: “Incenso, Jesus é Deus”, no dia 03, com missa às 19h30h; “Mirra, Jesus Salvador pelo martírio”, no dia 04, e missa também às 19h30h e “Ouro, Jesus é rei” no dia 05, com missa às 18h. Ainda no dia 05 (quinta-feira), às 19h, o Terno da Anunciação dá o pontapé inicial a série de apresentações dos grupos. O cortejo vai da Paróquia da Lapinha ao Largo da Soledade.

No dia 06 de janeiro, Dia de Reis, o encontro dos fiéis é na igreja matriz, às 6h, para a alvorada, em seguida tem celebração, às 7h30h. A Missa Solene será presidida pelo bispo auxiliar, Dom Marco Eugênio Galrão, às 19h30. A Folia se despede, às 20h, com o desfile do Terno da Anunciação.

E assim a tradição secular dos Ternos de Reis vai sendo mantida, homens e mulheres, famílias inteiras envoltos pela fé, orquestrados pela alegria das canções, alimentados pela renovação do sentimento de dever cumprido. Isso é cultura!

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