Como Donald Trump passou de celebridade a presidente dos Estados Unidos
Menos de 17 meses. Este foi o tempo que Donald J. Trump precisou para chegar à Casa Branca, superando adversários que perseguiam este sonho há anos. Mas a ambição política deste bilionário remonta a 1988.
Foi no palco do programa de televisão de Oprah Winfrey. “Se eu disputasse, teria grandes chances de ganhar, porque as pessoas estão cansadas de ver os Estados Unidos serem passados para trás”, disse, na ocasião, com uma voz suave o promotor imobiliário de cabelo amarelo, cujo sorriso ocupava com frequência as capas dos tabloides nova-iorquinos.
O autor do best-seller “The Art of the Deal” tinha então 42 anos, e a semente estava plantada.
Lançamento
Nova tacada em 1999. Desta vez, Donald Trump deu um passo mais largo. Deixou o partido republicano e planejava brigar pela nomeação do pequeno partido da Reforma, com um discurso de defesa dos “trabalhadores”. Mas jogou a toalha quatro meses depois.
Apesar da desistência, foi nesta época que o magnata moldou sua retórica patriótica e de tendências protecionistas que tanto sucesso fez 17 anos depois.
O bilionário denunciava os países que “enganavam” os Estados Unidos no comércio internacional: Alemanha, Japão e… França, “um parceiro terrível”.
Avanço rápido para junho de 2015, com a corrida para a Casa Branca em pleno andamento. Hillary Clinton e Bernie Sanders entre os democratas, e 11 republicanos, incluindo Jeb Bush, Marco Rubio e Ted Cruz já disputavam a nomeação de seu partido.
No hall da Trump Tower, em Manhattan, Trump anuncia sua candidatura e promete “tornar a América grande de novo”. Um mês antes, não constava nas pesquisas. Sua candidatura faz rir comentaristas e diplomatas estrangeiros.
Assumiu a liderança nas pesquisas em julho. Sua candidatura se torna, de fato, um grande sucesso: as controvérsias não faltam, os ataques chovem, mas Monsieur Trump jamais se desculpa e sempre ocupa as telas dos canais de informação.
A classe política sai ofuscada quando, em 7 de dezembro de 2015, ele propõe fechar as fronteiras aos muçulmanos, pouco após os atentados de Paris. Cresce rapidamente nas pesquisas: 25, depois 30 e, por fim, 35% dos simpatizantes republicanos conquistados.
As primárias
Na véspera do lançamento das primárias, em fevereiro de 2016, os republicanos ditos “tradicional” estão convencidos de que o candidato populista – isto é, antissistema e anti-elites – alcançaria o teto de 30 ou 35% dos votos, e que, finalmente, alguém deveria unir o resto do partido para vencer Donald Trump em um duelo.
Mas o partido está em guerra e como se levado pela onda anti-establishment encarnada por Donald Trump e Ted Cruz, um senador do Tea Party. Em 1º de fevereiro de 2016, o texano vence o primeiro round em Iowa.
Para surpresa de todos, o que vem depois, nas primárias, é uma disputa de uma rara violência entre estas duas personalidades, criticadas pelo resto do partido.
Milhões são gastos, em vão, na campanha “todos, menos Trump”. Em maio, o jogo vira para o bilionário.
Marcial, surge, na sua indicação pelo partido em julho, proclamando, “A América primeiro!”
Objetivo: Hillary Clinton
Sua tática de guerra não muda para vencer a candidata do partido democrata, melhor financiada e apoiada pelo popular Barack Obama.
O republicano capitaliza sobre a onda de descontentamento que varre os Estados Unidos, e, gradualmente, reúne seu partido.
Diante de centenas de milhares de pessoas que vêm para ouvi-lo em seus comícios, ele retrata Hillary Clinton como um elitista ligada a Wall Street, advogada do status quo e pede sua prisão pelo caso de uso de e-mails privados quando secretária de Estado.
Com 70 anos, ele explora sem escrúpulos o mal estar sofrido em setembro pela ex-secretária de Estado de 68 anos.
Ainda assim, permanece atrás nas pesquisas. Sua rival domina os três debates televisivos, e ele se vê em meio a várias polêmicas – com os pais de um soldado muçulmano morto em combate, com uma ex-Miss Universo, e sobre a declaração de seu imposto de renda e a sua fundação.
Faltando um mês para a eleição, o partido republicano parecia abertamente resignado a perder a Casa Branca após a exumação de um vídeo de 2005, em que Donald Trump se vangloria de pegar mulheres com sua fama e dinheiro.
Apenas nas últimas semanas que a maré vira. Em 7 de outubro, o WikiLeaks começa a publicar mensagens vazadas do presidente da equipe de campanha democrata, John Podesta, mostrando ao público arquivos da candidatura de Hillary, com tudo o que essas trocas de emails podem revelar sobre o cinismo e pensamentos ocultos de uma organização política.
Combinado com o renascimento surpresa do caso dos e-mails pelo FBI, a situação é devastadora para a candidata, agora inaudível.
A combinação das polêmicas anti-Hillary e a mensagem de mudança de Donald Trump permite ao magnata se destacar. O mundo descobre com espanto que ex-eleitores brancos de Barack Obama nas classes populares votaram um pouco mais no candidato republicano que nas eleições anteriores.
O bilionário também se surpreende. “Eu pensei que tinha perdido”, contou, lembrando que alugou conscientemente uma pequena sala para a noite eleitoral em Nova York.