A tecnologia matou o amor e o romance?

O maior pico de divórcios nos Estados Unidos aconteceu logo depois da Segunda Guerra Mundial, quando muitos casamentos que tinham sido celebrados de forma apaixonada e dramática, antes e durante o conflito, perderam a magia.

Ou o sentido. Desde os anos oitenta o número de casamentos, registrados em cartórios, cai de forma sustentada. Isso é verdade tanto nos Estados Unidos como no Brasil e na maioria dos países. Certo é que ninguém duvida disso: há cada vez menos casamentos. E muitos culpam a tecnologia por essa “morte do amor”. A tecnologia teria possibilitado um excesso de escolhas e de alternativas ao casamento.

A premissa é que a facilidade de acesso a potenciais parceiros, através de redes sociais e sites de encontro, tornou descartável a arte da conquista e do romance. As mensagens de texto substituíram as cartas escritas à mão em papel perfumado. Os perfis, chats, memes, posts, vídeos ao vivo, canais de YouTube, tornaram inúteis os longos telefonemas e encontros em cafés e em bares – está tudo lá escarrapachado, não é preciso interagir com alguém para saber o que pensa, do que gosta, o que quer parecer. Boas partes da vida social passaram a ser digitais, sem correspondência no mundo físico. E essa abundância de amigos e parceiros virtuais, criou um vazio emocional de que muita gente se queixa. “É tão difícil encontrar alguém para um relacionamento sério”, ouço dizer com frequência. “Ninguém quer assumir compromissos”, é outra afirmação encontrada constantemente. Há uma legião de quarentões e cinquentões, sonhando com amores hollywoodianos, suspirando pela simplicidade do passado.

A tecnologia não matou o amor nem a felicidade

É fácil por as culpas na tecnologia, a mesma que usamos avidamente todos os dias, para justificar algo que tem raízes muito mais profundas. A tecnologia não matou o amor. A tecnologia não matou a felicidade. A noção que temos de amor e de felicidade é que mudaram radicalmente nas últimas décadas. E ainda não sabemos como conciliar essa transformação.

As mudanças do papel do casamento

Historicamente, o amor não era uma condição imprescindível para o casamento. Era um contrato criado para formar alianças entre famílias, juntar heranças, cimentar posições de classe, corrigir passados dúbios e fornecer rendimentos à família. O casamento não era o resultado natural de uma paixão avassaladora. Pelo contrário, as grandes paixões ocorriam fora do casamento. Os papéis do homem e da mulher na sociedade estavam bem definidos e o casamento era um instrumento essencial para isso.

Os movimentos feministas das décadas de 60 e de 70 abriram um mundo de oportunidades para as mulheres, desde a universidade a carreiras que antes lhes eram vedadas. O mundo alargou-se. Surgiram corredores aéreos por toda a parte, viajar tornou-se acessível. As condições de vida melhoraram e milhões entraram na classe média. O fervor religioso esmoreceu no ocidente. O sexo fora do casamento deixou de ser tabu para as mulheres. A noção de felicidade mudou. O casamento tornou-se uma parceria amorosa entre iguais.

Antes, o casamento era só segurança

Antes procurava-se apenas estabilidade e segurança no casamento. Agora, é estabilidade, segurança, aventura e paixão – tudo isso com um só parceiro. É mais difícil de encontrar. O grau de exigência é muito maior. As gerações anteriores casavam cedo e mais facilmente as pessoas ficavam juntas, mesmo que ocorressem pancadas e desentendimentos sérios. Este fervor que passaram a ter por romances hollywoodianos, não tem paralelo na história.
A tecnologia não matou o amor. A tecnologia não matou o romance. Nós é que mudamos de opinião e comportamento em relação a eles.

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