Camaçari: vítimas de explosão em farmácia também estão entre indiciados por homicídios

 Camaçari: vítimas de explosão em farmácia também estão entre indiciados por homicídios

Quatro pessoas que estavam dentro da farmácia Pague Menos que pegou fogo em Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador, foram indiciadas pelo crime. Segundo a polícia, duas delas assumiram o risco das mortes e as outras duas foram negligentes com o trabalho que estavam desenvolvendo. A explosão, seguida de incêndio e desabamento, deixou dez mortos e nove feridos em novembro de 2016. No total, oito pessoas foram indiciadas.

A gerente da farmácia e três funcionários que trabalhavam na reforma da loja foram responsabilizados. Eles sofreram ferimentos no dia do incêndio. O diretor e o gerente regional da Pague Menos e os donos das empresas de manutenção Chianca, que fazia reforma no telhado, e AR Empreendimentos, que fazia reparos no sistema de ar condicionado, também foram indiciados. A polícia concluiu que eles desrespeitaram regras indispensáveis para a segurança dos clientes e funcionários.

Os indiciados são: Josué Ubiranilson Alves, diretor da empresa Pague Menos; Augusto Alves Pereira, gerente regional da Pague Menos; Maria Rita Santos Sampaio, gerente da farmácia incendiada; Erick Bezerra Chianca, sócio da empresa de manutenção Chianca; Rafael Fabrício Nascimento de Almeida, sócio da empresa de manutenção AR Empreendimentos; e Luciano Santos Silva, técnico em refrigeração pela AR Empreendimento.
Esses seis vão responder por homicídio por dolo eventual e tentativas, ou seja, não tinham a intenção de matar, mas assumiram os riscos. Dois funcionários da Chianca, Fernando Vieira de Farias e Edilson Soares de Souza, foram indiciados por homicídio culposo (quando não há a intenção de matar). A polícia acusa os dois de terem sido negligentes durante o serviço. A pena por cada homicídio doloso varia de 6 e 12 anos de prisão. Foram dez vítimas.
Irregularidades
A titular da 18ª Delegacia (Camaçari), Thaís Siqueira, afirmou que ouviu mais de 60 pessoas envolvidas no caso, entre vítimas e testemunhas. O inquérito final contém 350 páginas e foi encaminhado para o Ministério Público da Bahia no final de março. Ela contou que a perícia encontrou uma série de irregularidades no serviço que estava sendo realizado na farmácia.
“Houve um dolo eventual. Eles assumiram, indiretamente, o risco de produzir o resultado. A loja deveria estar fechada e os produtos inflamáveis tinham que ter sido retirados porque também tinha funcionários no local, então, era preciso pensar na segurança deles. Dez pessoas morreram e outras nove ficaram feridas, algumas com sequelas graves. Foi uma das maiores tragédias na cidade de Camaçari e eles assumiram o risco de produzir esse resultado”, afirmou.

No dia da explosão, funcionários da Chianca faziam reformas no telhado da farmácia e outros, da AR Empreendimentos, trabalhavam na manutenção do sistema de gás e ar condicionado do estabelecimento. Os peritos concluíram que, primeiro, houve uma explosão provocada por um vazamento de gás, seguida de um incêndio e, depois, do desabamento do telhado.
Segundo o coordenador de Engenharia Legal do Departamento de Polícia Técnica (DPT), Eduardo Rodamilans, o ambiente usado para fazer as reformas não era o adequado. Ele disse também que as empresas não apresentaram a Permissão de Trabalho (PT), documento elaborado por um engenheiro de segurança do trabalho que avalia os riscos ao redor da obra, levando em consideração o trabalho que será realizado e o material que será utilizado.

Os peritos encontraram no local gás GLP (gás de cozinha). “Para fazer uso desse tipo de gás na reforma eles precisavam interditar a farmácia, retirar os produtos inflamáveis e ter uma área de ventilação, além de um medidor para verificar um possível vazamento de gás, e o nível desse vazamento. Como isso não foi feito, existia a possibilidade de ocorrer uma explosão. Eles assumiram o risco”, afirmou.
Dois dias antes da tragédia, o condicionador de ar do local explodiu. Os funcionários da farmácia já haviam comentado com familiares que estavam preocupados com o andamento das obras de reparo. Em dezembro, o Ministério Público do Trabalho (MPT) convocou os representantes da farmácia para saber detalhes da segurança no estabelecimento.

Posicionamento
Em nota, a Pague Menos informou que os funcionários indiciados não foram responsáveis pelo incidente e que isso ficará provado no decorrer o processo. A empresa disse também que está prestando apoio às vítimas e cobrindo as despesas médicas, estruturais e rotineiras. Os funcionários aptos para trabalhar foram remanejados para outras unidades. Confira a nota na íntegra:
A Pague Menos presta apoio irrestrito e incondicional aos funcionários, clientes e familiares, na medida das necessidades, cobrindo despesas médicas, estruturais e rotineiras. Mantem uma linha telefônica exclusiva de atendimento e profissionais designados para contatos diários com os que estão em recuperação. Os funcionários lotados na unidade localizada na rua Getúlio Vargas, aptos ao trabalho, foram remanejados para outras unidades da rede e já estão em plena atividade. A Companhia colaborou de todos os modos possíveis com as investigações, forneceu todos os dados e esclarecimentos necessários, bem como atendeu prontamente as demandas das autoridades para elucidação dos fatos. Diante da conclusão apresentada, a Pague Menos reitera a convicção na total isenção de responsabilidade dos funcionários citados, o que será provado até a conclusão do processo.
Explosão
O incêndio atingiu a loja da rede Pague Menos, na Avenida Getúlio Vargas, em um dia de quarta-feira, 23 de novembro 2016. As chamas começaram por volta das 13h50, quando o estabelecimento estava cheio de clientes e funcionários. Alguns deles conseguiram escapar com vida e sofreram pequenas escoriações. Nove ficaram feridos e dez vítimas morreram carbonizadas.
Alguns dos machucados foram socorridos para a Unidades de Pronto Atendimento (UPA) do município e para o Hospital Geral de Camaçari. Quatro deles precisaram ser transferidos para o Hospital Geral do Estado (HGE), em Salvador. O helicóptero do Grupamento Aéreo da Polícia Militar (Graer) também foi usado no resgate de duas das vítimas em estado grave.

Correio

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