Câmeras dos bancos serão monitoradas pela central de segurança de Lauro de Freitas
Projeto piloto da Febraban vai permitir que agentes de segurança tenham acesso às imagens captadas no exterior das agências
O município de Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador, sai na frente a partir desta sexta-feira (1º). É lá, onde funcionam 22 agências bancárias, que a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) implanta um projeto piloto para espelhamento de imagens das câmeras de monitoramento dos bancos com as forças de segurança pública. Os servidores da segurança que trabalham no município terão acesso, em tempo real, às imagens captadas na parte externa das agências.
“As normas de segurança dos bancos determinam que a gente tem que colocar câmeras voltadas para a calçada. Isso ajuda a monitorar um carro na rua, quem está dando cobertura para um assalto, mas essas câmeras também estão observando o sujeito que rouba um carro no sinal e ajuda a tomar uma decisão mais rapidamente”, explica o diretor de Operações e Negócios da Febraban, Leandro Vilain.
Lauro de Freitas foi escolhida a primeira cidade baiana para abrigar o piloto do projeto em parceria com a Febraban. A Federação mantém também uma parceria com a Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA), que deve inaugurar, ainda em julho, o Centro Integrado de Gestão de Emergências (Cige), onde imagens de câmeras de segurança de espaços públicos e também privados serão observadas em tempo real.
“Escolhemos Lauro de Freitas porque o município já tem uma estrutura adequada para receber essas imagens”, explica Vilain. Ele acrescenta que não basta a disponibilidade dos bancos em oferecer as imagens: o cabeamento entre a câmera e a central onde as imagens serão recebidas é de responsabilidade do estado ou do município.
Gestão Integrada
Desde 2013, Lauro de Freitas possui um Gabinete de Gestão Integrada (GGIM), que funciona na sede da Guarda Municipal, em Itinga. Lá, as equipes da Guarda e da Polícia Civil e Militar trabalham em uma central de monitoramento, atendendo ás demandas de segurança 24 horas por dia.
“Quando nós assumimos, em 2013, a cidade já tinha uma lei que permitia aos bancos espelharem suas imagens com os órgãos de segurança municipal. O prefeito convidou os representantes dos bancos para uma reunião e o Itaú saiu na frente porque já tinha um projeto chamado Câmera Cidadã, então já começou a operar com a gente”, conta o superintendente de Gestão Integrada do município, Daniel Brito.
O município também criou um Disque-Denúncia próprio, através do 153, onde os chamados também são atendidos no GGIM. Hoje, o Itaú já compartilha as imagens e o Santander já concluiu as instalações. Os demais bancos estão em fase de implantação do sistema, segundo Daniel.
“Não houve necessidade de contratar novos serviços, por hora, porque nós já operamos 24 horas por dia sob demanda. Quando surge uma demanda, o operador dispara o chamado para a central de rádio e para um grupo que criamos, utilizando a plataforma do WhatsApp, com todos os comandantes da Polícia Militar, os delegados de Polícia Civil, a juíza criminal, os promotores e o prefeito. Quando a informação chega, já é distribuída para todos”, diz Daniel.
Uma vez que o município ou o estado tenha a estrutura necessária, cabe aos bancos instalarem as próprias câmeras em um equipamento chamado DVR, que permite que as imagens sejam vistas em uma rede exclusiva para as forças de segurança. Isso porque o circuito de câmeras dos bancos funciona com a mesma rede interna que permite as transações bancárias. Permitir que haja acesso externo a essa rede significaria abrir espaço para a chance de ataques de hackers.
Observação
Algumas agências bancárias já disponibilizam imagens de suas câmeras externas para as forças de segurança pública que atuam em Salvador. Mas um projeto como o que acontecerá a partir desta sexta-feira (1º) em Lauro de Freitas ainda não vai chegar imediatamente a Salvador, segundo Vilain.
“A gente vai ter que saber quais os resultados em Lauro de Freitas, porque no momento em que eu jogo as imagens, eu também preciso de mais gente para olhar as câmeras. Vamos precisar de pelo menos um ano de observação, porque a gente tem que saber onde a gente quer chegar. Eu tenho um enorme desejo de a gente entrar logo em Salvador”, disse o diretor.
Projetos assim já foram implantados em Campinas e mais quatro ou cinco municípios brasileiros. Para Vilain, a grande vantagem é auxiliar na investigação dos crimes. “A gente acredita muito no processo investigativo, porque as pessoas têm a tendência a dizer que tem que botar mais polícia na rua. Eu não sei se é essa a melhor resposta. As polícias têm que estar capacitadas, têm que ter a estrutura suficiente para investigar, identificar e prender o bandido e, o mais difícil, mantê-lo preso”, diz.
Segundo Daniel Brito, a utilização das imagens das câmeras dos bancos já permitiu a recuperação de R$ 60 mil levados em um assalto na cidade. A prefeitura também estimula, via decreto, que qualquer cidadão possa espelhar suas imagens de câmeras voltadas para a rua com o Gabinete de Gestão Integrada.
Investimento
No ano passado, a Febraban investiu R$ 9 bilhões em segurança privada, sem considerar o valor utilizado com segurança de carros-fortes. O montante foi utilizado para pagar pelos 68 mil seguranças privados nas 23 mil agências bancárias distribuídas por todo o país.
Segundo a Febraban, os bancos, assim como a sociedade, são vítimas da violência. Em 2015, 17 instituições financeiras do país registraram 393 assaltos ou tentativas de assalto, contra 385 em 2014. Já no ano 2000, foram registrados 1.903 assaltos e tentativas. Este ano, segundo a SSP-BA, entre 1º de janeiro e 19 de junho, foram 38 roubos a banco no estado, contra 83 no mesmo período de 2015.
“A gente tem feito o nosso papel. Em 2000, nós investimos R$ 3 bilhões e no ano passado, o investimento foi de R$ 9 bilhões. Nós triplicamos o investimento ao longo desses 15 anos. Isso demonstra o nosso apetite, a nossa preocupação, mas o problema da segurança é das forças de segurança, não é para colocar no setor privado a responsabilidade disso”, disse Vilain.
A SSP-BA ainda não se manifestou sobre a participação no projeto piloto.