Intervenção federal no Estado do Rio começa em presídio
A população aguardava tropas e tanques nas ruas, mas a primeira operação supervisionada pelo comando da intervenção federal na segurança pública do Rio aconteceu, ontem, em um presídio. Algumas horas depois de o Senado ter aprovado o decreto assinado pelo presidente Michel Temer na última sexta-feira, um comboio do Exército se dirigiu à Penitenciária Milton Dias Moreira, em Japeri, onde detentos fizeram uma rebelião, no último domingo. Durante uma varredura que começou no início da manhã e se estendeu até as 14h, foram encontrados 48 celulares e barras de ferro dentro de celas. A cadeia não tinha detectores de metais funcionando, e, para piorar, nunca contou com bloqueador de sinal de telefonia. A corregedoria da Secretaria de Administração Penitenciária abriu uma sindicância, em acordo com o que autoridades federais estabeleceram como prioridade da atuação militar no estado: o combate à corrupção.
A operação seguiu diretrizes da Garantia da Lei e da Ordem (GLO) decretada em 28 de julho do ano passado, mas, na prática, foi uma clara resposta à rebelião que, no domingo, durou oito horas. Na ocasião, um grupo armado, depois de uma frustrada tentativa de fuga, fez 18 reféns, entre agentes penitenciários e “faxinas” — como são chamados os detentos que têm autorização para sair das celas. Três presos ficaram feridos numa troca de tiros com policiais militares. Ontem, uma tropa de 250 militares foi enviada ao presídio, sob a supervisão do general de divisão Mauro Sinott Lopes, segundo homem na hierarquia da intervenção federal. Ele trocava informações com o secretário de Administração Penitenciária, David Anthony Gonçalves, que coordenou o trabalho de cem inspetores de segurança e 30 integrantes do Grupamento de Intervenção Tática do órgão. O general Walter Souza Braga Netto, nomeado interventor, passou o dia em Brasília, onde planeja ações para o Rio.
A tropa do Exército chegou ao presídio causando impacto: os militares posicionaram dezenas de tanques ao redor do Milton Dias Moreira. Soldados ficaram perfilados, e militares disponibilizaram detectores de metais para a varredura. Segundo uma fonte do governo federal, “o comando da intervenção sabe que varreduras nas cadeias são cruciais para mostrar quem manda agora na segurança pública do Rio”.
Na última sexta-feira, penitenciárias estaduais e federais entraram em alerta máximo depois que serviços de inteligência detectaram “riscos de instabilidade”. De acordo com o ministro da Justiça, Torquato Jardim, era esperada uma reação de facções criminosas à intervenção.
— Há um clima de permissividade nas unidades prisionais do Rio, algo que dá aos chefes de facções criminosas trabalharem livremente com seus negócios ilícitos, como comprar armas e drogas, ampliando territórios. Sabemos que estamos mexendo num caldeirão em ebulição — disse a fonte do governo federal.
O secretário de Administração Penitenciária, David Anthony Gonçalves, afirmou que varreduras com o apoio do Exército serão realizadas em outros presídios. Segundo ele, a parceria é fundamental, pois aumenta a capacidade de revistas de detentos e celas. Além de detectores de metais, agentes do órgão estadual receberam cães farejadores do Exército para a operação no presídio de Japeri. Uma grande quantidade de maconha e cocaína foi apreendida.
— A Secretaria de Administração Penitenciária tem cães farejadores, mas, quando eles são submetidos a longos períodos de trabalho, perdem a eficácia. Com os animais do Exército, pudemos obter um melhor resultado. Os inspetores de segurança e os agentes do nosso Grupamento de Intervenção Tática ajudam nas varreduras, mas não tínhamos efetivo suficiente para ampliar o perímetro de ação, o que conseguimos fazer com o apoio militar. Estamos dando uma resposta à população depois da rebelião de domingo. Outras ações estão por vir — afirmou o secretário, acrescentando que os soldados do Exército não realizaram revistas pessoais.
David Anthony Gonçalves assumiu a Secretaria de Administração Penitenciária no último dia 24, após o Ministério Público do Rio receber denúncias de privilégios na Penitenciária Frederico Marques, onde o ex-governador Sérgio Cabral cumpria pena. Ele disse que a varredura no Milton Dias Moreira só foi realizada ontem porque serviços de inteligência do estado precisavam de 48 horas para levantar pistas sobre drogas e celulares escondidos no presídio.
— No domingo, a prioridade era liberar os reféns e retomar o controle da unidade. A enfermaria, a escola e vários equipamentos do presídio foram destruídos. Decidimos pedir apoio ao Exército, que nos atendeu rapidamente — disse o secretário.
Ainda na noite do último domingo, um helicóptero da Polícia Militar munido de um sensor de calor — equipamento que detecta movimentos de pessoas pela temperatura do corpo — sobrevoou a cadeia. Foi descoberto que grupos de presos chegavam a pontos de difícil acesso, nos quais policiais militares encontraram duas pistolas, um revólver e uma granada pouco depois do fim da rebelião.