PCdoB 96 anos: É preciso radicalizar a democracia, diz Manuela
Sábado, 24 de março de 2018, foi mais um dia histórico dentre os muitos que o PCdoB vivenciou em seus 96 anos. O ato nacional de aniversário do partido realizado em Porto Alegre deixou claro que o PCdoB quer unificar a esquerda e o campo popular e democrático em torno de um projeto de nação capaz de superar a crise desencadeada pelo golpe de 2016. Para isso, oferece uma de suas principais lideranças, a deputada estadual gaúcha Manuela D’Ávila, como pré-candidata à Presidência da República.
O ato deste sábado, que reuniu cerca de 800 pessoas, foi carregado de emoção. Foi também um “abraço” da militância comunista gaúcha na sua principal liderança que é a pré-candidata do partido na eleição presidencial. O ato reforçou o importante papel desempenhado pelos comunistas no movimento de resistência aos atuais retrocessos ocorridos no país.
Manuela destacou que 2018 é o ano da resistência democrática. “No tabuleiro da vida e do desenvolvimento, voltamos algumas casas”, disse, defendendo que “o povo seja livre e soberano para decidir o futuro da nação”. E acrescentou: “É preciso radicalizar a democracia para vencer o golpe e ocupar o poder; do contrário, não conseguiremos vencer a elite entreguista”.
Manuela resgatou o papel de gaúchos que lutaram pelos direitos do povo — como Sepé Tiarajú, Luis Carlos Prestes, Getúlio Vargas, Leonel Brizola, Jango, João Carlos Haas Sobrinho, entre outros — como forma de homenagear a herança dos gaúchos para o avanço do país e como contraponto às manifestações fascistas registradas em algumas cidades do estado durante a passagem da caravana do ex-presidente Lula nesta semana. Manuela acentuou em sua fala que para ela e o PCdoB, a luta em defesa da democracia hoje para pelo direito de Lula ser candidato.
Ao falar sobre a necessidade de uma frente ampla e popular em defesa do Brasil, Manuela referiu-se a aliança entre PCdoB e PT. “Somos aliados porque trilhamos juntos a luta pela emancipação do nosso povo”, disse, lembrando que, ainda que os partidos possam ter candidaturas distintas, trata-se de uma “aliança indissolúvel”.
A pré-candidata também lembrou que o golpe é marcado pela misoginia e o machismo, e não foi apenas para tirar a presidenta Dilma Rousseff num processo de impeachment sem crime, mas um ato continuado, como um sequestro, comparou, do qual fazem parte as reformas trabalhista e da Previdência, a Emenda Constitucional 95, a entrega do pré-sal aos interesses estrangeiros, a venda de empresas públicas estratégicas, como a Eletrobrás e a Embraer, a violência extrema e o Estado policialesco que arranca pessoas de suas casas em reintegrações de posse que acontecem numa velocidade avassaladora, entre outros muitos ataques aos direitos sociais, à soberania e à nação.
Para Manuela, as forças políticas que deram o golpe “não reúnem condições de vencer as eleições, por isso querem ir para o tapetão”. Mas nosso campo político, destacou, “é o que tem alternativa e legitimidade” para vencer e governar. O projeto que Manuela nomeou como “antídoto para o golpe” consiste, conforme explicou, na implantação de um projeto nacional de desenvolvimento pautado pelos interesses do povo. Para ela, é inusitado que estejamos vivendo um tempo em que esse tipo de obviedade — a defesa do país e do povo — ainda precise ser dito.
Defendemos o que é justo e melhor para nosso povo
“Somos nós que temos a saída para a crise”, enfatizou Manuela. “É incrível que, em pleno 2018, temos que dizer que não faz sentido entregar nossas riquezas energéticas para os outros países! (…) Parece muito inusitado que tenhamos que defender, em pleno 2018, que juros e câmbio precisam estar a serviço da indústria brasileira porque nós necessitamos que a riqueza seja gerada, porque nós queremos distribuir essa riqueza, na forma de mais renda para as pessoas. É preciso gerar riqueza para distribuir essa riqueza! E se essa riqueza não for gerada no Brasil ela não será distribuída para o nosso povo, as nossas mulheres e os nossos homens! Não é possível pensar o desenvolvimento do Brasil, em pleno 2018, sem considerar o fato de que a cada dia 10 brasileiros e brasileiras morrem vítimas de crimes violentos, e desses dez, sete são jovens, homens e negros, que são executados, quase sempre ‘à queima roupa’! É inadmissível pensar neste desenvolvimento sem as mulheres estarem incluídas nele. Metade as mulheres que têm filhos ficam longe, afastadas do mercado de trabalho pelo simples fato de ter de gerar a continuidade da nossa espécie, porque a maternidade é isso também! Nós, mulheres, não podemos seguir sendo punidas por isso. Ou por salários que chegam a 60% a menos do que o salário dos homens que também são pais! Não é possível pensar em desenvolver o Brasil, sem afirmar tudo isso!”, concluiu.
Finalizando sua fala, Manuela fez referência a trecho da música “A Bandeira do Meu Partido” — de autoria de Jorge Mautner e por ele doada ao PCdoB — e que diz: “Mas a bandeira do meu Partido; vem entrelaçada com outra bandeira; a mais bela, a primeira verde-amarela, a bandeira brasileira”.”Esta é a síntese de tudo o que acreditamos”. E terminou com o poema “Grito”, de Lila Ripol”, que diz: “Não, não irei sem grito. Minha voz nesse dia subirá. E eu me erguerei também”, em alusão à luta e ascensão do povo ao poder.
Manuela é o terceiro nome do PCdoB lançado à Presidência; o primeiro, foi o operário carioca Minervino Oliveira, em 1930; o segundo, o engenheiro gaúcho Iedo Fiúza, em 1945.
Superar as desigualdades é uma necessidade histórica
A presidenta nacional do PCdoB, Luciana Santos, também esteve no ato e destacou: “O PCdoB surgiu sob uma égide muito cara a nós: a da democracia. Nosso partido tem como tripé as bandeiras da democracia, do socialismo e da soberania”. O Partido Comunista, disse, “é uma necessidade histórica para a superação desse regime nefasto que é o capitalismo, que concentra 83% das riquezas do mundo nas mãos de 1% da população, enquanto 10% da população mundial passa fome”.
Para demonstrar o caráter democrático do PCdoB, Luciana citou algumas bandeiras históricas de luta ao longo dos seus 96 anos: pelo voto feminino e dos analfabetos, pela liberdade religiosa, pelo movimento “O Petróleo é Nosso, pelos direitos dos trabalhadores, na resistência à ditadura, na redemocratização, na resistência ao neoliberalismo da era FHC e a conquista e viabilização dos governos populares de Lula e Dilma. “Hoje nossa luta é contra o golpe, que está nos impondo o mais colonialista e neoliberal sistema desde Fernando Henrique, entregando nossas riquezas, nosso patrimônio, retirando direitos de nosso povo e recolocando o Brasil no mapa da fome”.
Ela lembrou o assassinato da vereadora Marielle Franco: “este crime é a síntese de nossos dias, das mais de 60 mil vitimas da violência em nosso pais, do extermínio de nossa população negra e de nossas mulheres, e é consequência do Brasil pós-golpe, do ódio e da intolerância que emergiram”.
Luciana também expressou a solidariedade do PCdoB para com Lula, e alertou: “estamos na iminência da prisão da maior liderança que tivemos em nosso país, o que faz ressurgir a figura do preso político”. E enfatizou: “estamos nas ruas, nas praças, contra tudo isso e ao lado de Lula, prestando-lhe total solidariedade. Mesmo tendo nossa pré-candidata, defendemos o direito de Lula ser candidato e a resposta mais contundente a esse estado de coisas é ganhar pela quinta vez consecutiva a eleição. A pré-candidatura de Manuela faz parte desse contexto”.
Segundo a presidenta do PCdoB, “Manuela é a superação da velha política. Sua trajetória revela capacidade de liderança e experiência, é porta-voz das ideias do socialismo, com uma proposta que coloca o país em outro patamar de enfrentamento das desigualdades. Com ousadia e alegria, nós vamos chegar lá”, finalizou Luciana.
Saudação
O deputado federal Pepe Vargas, presidente estadual do PT, esteve no ato levando o abraço do Partido dos Trabalhadores aos 96 anos do PCdoB. Disse que “independentemente de nossas candidaturas à presidência, temos a de ter a capacidade de construir unidade com a sociedade, com a população e trazer para esta luta democratas não necessariamente de esquerda para fazer frente a esta maré regressiva”. Neste sentido, o deputado denunciou a participação dos EUA no golpe, em favor das multinacionais, com a participação do Departamento de Estado Norte-Americano na Lava Jato “ao arrepio da lei”.
A Senadora Vanessa Grazziotin também lembrou no seu discurso que “ninguém mais duvida que o que aconteceu em 2016 não foi impeachment, mas golpe contra o Brasil e o povo, golpe que está se efetivando neste momento porque o objetivo é retirar o brasil da independência e de uma sociedade menos desigual, para arrancar um a um os direitos dos trabalhadores”.
Vanessa destacou o grande momento de lutas que vive atualmente o PCdoB, ao lançar Manuela como pré-candidada à presidência. “O Rio Grande do Sul, além de ser a terra da revolução farroupilha, terra de Vargas, de Jango, é também a terra de Manuela, que será a primeira mulher que nosso partido defenderá à presidencia da República, com nossas propostas que são progressistas, de independência, de defesa dos direitos humanos. Manu tem sido nossa a nossa porta voz na defesa da democracia e do estado democrático de direito”.
O ato contou ainda com a participação da presidenta da UNE, Marianna Dias; do presidente e da vice-presidenta do PCdoB-RS, Adalberto Frasson e Abgail Pereira; do presidente e da vice-presidenta da CTB-RS, Guiomar Vidor e Silvana Conti; do deputado estadual Juliano Roso; da vice-prefeita de São Leopoldo, Paulete Souto; do ex-deputado federal Assis Melo; Natasha Ferreira, da UNA-LGBT; Bruna Rodrigues, da Conam; do presidente da UJS-RS, Geovani Culau; da presidenta da UNEGRO, Elis Regina, entre dezenas de outras lideranças políticas e dos movimentos sociais.
Durante a celebração, houve apresentações culturais. Um desses momentos, de muita emoção, foi a apresentação de membros do Coral da UFRGS que cantaram o Hino do PCdoB, a canção “A bandeira do meu partido’, de autoria de Jorge Mautner.