Pastores dizem que nome de Deus não pode ser usado para ‘voto de cabresto’
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Um grupo de pastores presbiterianos e metodistas lançou um manifesto contra o uso do nome de Deus para fins políticos nas eleições. O documento, intitulado “Carta pastoral à nação brasileira“, repudia o uso da religião para promoção de candidatos e da defesa de aspirações “autoritárias e antidemocráticas”. A petição foi lançada na internet na quinta-feira, e tem a adesão de 522 pessoas. O texto é assinado por teólogos, reverendos e por professores doutores em estudos da religião. (Leia aqui a íntegra da carta).
Entre os candidatos ao Planalto, Jair Bolsonaro, do PSL, faz aceno explícito ao eleitorado evangélico. Seu slogan de campanha é “Brasil acima de tudo e Deus acima de todos”. No manifesto dos pastores, no entanto, não há menção ao nome do ex-capitão. Outro candidato que também fala diretamente aos eleitores evangélicos é Cabo Daciolo (Patriota), que cita o tempo inteiro Deus em seus discursos.
“Recomendamos, enfaticamente, que se desconfie de qualquer tentativa de manipulação do nome de Deus”, informa a petição.
O manifesto foi lançado um dia após a Confederação dos Conselhos de Pastores Estaduais do Brasil (Comcepab), presidida pelo bispo Robson Rodovalho, declarar voto no presidenciável Jair Bolsonaro, do PSL.
Signatário da petição, o professor do programa de pós-graduação em Ciências da Religião da PUC-Minas, Carlos Caldas, afirma que muitas lideranças religiosas ficaram incomodadas com o uso do nome de Deus pela campanha de Bolsonaro:
– Isso faz parte do slogan da campanha dele (Bolsonaro). E muita gente vai ingenuamente atrás disso. O que nos incomodou foi essa manipulação de maneira tão explicítia em nome do candidato Bolsonaro – disse Caldas, que é doutor em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo.
– O nosso documento não é uma resposta direta, mas uma manifestação de indignação em razão de haver lideranças querendo conduzir os membros das igrejas deles. É o antigo voto de cabresto. O coronel mandou e todo mundo obedece.
Um dos idealizadores do manifesto, Luiz Longuini Neto, que é pastor da igreja presbiteriana do Rio Comprido, na região central do Rio, preferiu adotar um tom mais comedido. Longuini nega que o documento seja uma reação contra Bolsonaro. Ele, porém, não poupa críticas ao uso do nome de Deus na campanha, como tem feito o candidato, e a propostas do ex-capitão, como o incentivo ao uso de armas de fogo pela população como forma de combater a violência urbana.
– Não aceitamos a manipulação de nenhum grupo político ideiológico que queira liderar com o nome de Deus. Cremos que não devemos aceitar esse tipo de voto de cabresto eleitoral de qualquer área. As pessoas precisam optar pela sua consciência, ser autônomas nesse sentido – afirma Longuini. – A nossa carta deixa clara que entedemos que os valores do reino de Deus sejam o oposto da opção pela violência. Não acreditamos num candidato que proponha armar as pessoas.