Fila do caixa dois ‘poderia ser fotografada de satélite’, diz João Santana

 Fila do caixa dois ‘poderia ser fotografada de satélite’, diz João Santana

No fim do depoimento ao juiz Sérgio Moro, o publicitário João Santana fez uma espécie de desabafo. Disse que 98% das campanhas políticas no Brasil utilizam caixa dois e que, mesmo assim, ele e a mulher, Mônica, são os únicos presos por esse motivo. Ao sustentar a alegação de que são milhões os profissionais “de todas as camadas sociais e dezenas de profissões que recebem por fora”, Santana afirmou:

— Se tivesse o mesmo rigor que está tendo comigo em relação a essas pessoas, teria uma fila saindo atrás de mim que iria bater em Brasília, chegaria a Manaus. Poderia ser fotografada de satélite — disse o marqueteiro.

Moro ouviu o marqueteiro e perguntou, em seguida, se ele não achava que receber pagamentos “por fora” significava uma trapaça em campanha política. O publicitário afirmou que é um “constrangimento profundo”, “um risco”, “um ato ilegal”, mas rebateu:

— Acho que precisa rasgar o véu da hipocrisia que cobre as relações políticas eleitorais no Brasil e no mundo — afirmou, acrescentando que “ou faz a campanha dessa forma, ou não faz”.

Santana disse que caixa dois não é a mesma coisa que corrupção, embora tenha afirmado que se arrepende, pois sabia que era irregular.

— Eu tinha consciência de uma prática ilegal. Dinheiro sujo, jamais. Caixa dois não é necessariamente caso de corrupção — disse Santana.

Ele acrescentou que o empresário Zwi Skornicki, que depositou US$ 4,5 milhões numa conta dele na Suíça, pode ter afirmado à Justiça que a origem do dinheiro era propina, mas não que ele e sua mulher soubessem disso.

— Onde chega no nosso conhecimento, isso é caixa dois. Não se podem julgar personagens e lendas, mas pessoas. Temos nossa reputação destruída nacional e internacionalmente. Erramos, sim, não estou querendo piedade ou clemência. Quero proporcionalidade, que o senhor, este juízo, consiga resolver essa contradição — disse Santana.

Para Mônica Moura, o juiz Sérgio Moro perguntou qual o motivo de ter recebido valores de caixa dois se a quantia paga oficialmente pelo PT já era alta, chegando a R$ 170 milhões entre 2006 e 2014.

— Os partidos não querem declarar o valor real que recebem das empresas, e as empresas não querem declarar o quanto doam. Ficamos no meio disso. Não era uma opção minha, era uma prática não só no PT, mas em todos os partidos — respondeu Mônica.

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