A eleição de Donald Trump abriu as porteiras do ódio nos Estados Unidos

Poucos dias após a eleição de Donald Trump, os banheiros da biblioteca do Reed College, universidade de elite a poucos quarteirões da minha casa, amanheceram cobertos de pichações. Sob uma suástica, podia-se ler insultos e ameaças a negros, judeus e gays, além da celebração: “O homem branco recuperou o seu poder”. Detalhe: Reed College, que teve Steve Jobs entre seus alunos, fica em Portland, no estado do Oregon, considerada uma das cidades mais liberais dos Estados Unidos. Relatos que chegam outras partes do país, mais conservadores e com população mais diversa, são ainda mais alarmantes.

Em Columbus, Ohio, uma garota que caçava pokémons foi agredida por dois rapazes que disseram: “Não se preocupe, querida. O Presidente Trump falou que tudo bem”. Uma babá que levou duas crianças a um parque em San Francisco foi agarrada pelo cabelo e pelo pescoço por um homem que disse que latinos tinham que ir embora. Em Denver, no Colorado, uma mulher transexual teve seu carro pichado com uma suástica e uma ameaça: “Morte à travesti!” . No Mississippi, um dos estados do Sul profundo onde o racismo é mais arraigado, um grupo de alunos brancos de uma escola secundária puseram uma corda no pescoço de um colega negro e puxaram com força, como se fossem enforcá-lo . Também houve inúmeros relatos de crianças expostas ao racismo na escola e de mulheres muçulmanas agredidas na rua.

O Southern Poverty Law Center, organização que monitora a ação de grupos radicais no país, registrou mais de 700 agressões a negros, imigrantes, latinos, muçulmanos, outras minorias e pessoas LGBT nas duas semanas pós-eleições . Menos de 4% das ocorrências tiveram como alvo eleitores de Trump. A ONG também registrou um aumento no número de pessoas cogitando suicídio. Eu conheço pelo menos uma pessoa, uma mulher trans, que desde a eleição passou a ser monitorada para evitar o suicídio. E muitos amigos estão pensando em imigrar.

O governador do estado de Nova York , Andrew Cuomo, declarou que o número de crimes de ódio cresceu tanto que ele teve de criar uma unidade policial dedicada exclusivamente a eles:

“O lamentável discurso politico da campanha [presidencial] não acabou no dia das eleições”, disse ele, há poucos dias. “Ele piorou em vários sentidos, levando a uma crise social que agora desafia nosso sentido de identidade”. 

Não há dúvida que houve um aumento expressivo nas manifestações racistas e discriminatórias instigadas pela campanha de Donald Trump. O presidente recém-eleito recebeu apoio de vários grupos supremacistas brancos, inclusive a Ku Klux Klan. Ele não economiza nos insultos a mulheres, mexicanos, muçulmanos e imigrantes irregulares. A questão é saber se essa é uma tendência que continuará ao longo de sua presidência. As análises a esse respeito são desencontradas e nubladas pelas vocações políticas individuais. O Southern Poverty Law Center sugere algum otimismo, ao lembrar que 65% dos 700 incidentes registrados ocorreram nos três primeiros dias após a eleição. Mas qualquer pessoa que já tenha sentido a discriminação na pele tem razões de sobra para ansiedade. “Este antagonismo simplemente partiu meu coração”, declarou Nicki Pancholy, …uma mulher californiana que usa um véu porque perdeu os cabelos por causa do lupus, uma doença autoimune. Seu carro foi vandalizado por alguém que pensou que ela era muçulmana.

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