A rede social sensação entre os jovens chega ao Brasil e acirra a concorrência com Facebook, Instagram, Twitter e LinkedIn
As trajetórias de Evan Spiegel e Mark Zuckerberg são parecidas em muitos aspectos. Os dois criaram suas empresas de internet quando eram universitários. Zuckerberg, numa história que já foi contada centenas de vezes em prosa, verso e filmes, concebeu o Facebook nos dormitórios da Universidade Harvard, em Cambridge (EUA), em 2004. Spiegel, por sua vez, desenvolveu a rede social Snapchat, em 2011, na Standard University, celeiro de muitos dos empreendedores americanos do Vale do Silício, no mesmo país. Ambos recusaram também ofertas bilionárias de compra, preferindo manter o controle do negócio no estágio inicial.
Curiosamente, quem tentou levar o Snapchat foi Zuckerberg. Uma oferta de US$ 3 bilhões não foi aceita por Spiegel, em 2013. As similaridades acabam aí. Spiegel, de 26 anos, pode ser considerado a antítese de Zuckerberg na vida pessoal. O fundador do Snapchat é um playboy com uma fortuna de US$ 2,1 bilhões que namora a supermodelo australiana Miranda Kerr. Ele também levou sua startup para a ensolarada Venice Beach, na badalada Los Angeles. O controlador do Facebook, por sua vez, mantém uma vida reclusa em Palo Alto, no coração do Vale do Silício.
Casado com Priscilla Chan, Zuckerberg é pai de Max, uma menina que nasceu em dezembro do ano passado. Para manter sua privacidade, ele comprou quatro casas vizinhas com o objetivo de preservar sua intimidade. Esses dois empreendedores tão parecidos e diferentes ao mesmo tempo estão travando um dos mais espetaculares duelos pelos corações e mentes dos jovens nas redes sociais. E essa batalha, antes restrita à disputa pelo usuário, está chegando comercialmente ao Brasil. O Snapchat, que é a rede social sensação do momento, vai estrear no mercado brasileiro, acirrando a competição com Facebook, Twitter, LinkedIn e Instagram, conforme antecipou com exclusividade o blog BASTIDORES DAS EMPRESAS.
Os primeiros passos ainda são tímidos. Neste início, o Snapchat será representado pela IMS, que venderá publicidade da plataforma online por aqui e em outros países da América Latina – procurada a IMS não quis fazer comentários. O anúncio oficial será feito no dia 20 de outubro, em um evento para o mercado publicitário no Hotel Unique, em São Paulo. A IMS, no entanto, já trabalha vendendo anúncios desde o fim de agosto. Empresas como Unilever, McDonald´s, Visa, Pepsico e Sony foram as primeiras a fazer ações publicitárias no Snapchat por aqui.
A estratégia da startup de Spiegel indica que, se for bem-sucedida a parceria com a IMS, é questão de tempo a abertura de um escritório no Brasil. Foi dessa forma que o Facebook testou o mercado brasileiro, antes de se decidir por uma estrutura própria no País. Procurado, o Snapchat não retornou os contatos. Atualmente, a companhia – cujo símbolo é um fantasma – tem subdiárias em apenas três países: Canadá, Reino Unido e Austrália. O Snapchat é uma rede social para publicar fotos e vídeos. Mas, ao contrário do Facebook, não mantém uma linha do tempo com o histórico das mensagens.
O conteúdo fica disponível por apenas 24 horas e desaparece 10 segundos depois de ser visto – recentemente, o aplicativo ganhou um recurso para salvar as mensagens enviadas. “Eles geraram escassez em um mundo com abundância de conteúdo”, diz Marcelo Tripoli, sócio-diretor da agência Ref+t. A estratégia força os usuários a entrarem com frequência no aplicativo para não perder nada do que está acontecendo. Diariamente, 150 milhões de pessoas acessam o Snapchat no mundo, mais do que o Twitter, que está prestes a ser vendido. No Brasil, 9 milhões de pessoas já o usam diariamente.
O Facebook, por sua vez, está em outra dimensão: 1,3 bilhão de consumidores navegam todos os dias pela rede social de Zuckerberg. Outra característica do Snapchat é que ele nasceu como um aplicativo para smartphones. Quase 100% de seu acesso é feito por meio de um celular. “É uma vantagem sobre outras redes sociais, que tiveram que se adaptar ao mundo móvel”, afirma Roberto Grosman, co-CEO da agência F.biz. Com essas características, o Snapchat se tornou na rede social preferida dos jovens.
Dados que estão sendo mostrados para as agências de publicidade no Brasil informam que quase 90% dessa audiência é de pessoas com menos de 34 anos, a imensa maioria entre 18 anos e 24 anos. Na briga por esse público, o Instagram, que pertence ao Facebook, copiou recursos do Snapchat, como a possibilidade de fotos desaparecerem depois de 24 horas. “De todas as plataformas que surgiram, o Snapchat é a que representa a maior ameaça ao Facebook”, diz Grosman. “Mas precisa evoluir e ainda está muito longe ainda de ser um competidor.” Os investidores estão apostando pesado no Snapchat. A startup já conseguiu captar US$ 2,4 bilhões.
O último investimento aconteceu em maio deste ano, quando recebeu US$ 1,8 bilhão, sendo avaliado em quase US$ 18 bilhões. Esta rodada contou com o aporte de Jorge Paulo Lemann, o homem mais rico do Brasil, acionista da AB InBev, maior cervejaria do mundo, e controlador do Burger King e da Kraft Heinz, como antecipou a coluna MOEDA FORTE. Todos os principais fundos do Vale do Silício colocaram dinheiro na empresa de Spiegel, como o Sequoia e o Tiger Global, além de gestores tradicionais como Fidelity e T. Rowe Price.
Os recursos ajudam a expansão do Snapchat, que ainda é uma empresa deficitária. No ano passado, o faturamento foi de US$ 59 milhões. Neste ano, estima-se que suas receitas fiquem entre US$ 250 milhões e US$ 350 milhões. Em 2017, deve alcançar US$ 1 bilhão. Uma abertura de capital começa a ser especulada para acontecer até março de 2017, avaliando a rede social em US$ 25 bilhões ou mais, segundo a imprensa americana. É cedo para saber onde o Snapchat pode chegar. Mas já dá para cravar que ele durou bem mais do que os 10 segundos de suas mensagens.