Aposentados rurais são os principais alvos de fraude bilionária no INSS

Descontos indevidos atingiram principalmente idosos da zona rural; CGU e PF investigam esquema que desviou mais de R$ 6 bilhões
Um esquema de fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) colocou aposentados rurais no centro de um dos maiores escândalos da previdência nos últimos anos. Segundo investigações da Controladoria-Geral da União (CGU) e da Polícia Federal (PF), esses beneficiários foram os mais afetados por descontos indevidos em seus proventos mensais, resultando em prejuízos bilionários.
Os dados revelam que 67% das vítimas da fraude vivem em áreas rurais e tiveram parte dos seus benefícios descontados sem qualquer autorização formal. Os valores, que somam mais de R$ 2,8 bilhões apenas entre esse grupo, eram repassados a sindicatos e associações que, na prática, não prestavam serviços aos segurados.
As investigações identificaram que os descontos eram realizados com base em Acordos de Cooperação Técnica (ACTs) firmados entre o INSS e entidades de classe. Esses acordos permitiam que valores fossem automaticamente descontados dos benefícios com a justificativa de prestação de serviços como assistência jurídica e médica. No entanto, a maioria dos aposentados não tinha sequer conhecimento da existência dessas cobranças.
A CGU entrevistou mais de 1.200 beneficiários como parte da auditoria. O levantamento apontou que 97% deles afirmaram não ter autorizado nenhum desconto e 96% não reconheciam vínculo com as entidades envolvidas. Em muitos casos, os aposentados vivem em regiões isoladas, com acesso limitado à internet ou informações sobre seus direitos, o que facilitou a ação de fraudadores.
Diante da gravidade dos fatos, a Polícia Federal deflagrou a Operação “Sem Desconto”, que resultou no afastamento de cinco autoridades do INSS, incluindo membros da alta cúpula. Além disso, dirigentes de entidades envolvidas estão sendo investigados por associação criminosa, estelionato contra idosos e lavagem de dinheiro.
Em resposta ao escândalo, o INSS suspendeu temporariamente todos os descontos de entidades representativas nos benefícios previdenciários e anunciou uma revisão completa dos procedimentos. A CGU recomendou a adoção de mecanismos mais seguros para autorizar cobranças, como biometria e validação digital.
A fraude evidenciou a vulnerabilidade dos aposentados do campo e levantou questionamentos sobre a fiscalização de convênios firmados com o INSS. Parlamentares e entidades da sociedade civil cobram mais proteção aos segurados, especialmente os de áreas rurais, que continuam entre os grupos mais desassistidos do país.
Enquanto isso, as investigações continuam e novas denúncias seguem sendo analisadas. O objetivo agora é responsabilizar todos os envolvidos e recuperar os recursos desviados, garantindo justiça aos milhares de idosos afetados pelo esquema.