As mulheres encontraram o caminho para vencer a direita nas redes

Análise exclusiva do LabCaos revela: enquanto a direita aposta no volume, as deputadas de esquerda dominam a taxa de engajamento e ensinam o caminho das pedras para o campo progressista.
Há anos, analistas políticos e marqueteiros repetem o mesmo mantra: “a direita domina as redes sociais, e a esquerda fala para as bolhas”. Durante muito tempo, os dados corroboraram essa tese. No entanto, estudo realizado pelo LabCaos sobre a performance das deputadas federais em 2025 revela uma mudança tectônica no cenário digital brasileiro.
Veja o estudo completo neste link: https://www.instagram.com/p/DS7SEdhkZp7/?img_index=1
Os dados são evidentes: se existe uma saída para a esquerda vencer o debate na ambiência digital, esse caminho está sendo pavimentado pelas mulheres.
O estudo analisou o engajamento das 89 deputadas federais no Instagram entre janeiro e dezembro de 2025 e os números contam uma história que muitos insistem em ignorar: a hegemonia da direita está sendo desafiada pela eficiência das parlamentares progressistas.
A primeira lição que os dados nos trazem é a diferença entre fazer barulho e gerar conexão. Se olharmos apenas para o volume bruto de interações, a direita ainda mostra força, com nomes como Bia Kicis acumulando quase 69 milhões de interações. É o famoso “canhão” de audiência.
Porém, o jogo muda quando refinamos o olhar para a taxa de engajamento — a métrica que define quem realmente mobiliza sua base proporcionalmente. Das 10 deputadas com melhor taxa de engajamento, 7 são de esquerda.
A líder absoluta, Jack Rocha (PT), atingiu 26,87% na taxa de engajamento. Para se ter uma ideia do abismo, isso é quase o triplo da taxa de deputadas bolsonaristas tradicionais como Bia Kicis, que tem 8,96%. Isso sinaliza que o campo progressista, através de suas mulheres, parou de panfletar digitalmente e começou a conversar.
O “Fenômeno Erika Hilton” e a narrativa de combate
Se Jack Rocha domina na taxa de engajamento, Erika Hilton (PSOL) nos dá uma aula de expansão de base e mobilização. Ela foi a deputada que mais conquistou novos seguidores no período, somando quase 900 mil novos perfis.
O segredo? Uma estratégia de comunicação agressiva e didática. A análise dos posts mostra que ela domina a técnica de rotulagem. Ao apelidar projetos adversários com nomes de alto impacto emocional — como “PEC da Bandidagem” — ela fura a bolha e pauta o debate. Mais do que isso, ela cria um senso de causalidade: atribui a queda de projetos da oposição à capacidade de “mobilizar as redes”.
O estudo do LabCaos também desmonta a ideia de que a esquerda não sabe lidar com a polarização. As mulheres encontraram o tom certo. As menções a Bolsonaro são massivamente negativas, focando na sua condenação pelo STF e críticas à obstrução do Congresso. Já Lula é trabalhado de forma majoritariamente positiva, associado a pautas pragmáticas como a isenção do Imposto de Renda e proteção social. Enquanto a direita aposta no medo, as mulheres de esquerda estão conseguindo engajar combinando o combate ao bolsonarismo com a defesa de direitos sociais concretos.
As parlamentares da esquerda encontraram um caminho para pautar os debates e defender o Governo Lula com uma eficiência que falta a muitos homens da base governista. Elas entenderam que rede social exige emoção, combate e simplificação. O campo progressista, muitas vezes preso a discursos institucionais, deveria olhar menos para teorias antigas e aprender com a prática dessas deputadas.
A esquerda pode vencer a direita nas redes? Pode. Mas os dados mostram que a liderança desse processo é feminina.
Yuri Almeida é estrategista político, professor e especialista em campanhas eleitorais
