Atirador que invadiu duas escolas no ES planejava ataques desde 2020
O adolescente de 16 anos que invadiu duas escolas na cidade de Aracruz (ES), na última sexta-feira (25), e matou quatro pessoas, disse à polícia que planejava realizar os ataques desde 2020 por ter sido vítima de bullying.
As informações foram apresentadas nesta segunda-feira (28), durante coletiva de imprensa realizada pela Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Espírito Santo (Saesp).
“O adolescente alegou que nunca tinha praticado qualquer ato infracional antes. Ele disse que teria sofrido bullying, com alguns apelidos, em 2019, e daí passou a ter ideias sobre um atentado. A partir de 2020, ele começou a se preparar e se planejar melhor para praticar essa ação, mas não chegou a contar para ninguém. Guardou pra si, alimentando esse sentimento de ódio dentro dele”, contou André Jaretta, delegado da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Aracruz.
Jaretta diz que, conforme as investigações preliminares, é possível identificar que o atirador é um “simpatizante de ideias nazistas” e que, apesar de ter dito em depoimento que agiu sozinho no crime, a polícia investiga o envolvimento de outras pessoas.
Durante a coletiva, também foi revelado que o atirador era ex-aluno da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio (EEFM) Primo Bitti, onde o ataque ocorreu. No momento, o adolescente não estava estudando, pois havia parado de frequentar o colégio em junho deste ano, durante o primeiro ano do ensino médio.
Ainda segundo o delegado, o adolescente já planejava aproveitar um momento de ausência dos pais para pegar as armas e cometer o crime. O atirador confessou que, quando estava sozinho em casa, costumava manusear as armas do pai – um tenente da Polícia Militar – para criar intimidade com o equipamento.
“Os pais saíram de casa para fazer compras no Centro de Aracruz na sexta-feira (25). O adolescente sabia que isso levaria um tempo, então ele aproveitou para cometer o atentado. Vestiu uma roupa camuflada que já tinha há algum tempo, pegou alguns objetos, em especial as duas armas, pegou o outro carro da família, cobriu as placas e foi até as escolas”, revelou o delegado.
A polícia informou que o menor não possuía alvos específicos, escolhendo as vítimas de maneira aleatória, e que, após o massacre, retornou para casa e manteve frieza, só contando aos familiares que era o autor do atentado pouco antes da chegada dos policiais à residência.
“Ele volta para casa em Coqueiral, pega as armas, todos os objetos que usou na ação e até os que ele não utilizou, e guarda nos lugares, para que os pais não desconfiassem que ele tinha usado. Coloca tudo onde estava e fica no interior da casa como se nada tivesse acontecido. Os pais chegam e ele reage naturalmente. Os pais já sabiam do atentado, comentam com ele e ele se faz de desentendido”, disse o delegado João Francisco Filho.
Os pais disseram à polícia que o adolescente fazia acompanhamento regular com psicólogo e psiquiatra, tomava remédios, mas não se abria muito em casa. Eles serão ouvidos novamente nesta segunda-feira (28).
As autoridades afirmam que, apesar de ser uma situação sem precedentes e um cenário de guerra nunca antes imaginado, esse é um caso isolado.
“A polícia está atenta aos fatos e será rigorosa nas análises. Não seremos irresponsáveis e atuaremos dentro da legalidade”, afirmou André Jaretta.
O ataque deixou 4 pessoas mortas e 11 feridas. Cinco pessoas continuam internadas na rede estadual de saúde do Espírito Santo, sendo que três estão em estado grave.
O adolescente, que foi apreendido, responderá por ato infracional análogo aos crimes de 10 tentativas de homicídio qualificado e três homicídios qualificados, todos com impossibilidade de defesa da vítima.