Bolsonaro teve agenda secreta com Campos Neto 2h antes de reunião do Copom
O então presidente Jair Bolsonaro (PL) teve uma agenda secreta com o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, duas horas antes de o Comitê de Política Monetária (Copom) iniciar a reunião que elevou em um ponto a taxa básica de juros da economia (Selic), em maio de 2022.
O encontro entre Bolsonaro e Campos Neto não foi citado nas agendas públicas da Presidência e do BC, mas, conforme a coluna de Guilherme Amado, do Metrópoles, consta de uma “agenda confidencial” do então presidente que era enviada a um grupo seleto de assessores do Palácio do Planalto. A revelação veio de um e-mail, que estava entre as milhares de mensagens que Mauro Cid esqueceu de deletar da conta que usou durante o período em que trabalhou na Presidência. O BC também confirma o encontro.
As mensagens de Cid e de outros auxiliares de Bolsonaro foram enviadas à CPMI do 8 de Janeiro.
A inflação era principal arma da campanha de reeleição do integrante do PL e não passa despercebido uma conversa diante da autonomia do Banco Central, que veda o presidente da República de interferir nas decisões do Copom, ter sido aprovada durante o governo Bolsonaro e sancionada pelo próprio Bolsonaro em 2021. Um dos objetivos da lei é blindar a autarquia de pressões políticas, inclusive do Palácio do Planalto.
Porém, na noite do encontro, pouco mais de às 19h, C. Campos Neto e os outros integrantes do comitê encerraram o encontro e divulgaram a ata, em que o colegiado aprovou por unanimidade a elevação da taxa Selic em um ponto percentual: de 11,75% a 12,75%. Era o maior patamar em cinco anos.
Integrantes do Copom devem respeitar um período de silêncio que se estende da quarta-feira da semana anterior àquela em que ocorre a reunião ordinária do comitê até o momento da publicação da ata do encontro. Durante esse período, os dirigentes não podem emitir declarações relacionadas ao Copom em discursos, entrevistas à imprensa e encontros com pessoas que possam ter interesse nas decisões do comitê. Naquele momento, Bolsonaro tinha como um dos principais flancos de sua campanha pela reeleição a pressão da inflação.
Na ata, os diretores do BC afirmaram que a decisão levou em conta a inflação, que, segundo eles, seguia “surpreendendo negativamente”.
O Banco Central afirmou que “nenhum tema relativo ao Copom foi tratado durante o referido encontro”. A coluna questionou quais foram os assuntos tratados entre Bolsonaro e Campos Neto, mas não houve resposta. “As regras do período de silêncio do Copom não vedam reuniões com agentes públicos”, disse o BC. A autarquia atribuiu a ausência da reunião na agenda pública de Campos Neto a uma “falha operacional”. O BC não explicou a razão de a reunião coincidentemente não constar da agenda pública de Bolsonaro.