Brasil isolado e sob pressão: tarifa de 50% dos EUA entra em vigor em 1º de agosto e ameaça economia nacional

O Brasil se aproxima de um dos momentos mais delicados para sua economia nos últimos anos. A partir da próxima sexta-feira, 1º de agosto, entra em vigor a tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre todos os produtos brasileiros, medida anunciada pelo presidente americano Donald Trump. Sem sinais de adiamento ou acordo iminente, o governo brasileiro admite estar de mãos atadas diante da nova realidade.
Apesar dos esforços do vice-presidente Geraldo Alckmin, que vem tentando negociar com autoridades americanas, inclusive com o secretário de Comércio Howard Lutnick, o cenário segue desfavorável. O presidente Lula reconheceu a dificuldade: “Todo dia o Alckmin liga para alguém, e ninguém quer conversar com ele”, declarou na última sexta-feira (24).
No domingo (27), Lutnick confirmou que não haverá mais prazos de carência e que a tarifa entrará em vigor conforme planejado. Trump, por sua vez, reforçou que a decisão é irreversível — e no caso do Brasil, mais dura do que com qualquer outro país. Nenhuma outra nação será tarifada com 50%: a União Europeia fechou acordo por 15%, enquanto Reino Unido, Japão e Vietnã conseguiram escapar do tarifaço.
Tarifa com viés político e impacto direto no PIB
A situação brasileira se agravou após Trump condicionar qualquer recuo na tarifa ao fim do julgamento de Jair Bolsonaro no STF, o que, segundo analistas, tornou a questão comercial um braço da disputa ideológica internacional.
Para o diretor da consultoria Eurasia, Christopher Garman, o impasse reflete o alinhamento ideológico de Trump com Bolsonaro e seu entorno. O economista André Perfeito aponta que o Brasil está “definitivamente isolado” e que os EUA querem limitar alianças brasileiras com outros blocos, o que remete a dinâmicas típicas da Guerra Fria.
As consequências econômicas serão graves. Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o prejuízo imediato pode alcançar R$ 52 bilhões em exportações e 110 mil empregos perdidos. Já a Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) estima uma retração de até R$ 175 bilhões no PIB, além de 1,3 milhão de empregos eliminados no longo prazo.
Se o Brasil decidir retaliar com a mesma moeda, aplicando uma tarifa de 50% sobre produtos americanos, os impactos podem ser ainda piores: R$ 259 bilhões a menos no PIB, quase 2 milhões de empregos perdidos e queda de R$ 7,21 bilhões na arrecadação tributária.
Empresas já sentem os efeitos
Mesmo antes de entrar em vigor, o tarifaço já atinge diversos setores. Exportadores de ferro-gusa como a SDS Siderúrgica, em Minas Gerais, tiveram embarques suspensos. A indústria de frutas do Vale do São Francisco estima perdas de até US$ 3 milhões com mangas que não terão mercado alternativo. O setor de pescados no Rio Grande do Norte também cogita parar suas frotas em agosto, afetando mais de 1.500 trabalhadores.
Na indústria do café, o Brasil tenta articular uma exclusão da tarifa via National Coffee Association, sob o argumento de que a bebida movimenta 2,2 milhões de empregos e US$ 343 bilhões na economia americana. O setor de laranja, que fornece 60% do suco consumido nos EUA, segue na mesma linha de atuação discreta com importadores americanos, evitando confrontar diretamente o governo Trump.
Governo prepara plano de emergência
Diante da inevitabilidade da medida, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou que um plano de contingência já foi concluído e será apresentado ao presidente Lula. A estratégia inclui linhas de crédito emergenciais, apoio a empresas afetadas e medidas comerciais dentro das regras internacionais.
O tom, no entanto, é de contenção. Para os especialistas, retaliar agora seria agravar a crise. O Brasil está isolado e sem aliados na mesa de negociação, o que amplia os riscos de impacto em inflação, desemprego e crescimento econômico.
Com os EUA como segundo maior parceiro comercial do Brasil, atrás apenas da China, a tarifa de 50% pode representar um dos maiores abalos já sofridos pelas exportações brasileiras em tempos recentes. E, pelo que se vê até agora, não há volta.