Câmara perde a presença da família Bolsonaro após 34 anos, com a licença de Eduardo para residir nos EUA

Com a saída de Eduardo Bolsonaro (PL), a Câmara dos Deputados ficará sem representantes da família Bolsonaro pela primeira vez em 34 anos. Na terça-feira (18), o deputado federal anunciou sua decisão de pedir licença do cargo para residir nos Estados Unidos.
Ele explicou que pretende “focar na luta por punições” ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), pai de Eduardo, foi deputado federal por 27 anos, de 1991 a 2018, quando assumiu a presidência da República.
Eduardo, por sua vez, se elegeu em 2015 pelo PSC e cumpria um mandato que vai até 2027. Durante os primeiros 45 dias de atividades legislativas em 2023, Eduardo fez apenas um discurso e não apresentou projetos. Desde a posse de Donald Trump, o deputado também fez várias viagens aos Estados Unidos.
A saída de Eduardo deixa a Câmara sem qualquer membro da família Bolsonaro pela primeira vez desde 1991, quando o ex-presidente iniciou sua trajetória parlamentar.
Suplente de Eduardo
Com o pedido de licença, a Câmara dos Deputados convocou, nesta sexta-feira (21), o missionário José Olímpio (PL-SP), que recebeu 61.938 votos nas eleições de 2022, para ocupar o cargo vago. Em casos de afastamento em cargos eleitos pelo sistema proporcional, como é o caso da Câmara dos Deputados e assembleias estaduais, a regra determina que os suplentes sejam os candidatos mais bem votados do partido ou coligação, que não possuem mandato.
No caso de Eduardo Bolsonaro, o primeiro suplente seria o deputado Adilson Barroso, mas ele já ocupa a vaga deixada por Guilherme Derrite (PL), atual secretário de Segurança Pública de São Paulo no governo Tarcísio de Freitas (Republicanos). Por conta disso, o próximo na lista é José Olímpio, o segundo mais votado do PL em São Paulo nas últimas eleições. Olímpio, de 68 anos, ocupará a vaga de Eduardo Bolsonaro durante o afastamento.
Carreira política dos filhos de Bolsonaro
Os outros filhos de Jair Bolsonaro não passaram pela Câmara dos Deputados. Flávio Bolsonaro (PL-RJ) iniciou sua carreira política como deputado estadual no Rio de Janeiro e, em 2019, se tornou senador. Carlos Bolsonaro (PL-RJ) foi eleito vereador no Rio de Janeiro em 2000 e, desde 2001, exerce seu sétimo mandato consecutivo. Até 2024, ele tem aprovado menos de um projeto de lei por ano.
Jair Renan Bolsonaro (PL-SC), o filho mais novo, assumiu em 2023 o cargo de vereador em Balneário Camboriú. Até março deste ano, ele não havia protocolado projetos de lei ou feito discursos na tribuna, limitando-se a apresentar pedidos de informações e indicações à Prefeitura. Em algumas votações, Jair Renan contrariou membros de seu próprio partido.
O temor de Jair Bolsonaro
Após Eduardo anunciar sua decisão de se licenciar, Jair Bolsonaro tentou diversas vezes convencê-lo a permanecer no Brasil. Segundo a colunista Bela Megale, do jornal O Globo, durante conversas com seu filho, o ex-presidente expressou temores de que ele fosse visto como “frouxo” e que sua decisão de ficar nos Estados Unidos diminuísse seu capital político.
Os mesmos argumentos foram apresentados a Eduardo por lideranças do PL, que souberam de sua decisão no sábado (15). No entanto, Eduardo não compareceu à manifestação pela anistia em Copacabana no domingo (16), o que gerou questionamentos sobre seu envolvimento. Ao ser contatado pelos organizadores, o deputado informou que não voltaria ao Brasil.
Eduardo justificou sua decisão com a alegação de perseguição política, o que fez com que lideranças do PL se unissem a Jair Bolsonaro em uma tentativa de convencê-lo a retornar ao Brasil. No entanto, na manhã de terça-feira (18), o ex-presidente aceitou a decisão do filho.
Divulgação da decisão e a reação da família
Apesar dos pedidos para que a notícia não fosse divulgada publicamente, Eduardo Bolsonaro anunciou sua licença nas redes sociais. Enquanto a reunião de líderes da Câmara ocorria em Brasília, o deputado compartilhou um vídeo e concedeu uma entrevista no canal do YouTube da Revista Timeline. Ao assistir ao programa, Jair Bolsonaro se emocionou e chorou.
A decisão de Eduardo gerou reações também no campo jurídico. O procurador-geral da República, Paulo Gonet, se manifestou contra a apreensão do passaporte de Eduardo, alinhando-se com a posição de interlocutores do PL que já haviam se reunido com o Judiciário.
O STF, através do ministro Alexandre de Moraes, seguiu o entendimento e negou o pedido do PT para apreender o passaporte de Eduardo.
Essa decisão foi interpretada pela família Bolsonaro e parte dos correligionários do PL como uma “pegadinha”, pois a leitura era de que a negativa do STF visava enfraquecer a justificativa de Eduardo para permanecer nos Estados Unidos. Ao final, Jair Bolsonaro passou a apoiar a escolha do filho de se manter no exterior.