Cena artística de Lauro de Freitas perde Duzinho Nery

 Cena artística de Lauro de Freitas perde Duzinho Nery

As luzes dos palcos de Lauro de Freitas foram por muitos anos a maior paixão do diretor teatral, ator e produtor cultural Nivaldo Nery. Desde muito cedo a arte se confundiu com a história de sua vida e aos 44 anos de idade era considerado um dos maiores nomes da cultura do município. Duzinho, como era carinhosamente conhecido por toda a cidade, faleceu na manhã desta quarta-feira (29) após uma luta árdua contra um linfoma.

 

Amparada por dezenas de amigos e familiares que cercaram a residência onde Duzinho sempre viveu para prestar as últimas homenagens, dona Lindóia Nery lembrou emocionada do filho do meio, mostrando detalhes da casa como quadros, estatuetas e as inúmeras máscaras incas, maias e astecas trazidas por ele durante suas viagens ao redor do mundo. “Duzinho amou a vida e viveu intensamente”, disse em meio a lágrimas de saudade e gratidão.

 

Em suas redes sociais, a prefeita de Lauro de Freitas, Moema Gramacho, secretários e artistas lamentaram a perda. “A cena artística da nossa cidade está de luto. Com muita tristeza recebemos a notícia da partida de Duzinho”, escreveu a gestora. Moema esteve com Duzinho dias antes e relata a emoção do encontro no texto. “Manifesto aqui minha tristeza pela partida deste jovem que sai de cena de maneira precoce”.

 

Ápio Vinagre, controlador do município, também se manifestou em suas redes sociais. “Guardarei, com respeito e admiração, a lembrança do ator, diretor, produtor, escritor e agitador cultural Duzinho Nery, que conheci mais de perto em 2005, tratando de uma das suas grandes produções e paixões na vida: a encenação da Paixão de Cristo na praça da matriz de Lauro”.

 

Católico fervoroso e devoto de São Miguel Arcanjo e Nossa Senhora Aparecida, desde cedo Duzinho revelou sua vocação para a arte. Volta e meia um poema novo era recitado, peças teatrais na escola elaboradas e rigorosamente ensaiadas, a participação nas gincanas que atraiam centenas de pessoas no início dos anos 90 e a atuação constante no grupo de jovens da igreja, fizeram parte da rotina do ainda garoto Duzinho e deram a base para sua arte.  

 

Inspirado pela fé cristã, ele começou a escrever a peça teatral ‘A Paixão de Cristo’. Todos os anos o espetáculo atraia mais de vinte mil pessoas na praça da Matriz em Lauro de Freitas e durante os três dias contava a história de Jesus Cristo com atores locais. “A peça é um marco por que além de contar a história do mestre da humanidade ainda era feita com pessoas da comunidade. A população se reconhecia na história de Cristo”, relata o historiador, Gildásio Freitas.

 

Além de sua atuação artística, que o levou a assumir o cargo de subsecretário municipal de Cultura entre os anos de 2013 a 2016, criar o Festival Ipitanga de Teatro (FIT) que trouxe à cidade espetáculos de todos os lugares do Brasil, e ser o mentor da Cia. Távola de Teatro, Duzinho Nery era militante da causa LGBTQIA+ o que o fez ser candidato a vereador no começo dos anos 2000.

 

“Duzinho era alegria, era pura festa. Ele tinha o jeito dele com opinião forte, mas ao mesmo tempo era uma pessoa muito carismática e atraia as pessoas para perto dele”, falou o amigo de infância Djair de Deus amparado pelo outro amigo e vizinho de Duzinho, Lucas Lins. “Ele plantou uma árvore em frente à minha casa e por coincidência foi neste mesmo ano que nasci. A arte de Duzinho me inspirou e hoje estudo teatro também”, disse.

 

Conhecido em toda a cidade, Duzinho se consolidou como sinônimo do Carnaval em Salvador e em Lauro de Freitas. Em cima da mesinha da sala, as fotos nos porta-retratos registram os momentos mais marcantes de seus reinados. “Ele tinha um sorriso largo e uma alegria que contagiava a todos”, lembrou sua mãe.

 

Outra paixão de Duzinho era escrever. O produtor tem publicado dois livros – Das Cinzas uma Rosa e o Diário do Rei –  e centenas de poemas.  O segundo livro, publicado recentemente, conta as suas experiências à frente dos reinados momescos das folias de Lauro de Freitas e Salvador. “Ele brindou a vida, viveu intensamente e fechou as cortinas do palco com chaves de ouro como só uma majestade pode fazer”, disse Lucas.

 

O velório e sepultamento acontece nesta quinta-feira (30), às 10h na sala 02 do Cemitério Bosque da Paz. Um ônibus estará estacionado na porta do Cine Teatro e sai às 8h conduzindo os amigos e familiares para o último adeus.

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