Com Dilma, Lula e Mujica, Fórum Mundial deve atrair 50 mil pessoas a Salvador
Quando a Bahia ainda era uma província, no século 19, passava por aqui gente do mundo inteiro. Salvador, à época, mais parecia a Torre de Babel. Comerciantes e aventureiros cruzavam mares até atracar em nossos portos. Agora, muitos outros visitantes pisarão em terras baianas, dessa vez, sem tanto interesse comercial como outrora. Sendo mais preciso, entre os dias 13 e 17 deste mês, a cidade voltará a ser o centro do mundo, com o início do 13° Fórum Social Mundial, evento que promete reunir 50 mil pessoas vindas de várias partes do planeta para participar de mais de mil atividades.
Por aqui, palestrantes e figuras conhecidas em todo o mundo colocarão em debate seus anseios, questionamentos e indagações sobre o mundo e suas realidades tão distintas. A Universidade Federal da Bahia (Ufba) é quem vai abrir as portas para receber os visitantes. Os encontros acontecerão lá – a maioria deles no campus principal, em Ondina – e em outros pontos da cidade, como o Estádio de Pituaçu, o Parque do Abaeté, em Itapuã, e o Parque São Bartolomeu, no Subúrbio Ferroviário.
Vão pisar em solo baiano, por exemplo, figuras políticas como José Mujica, ex-presidente do Uruguai. De terras próximas também virá Cristina Kirchner, ex-presidente da Argentina. A ex-presidente Dilma Rousseff também confirmou presença no fórum, ainda em data a ser confirmada; o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também fará parte do evento, no dia 14.
O cantor Chico Buarque é outro que foi convidado pela organização do Fórum, assim como o cantor Bono Vox. Segundo a assessoria do evento, os artistas foram convidados e demonstraram interesse em participar, mas, ainda de acordo com a assessoria, a confirmação depende agora das agendas dos dois. Caso confirmem presença, Chico fará um show gratuito na Praça Castro Alves. Já o cantor irlandês, líder da banda pop U2, fará parte de uma das mesas de debate.
A organização também confirmou shows das cantoras Ana Cañas e Tulipa Ruiz em palcos e datas ainda a ser confirmados.
O reitor da Ufba, João Carlos Salles, fala da alegria em receber o evento (Foto: Dêja Chagas/Divulgação)
O reitor da Ufba, João Carlos Salles, disse que é uma honra para a universidade receber um evento desse tipo. O Fórum já havia acontecido antes em nove países diferentes, inclusive no próprio Brasil. Porto Alegre recebeu o evento três vezes consecutivas, entre 2001 (edição inaugural) e 2003. Belém, em 2009, também foi sede do encontro.
“Salvador sempre é o centro do mundo e do universo, também, mas especialmente, agora, vamos estar concentando todas as áreas do debate e é uma honra para nós abrigar um evento desse, tão grande”, comentou Salles.
“Na verdade, estamos dando continuidade às relações que a universidade já tem com essas tématicas, com os movimentos sociais, afinal de contas, temos um grande número de pesquisadores e extensionistas que dominam o assunto”, comentou o reitor.
Os temas que serão debatidos nas mesas, seminários e cursos abordarão temáticas como democratização da economia, educação e ciência, feminismo e luta das mulheres, democracia e conquista de direitos. Este último tema, de grande importância, destaca o reitor, mas sem esquecer de descatar a relevância da universidade pública.
Fórum Mundial deve atrair 50 mil pessoas a Salvador
“Fora a pauta ampla de garantia dos direitos, eu digo que temos, a universidade, uma pauta em especifíco, que é uma pauta que nesse momento se acentua pelo fato da universidade estar abrigando esse evento. É a pauta da defesa da universidade pública, ou seja, defesa de instituição que é inclusiva, aberta, democrática, responsável pela grande produção de conhecimento do nosso país”, pontuou.
Para o presidente da Central Única dos Trabalhadores na Bahia (CUT), Cedro Silva, esse momento será oportuno para que os 120 países participantes possam compartilhar suas experiências diante das transformações mundiais. “Esse fórum acontece na Bahia, no Brasil, em um momento em que o mundo enfrenta muitas crises: da água, energética, crise no mundo do trabalho, reformas trabalhistas, reduzindo direitos da classe trabalhadora. Então, é isso que a gente pretende discutir e sair com uma pauta positiva, discutindo-a a nível mundial”, avaliou.
Acampamento
Entre os participantes, cerca de 4 mil devem ficar durante o evento acampados no Parque de Exposições, na Avenida Paralela. Lá, será montada uma estrutura para recebê-los, com chuveiros para banho, feiras e credenciamento. O acampamento recebe os hospédes no dia 11 e fecha um dia depois do Fórum, no dia 18.
Também serão realizadas palestras e debates políticos no parque. De acordo com Augusto Oliveira, um dos membros do Acampamento Intercontinental da Juventude (AIJ), essa é uma grande chance de, para além da estadia, fazer com que as pessoas possam compartilhar ideias.
“Essa é a nossa principal preocupação: os acampamentos, antigamente, eram apenas para dormir, fazer uma festinha. Mas, não, esse tem lugar para convergências, interação, com palcos, encontros, atividades”, detalha.
Voluntariado
O evento vai contar com a ajuda voluntária de 650 pessoas que ajudarão na comunicação, na infraestutura e mobilização do evento. Desse número, 400 são de Salvador e outros 250 são de outros estados do Brasil e de outros países.
No total, 1.400 pessoas se disponibilizaram em ajudar, gesto que, para Flora Brioschi, uma das coordernadoras do voluntariado do evento, faz com que o fórum possa acontecer.
“A nossa intenção é dar uma potencializada no voluntariado porque, historicamente, a gente tem visto uma precarização do trabalho, da substimação do voluntariado. Estamos trabalhando para valorizar quem de fato constrói, porque são eles, voluntários, que deram todo o subsídio durante a realização do fórum. Para além disso, eles são o coração e mente dessa construção coletiva”, acredita Flora.
Feiras
Quem for participar das feiras, vai poder ter acesso aos trabalhos de 400 empreendedores que estarão expondo seus produtos, no campus de Ondina, onde será montada a maioria das tendas, e em outros campus. Dez desses empreendedores são de outros países. Os produtos que vão ser comercializados vão de alimentos a artesanato.
“Vamos ter uma moeda social circulando nas feiras, teremos o sistema de trocas, de permuta. Uma forma de dizer não à capitalização da mercadoria”, explica Anne Senna, presidente da Central de Cooperativas e Empreendimentos Solidários (Unesol).
Atividades e inscrições
As inscrições para participar das oficinas e palestras podem ser feitas pelo site do Fórum. Muitas atividades ainda não têm horários definidos e a organização divulgará ao longo desta semana. Para se cadastrar individualmente, como entidade ou para propor uma atividade, é necessário registrar-se no site, mas as inscrições também poderão ser feitas no local. Os interessados devem pagar R$ 30. Clique aqui para conferir parte das atividades previstas.