Coronavírus: afinal, gatos domésticos transmitem a doença?

 Coronavírus: afinal, gatos domésticos transmitem a doença?

A notícia de que uma tigresa testou positivo para o novo coronavírus, nos Estados Unidos, gerou dúvidas sobre se os outros felinos, ou seja, os gatos domésticos, também podem contrair o vírus ou se o transmitem para humanos. Nadia, uma tigresa malaia de 4 anos, teve tosse seca e uma ligeira perda de apetite, informou o Zoológico do Bronx, em Nova York.

Segundo Paul Calle, veterinário-chefe do Zoológico do Bronx, ela está bem. O mesmo acontece com outros três tigres e três leões que apresentam os mesmos sintomas. Segundo Calle, nem a infecção de Nadia nem os primeiros relatórios científicos da China apontam que os gatos possam transmitir o vírus aos seres humanos.

Além disso, “nenhum deles ficou terrivelmente doente”, disse Calle sobre os felinos infectados do zoológico. Ele observou que houve várias experiências científicas nas quais gatos domésticos foram inoculados com grandes quantidades de coronavírus, mas “isso não reproduz o que está acontecendo nas casas das pessoas”.

Calle acrescentou:

— Se os gatos fossem suscetíveis, haveria muitos relatórios nos meses anteriores sobre isso.

Karen A. Terio, chefe do Programa de Patologia Zoológica da faculdade de veterinária da Universidade de Illinois, em Chicago, onde foram realizados testes para o tigre, destaca que, proporcionalmente, é difícil relacionar os casos em humanos com infecção em animais domésticos:

— Dado o número de pessoas neste país que foram infectadas pelo vírus e ficaram doentes, e o número de pessoas neste país que possuem gatos domésticos, parece bastante improvável que os gatos sejam uma fonte importante de vírus para as pessoas, se o primeiro caso em que o diagnosticamos for um tigre.

O número de casos da doença em humanos continua em alta. Em animais, por outro lado, não. Um relatório da Bélgica mostrou um gato que apresentava sintomas do coronavírus, mas o estudo não era claro, disse Calle. Hong Kong também informou que um gato apresentou resultado positivo para o coronavírus.

Um estudo ainda não revisado com gatos selvagens em Wuhan, epicentro do vírus na China, mostrou que alguns tinham anticorpos para o coronavírus, indicando algum nível de exposição ao vírus e alguma resposta por seus sistemas imunológicos. Mas os gatos não estavam doentes quando testados.

Calle, ressalta, no entanto, que é importante manter as coisas em perspectiva:

— Não há nenhuma evidência em nenhum lugar, além da hipótese inicial, de que qualquer animal tenha infectado qualquer pessoa em qualquer lugar.

O Departamento de Agricultura dos EUA, a Organização Mundial de Saúde Animal e a Associação Americana de Medicina Veterinária afirmam que até o momento não há evidências de que os animais domésticos possam transmitir uma infecção às pessoas. Mas todos aconselham que as pessoas doentes tomem as mesmas precauções sobre o contato com seus animais de estimação que tomariam com os seres humanos.

— Ainda há muita coisa que não sabemos — disse Terio. — Estamos todos tentando entender e aprender sobre esse vírus em tempo real, à medida que as coisas vão acontecendo.

Jonathan Epstein, da organização sem fins lucrativos de saúde ambiental EcoHealth Alliance, enfatizou que ainda não está claro qual o nível de infecção dos gatos e se eles podem transmiti-lo um ao outro, o que foi sugerido. E reforçou que a pandemia mundial está sendo conduzida pela transmissão de humano para humano, mas aconselhou, como outros especialistas, a “tratar gatos como outros membros da família”.

— Ainda não há evidências de que os gatos possam transmitir esse vírus às pessoas. Mas você não quer aproveitar esta oportunidade na falta de informações — destacou.

Estudos analisam efeito em outros animais

Cientistas de vários laboratórios estão analisando a suscetibilidade animal, tanto em termos de bichos de estimação quanto quais animais poderiam ser usados em estudos de laboratório. O mesmo estudo preliminar, não revisado, que encontrou gatos suscetíveis em laboratório, também descobriu que o vírus se reproduz mal em cães, porcos, galinhas e patos.

Entre os animais que podem ser usados em testes de laboratório, o novo coronavírus infecta camundongos geneticamente modificados, bem como alguns macacos. Os santuários de chimpanzés nos Estados Unidos interromperam os passeios e reduziram a interação dos funcionários com seus animais, caso os macacos também sejam vulneráveis.

Os furões são outro animal de laboratório em potencial. Um relatório aceito para publicação no periódico científico Cell Host & Microbe aponta que furões são infectados e transmitem o vírus uns aos outros, mostrando alguns sintomas semelhantes aos humanos, como febre, letargia e tosse. Todos os animais se recuperaram, no entanto.

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