É preciso investir em educação?

 É preciso investir em educação?

Pitágoras (570 –  495 a.C.) já dizia: “eduquem as crianças e não será necessário castigar os homens”. Mas, para educar as crianças, é preciso estar preparado. Investir em educação é uma demanda de vários polos e, felizmente, na atualidade, há uma crescente consciência da necessidade de instrumentalizar melhor os professores para que possam realizar sua missão de educar.

As universidades abordam conteúdos de extremo valor, mas a preparação para a realidade da sala de aula fica aquém do necessário. Também é praticamente impossível preparar os professores para realidades tão distintas como as que enfrentamos nas salas de aula.

Há inúmeras particularidades, como a cultura local, a infraestrutura disponível, as condições financeiras e sociais de alunos e professores, entre tantas outras.

Ademais, ainda existe a heterogeneidade das condições sociais, em que alguns têm mais acesso que outros, sejam professores ou alunos.

As realidades são tão diversas, que nossas pesquisas têm mostrado casos em que os alunos – por serem de uma geração com mais acesso à tecnologia – já não se interessam pelas aulas, e parecem querer ficar o tempo todo em seus smartphones. A proibição de uso do dispositivo, dentro das escolas, tem gerado polêmica: há pais que desejam que seus filhos utilizem o dispositivo para que possam ter contato com eles, argumentando questões de segurança, e as opiniões são tão diferentes que não há consenso.

O Projeto de Lei 2246-2007 é, hoje, a PL 105-2015, ainda em tramitação, que propõe a proibição em nível nacional.

Como a esfera federal tem levado mais tempo na decisão, vários estados já proíbem o uso durante as aulas, como é o caso do Rio de Janeiro (Lei 5222 de 2008), Pernambuco (Lei  lei 15.507 de 2015), do Distrito Federal (Lei Nº 4.131/2008) e de Santa Catarina (Lei nº 14.363 em 25 de janeiro de 2008), apenas para citar alguns exemplos. Estas leis não prevêem sanções, mas permitem que as escolas possam lidar com o assunto em seus regimentos.

E O PROFESSOR, O QUE FAZ?

É consenso geral que educar é uma atividade que exige tempo e dedicação e, ainda assim, parece que nós, professores, estamos sempre um passo atrás em tudo. Seja pelo acesso à tecnologia em função dos salários, ou pela falta de tempo para atualização, a vida do professor não parece uma caminhada, mas uma maratona que, muitas vezes, leva à deterioração de sua saúde (falaremos deste assunto em outro artigo).

Resta às equipes de ensino – e isto envolve Secretários de educação, diretores, corpo técnico e professores – buscarem pelo preenchimento das lacunas na própria formação, e neste árduo campo entram o tópico que destacamos no título deste artigo: o investimento na educação é mais que necessário, em capacitação, treinamento, formação continuada e, principalmente, diagnóstico de necessidades.

A capacitação por meio de treinamento, de maneira contínua, possibilita que o professor seja instrumentalizado para lidar com as situações específicas que encontra no seu cotidiano em sala de aula. Mas não é qualquer capacitação: por esta razão, um diagnóstico das necessidades da equipe é imprescindível. É por meio dele que uma assessoria ou consultoria em educação poderá oferecer a capacitação que os professores necessitam, e não apenas mais algumas horas de curso, oficina ou palestra.

Um bom diagnóstico é realizado por profissionais com experiência em pesquisa, que possam oferecer, não apenas ao professor, mas a toda a equipe de educação, informações para a escolha da capacitação e para a tomada de decisões que venham a facilitar o trabalho de todos, e levar aos objetivos que tenham traçado para o ano letivo.

Isto não significa que secretarias de educação e diretores de escola não saibam escolher cursos para a capacitação de sua equipe. Quer dizer que, se estiverem devidamente instrumentalizados, poderão trabalhar ainda melhor.

E as lacunas na formação de professores também ocorrem com outros profissionais da educação.

Temos certeza de que cada um que chega em um cargo, ou que está lotado para alguma atividade, quer o melhor: realizar uma boa administração, exercer suas funções a contento, ministrar excelentes aulas… Contudo, boa vontade não é garantia de sucesso.

Neste sentido, a capacitação deve ser realizada por quem se dedica ao estudo e à pesquisa para isso. Várias universidades e empresas oferecem cursos, oficinas, capacitação, formação continuada, mas a maioria não faz um diagnóstico da situação específica que vai atender. O oferecimento de cursos, na maioria das vezes, baseia-se em pesquisas de nível nacional. Mas o que é bom para os alunos do Rio de Janeiro, é bom para os de Santa Catarina? O perfil desses estudantes é o mesmo? E dos professores? Quais são suas necessidades?

A vantagem de termos diretores da área de educação é que, na maioria dos casos, eles já estiveram na sala de aula, e conhecem a realidade. Por esta razão, usam o bom-senso para buscar o melhor para os professores, porque o(a) diretor(a) também é um(a) de nós.

Embora existam limitações financeiras, em alguns casos, nossa sugestão é que se invista, primeiro, no diagnóstico. Que se ouça a opinião dos professores. E, principalmente, que se trabalhe em equipe – também falaremos deste assunto em outro artigo – para que se obtenha sucesso.

Citar a legislação sobre o uso de smartphones serviu apenas como exemplo: as leis mudam, e o professor precisa se atualizar, conhecer experiências que deram certo, mas seu tempo é curto. Também não dá para fazer pesquisa e trabalhar 40 horas na semana em sala de aula: não sobra tempo nem para a família.

As equipes pedagógicas têm suas obrigações e atividades, e as assessorias e a capacitação existem exatamente para isso: fazer aquilo que os profissionais não têm como fazer. Por mais que se queira ser dedicado, atualizado, bom profissional, não dá para fazer tudo sozinho.

Então, para que a máxima de Pitágoras seja atendida, é preciso, sim, investir em educação – na formação continuada dos professores que estarão na sala de aula: somos nós, os docentes, que precisamos nos preparar melhor para que possamos, literalmente, mostrar o futuro das nossas crianças, jovens e adultos.

Elita de Medeiros é Especialista em Libras, cursou Letras Espanhol e Letras Português e Inglês, é revisora e tradutora na Unisul e cofundadora da Plataforma Cultural.

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