E se Donald Trump vencer as eleições dos Estados Unidos?
A possibilidade de isso acontecer sempre existiu. E, se acontecer, vai começar a acontecer no final desta semana, antes da abertura da convenção republicana em Cleveland, Ohio, no dia 18.
Contra o pano de fundo das mortes de negros em Minnesota e Louisiana por policiais, tão graficamente exibidas nas redes sociais, e da retaliação contra os policiais de Dallas que estavam protegendo um protesto pacífico do “Black Lives Matter”, a questão racial saiu das sombras e agora ocupa um lugar central na campanha. O foco se acentura na dinâmica da eleição presidencial.
Muitos republicanos estão compreensivelmente aterrorizados pelo espectro de uma derrota massacrante na votação de dezembro, ou talvez pior, do desgarrado Donald Trump na Casa Branca. Portanto, apesar de parecer contrário ao desejo dos milhões de eleitores que votaram em Trump nas primárias, há uma luta de bastidores para tirá-lo de cena.
Em um artigo na “National Review”, Brent Johnson e Jonathan D. Salant escreveram que Steve Lonegan, ex-prefeito em Nova Jersey e líder da campanha fracassada de Ted Cruz no Estado, disse, falando sobre os delegados da convenção: “Esses delegados representam o Partido Republicano inteiro. Eles têm a obrigação de escolher o candidato que tem a melhor chance de derrotar Hillary Clinton. Eles têm uma obrigação com a população de derrotar Hillary Clinton e carregar o estandarte do Partido Republicano e de seus princípios. Acreditamos que Trump não é capaz de nenhuma dessas duas coisas. Muitos desses delegados são integrantes regulares do partido que não têm lealdade a Trump, mas o apoiam porque as regras do partido o obrigam a votar no vencedor da primária de seus Estados”.
Entender como funciona a “democracia” gringa na prática, não na teoria, é difícil. Anos atrás, os delegados das convenções se reuniam no que ficaram conhecidas como “salas enfumaçadas”, onde faziam negociatas para escolher os candidatos. Na maioria das vezes, representando interesses locais ou estaduais, esses delegados faziam promessas de apoio federal para programas estaduais paroquiais – uma nova represa num rio que atravessa seu Estado, um incentivo fiscal para a indústria local – em troca de votos de delegados para os candidatos que prometessem realizar esses desejos. Era um sistema de escambo conhecido aqui e em qualquer parte do muito. Muitas vezes eram necessárias várias votações durante a convenção até que fosse escolhido o candidato. As diferentes facções subiam e desciam em cada votação.
Se for uma convenção “fechada”, Trump vai surgir como o candidato. Mas, à luz das tensões atuais nos Estados Unidos, os integrantes do comitê que define as regras da convenção, escolhidos no nível estadual e sem influência dos candidatos, podem muito bem mudar o regulamento, tornando a convenção “aberta”. Se isso acontecer, as salas vão se encher de fumaça e barganha de novo. Trump pode ser descartado, para o deleite de muitos, e quem vai levar a indicação do Partido Republicano é uma incógnita. Muita gente tem palpites.
O atual favorito nas apostas é Mitt Romney, que perdeu a eleição presidencial de 2012 para Barack Obama e disse que não quer ser candidato de novo. Mas muitos acreditam que ele possa ser convocado. Numa entrevista recente à CNN, ele atacou a candidatura de Trump, dizendo que “o caráter do país sofreria com Trump na Casa Branca” e que muitos republicanos rotulam Trump de racista. Ele poderia estar disposto a aceitar a candidatura como um dever público.
Mesmo sendo um gringo orgulhoso, é cada vez mais difícil assistir ao que se passa na Gringolândia sem achar que as coisas estão saindo do controle, que as tradicionais generosidade e decência estão abrindo caminho para uma ira racial e econômica que vem borbulhando abaixo da superfície e agora está prestes a explodir.
O que acontecer na eleição, e no caminho até ela, terá consequências importantíssimas. Com informações de Peter Rosenwald.