E se Eduardo Cunha estiver abrindo a boca?

Nenhum acordo de delação premiada parece ser tão temido quanto o do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso na última quarta-feira (19) pela Operação Lava Jato. O político, visto como audacioso, imprevisível e um grande estrategista,  poderia revelar informações comprometedoras de diversos nomes ligados ao governo do presidente da República, Michel Temer, temem alguns aliados. O impacto no mundo político pode ser poderoso, talvez comparável apenas ao de uma delação do empreiteiro Marcelo Odebrecht.

Antes de ser detido, Cunha teria ameaçado Moreira Franco, secretário-executivo do Programa de Parcerias do Investimento (PPI), de expor sua atuação como vice-presidente dos Correios. Outros políticos próximos a Temer também seriam ameaçados, como o chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, e o secretário de Governo, Geddel Vieira Lima. Cunha seria perigoso por se sentir traído pelo governo – afinal, foi homem-chave para o impeachment de Dilma Rousseff. Num momento de recuperação da confiança da economia, Cunha poderia desestabilizar o País novamente.

Mas qual é o tamanho da preocupação dos investidores com o fator Cunha? A prisão e uma possível delação coloca em risco a recuperação das ações na BM&FBovespa?

A notícia interrompeu uma sequência de quatro altas do Ibovespa, que fechou em queda de 0,4%. O índice superava os 64 mil pontos, o maior patamar desde abril de 2012, e acumulando alta de 9% no mês. “É mais um ruído político dentro de uma tendência mais positiva que estamos vendo no mercado nos últimos meses”, afirma Ignacio Crespo, economista da Guide Investimentos. Mesmo com essa inversão no mercado de ações, não houve mudança na projeção do câmbio nem na percepção de risco do País.

É quase certo que Cunha não ficará em silêncio. A dúvida é qual o nível de informação que ele dividirá com a Operação Lava Jato. Para João Augusto de Castro Neves, analista de Brasil da consultoria de risco político Eurasia Group, os impactos de uma possível delação poderão ser sentidos mais em médio prazo, tanto pela dinâmica desses acordos como fato de os acusados terem foro privilegiado para serem julgados pelo Supremo Tribunal Federal, que atua mais lentamente do que as ações do juiz de primeira instância, Sérgio Moro. “Acho que a PEC 241, do teto dos gastos, será aprovada sem maiores dificuldades”, diz Neves. “Mas, em 2017, a reforma da previdência, que envolve um jogo político mais difícil, ficará complicada.”

A prisão de Cunha é um lembrete que a governabilidade pode sofrer em 2017. O episódio também pode trazer mais instabilidade para o mercado de ações e para as projeções de juros nos próximos dois ou três meses. Mas a preocupação, por enquanto, é marginal. “O ex-deputado já foi muito mais importante e impactou muito mais a Bolsa e o câmbio do que hoje”, avalia Celson Plácido, estrategista-chefe da XP Investimentos. “O efeito da prisão dele é menor, irrelevante até certo ponto, pois o Congresso caminha normalmente, como mostrou a aprovação da PEC do teto dos gastos.” Cunha, por enquanto, é tratado como um impacto de baixo risco. Mas até quando?

 

Por Carlos Eduardo Valim

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