EFEITO IMITAÇÃO: Por que ‘maníaco da seringa’ e ‘palhaços’ atraem tantos replicadores?

“Sigam-me os bons”, dizia o saudoso Chapolin Colorado. O mesmo pode ser aplicado, trocando o adjetivo atribuído ao seguidor para os fenômenos que têm causado pânico em massa nas últimas semanas em Salvador por conta do “maníaco da seringa” – que já fez pelo menos 10 vítimas na capital baiana e já chegou à cidade de Feira de Santana. Outra preocupação mundial está relacionada a uma figura que proporciona alegria e pavor; o palhaço. São vários relatos de aparições sinistras registradas ao redor do planeta, que inclusive já se manifestou na Bahia, em Juazeiro.

Freud explica! Segundo o mestre em psicologia, André Dória, este fenômeno de pânico e imitação é antigo e o pai da psicanálise escreveu sobre este comportamento no livro “Psicologia das massas e análise do ego”, ele conta que uma moça em um pensionato leu para colegas uma suposta carta de um namorado, o que teria lhe provocado ciúme, então a jovem começou a chorar e todas ao redor também choravam. “Isto é provocado pelo fenômeno de identificação, ao passo de se colocar no lugar de alguém. Funciona como um contágio ou infecção psíquica, metaforicamente falando”, explica Dória.

O “maníaco da seringa” é uma figura que provoca medo justamente pelo desconhecido, não há comprovação de conteúdo infeccioso na seringa utilizada pelo agressor, mas a possibilidade de haver provoca o pânico, além do total anonimato deste indivíduo. Este evento não pode ser considerado uma lenda urbana, de maneira alguma, “mas até que ponto a história tem a dimensão que se narra?”, questiona o psicólogo. Conforme especialistas o aumento da proporção contribui para o nascimento de lendas urbanas a partir de um evento real.

COMO SURGEM AS LENDAS URBANAS

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Certamente você já se amedrontou na infância ou já ouviu falar na lenda da Kombi preta que sequestrava crianças, do homem do saco ou alguma outra história misteriosa e macabra. Estas lendas surgem do imaginário ou servem como uma estratégia de contenção e controle. “O medo é um instrumento poderoso de contenção, às vezes é uma ferramenta pedagógica bem torta de controle sobre o outro indivíduo que quando ganha grande proporção, toma o status de lenda urbana”, acredita André Dória.

A oralidade é grande responsável pelo surgimento de histórias que provocam sensações de insegurança e pavor, este tipo de evento pode causar histeria coletiva, desencadeando diversas patologias ligadas ao estresse causado pela tensão. “Nosso corpo é preparado para luto e fuga e as situações de medo acionam o sistema neurológico que buscam alívio para o estresse em situações prazerosas, mas esta defesa funciona em curto prazo”, afirma o mestre em psicologia, Cláudio Seal. Os efeitos do prolongamento destes eventos podem provocar problemas como ansiedade generalizada, depressão, síndrome do pânico e doenças psicossomáticas.

O JOGO DA IMITAÇÃO

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O professor e psicólogo canadense Albert Bandura estuda o efeito da imitação ou da modulação do comportamento humano. Este efeito está relacionado a capacidade de se basear em atitudes de outros indivíduos para saber como se colocar em determinada situação e para identificar se é seguro ou agradável.

Este efeito pode acontecer pela identificação ou desejo de ocupar o lugar ideal, antes esta análise era feita tête-à-tête, mas com o advento da tecnologia e conexão com a internet as dimensões de comparação e identificação estão cada vez maiores. “Isso causa um efeito manada as pessoas se protegem antes que o problema chegue. Então basta um comentário ou ver o outro passar por situação semelhante para se comportar de maneira protetiva”, explica o mestre em psicologia Cláudio Seal.

Uma curiosidade relevante é que não só o causador do pânico pode ser imitado, mas as vítimas também, “a imitação também pode vir de quem sofre o hábito e não vem da causalidade e existem várias especulações como notoriedade, visibilidade e ao estado de sugestionabilidade, daí você imagina que qualquer coisa pode se relacionar ao evento que te causa medo”, avalia Dória.

CIRCO DE HORRORES

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Respeitável público, nem só de palhaçadas se faz um palhaço, muitas coisas sinistras podem estar escondidas debaixo das cores, máscaras e maquiagens. Para isso uma possível explicação, “o palhaço é uma figura muito intensa em termos de estimulação, é muito maquiado, de maneira bem forte e colorida e tem vários estímulos e algumas pessoas hiperreativas podem ser estimuladas negativamente. Muitos filmes usam o palhaço como figura de causa de medo, isso cria a contradição e conflito entre duas emoções alegria x pavor gerando um sentimento concorrente que provoca desorientação e conflito emocional”, explica Seal.

O surto de pânico utilizando a figura de palhaços começou na Carolina do sul (EUA) e chegou até Juazeiro na Bahia, o palhaço baiano confessou que imitou os palhaços sinistros para ganhar fama na internet. “A pessoa que imita ou inicia o comportamento que causa transtorno faz pela força da reverberação, pelo efeito que isto causa. Isto gera prazer independente da figura se tornar conhecida, mas pela capacidade da sua mensagem ter atingido as pessoas, por ter reverberado pela sociedade”, pontua Cláudio Seal.

Somos seres criados para a interação e eventos como estes podem levar a um isolamento social, contrariando a razão de ser de cada indivíduo. Não é preciso entrar em pânico, mas vale ligar o alerta.

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