Em depoimento a CPI, chefe da máfia das apostas diz que rebaixou 42 clubes
William Rogatto, apontado pelo Ministério Público do Distrito Federal (MPDFT) como chefe de um esquema de apostas que afetou o campeonato brasiliense deste ano, confessou à CPI no Senado que manipulou resultados esportivos além dos jogos do Santa Maria na atual temporada, rebaixando 42 times em campeonatos estaduais e nacionais.
“Réu confesso, totalmente. Comecei a trazer jogadores de nome, mostrando para ela (Dayana Nunes, presidente do Santa Maria) que eu iria fazer um excelente campeonato. [Em seguida], eu falei que os jogadores meus de nome não tinham condições de ir, mas que ia dar tudo certo. E, infelizmente, eu vim a rebaixar o Santa Maria. Desculpa, mais uma vez, peço perdão para as pessoas”, afirmou Rogatto, que explicou porque é conhecido como “Rei do Rebaixamento”.
“Alguns presidentes sabiam e aceitavam, e alguns não aceitavam, mas eu tinha que chegar. A gente causa sofrimento, às vezes, nas pessoas, por enganar. Eu vinha e bancava o registro dos atletas. Eu rebaixei 42 clubes do Brasil, e eles falam que sou o ‘rei do rebaixamento’. É por causa da prática. Eu não tenho interesse nenhum sobre o time se posso ganhar com ele caindo. Eu não ganho dinheiro ganhando jogo. Eu ganho dinheiro perdendo o jogo, entregando o jogo. É lógica isso, por isso que eles me chamam de ‘rei do rebaixamento’. Sempre rebaixei clube, e clube grande, viu? De primeira divisão estadual”, disse.
Rogatto, que também é investigado por manipulações na Série A3 do Campeonato Paulista, explicou como efetuava-se o golpe. Por meio de sua agência de atletas, a WR10, ele oferecia jogadores para clubes com dificuldades financeiras e operava o esquema, influenciando nos resultados para rebaixar a equipe do torneio estadual ou nacional.
“Qual é meu modus operandi? Pego um time com dificuldade financeira e que não tem dinheiro para disputar campeonato ou pagar taxas da federação, que cobra transferências, registros e tudo mais. […] Aí eu entrava: eu vinha, como quem não quer nada, e falava: ‘E aí, presidente, vamos fazer o time subir? Vai dar tudo certo, a gente vai ser campeão’. Eu tinha uma agência de atletas, a WR10, e falava para os jogadores que eles tinham que ganhar comigo, porém, eles tinham que facilitar os jogos para mim. Eles não entendiam no começo, mas eu explicava certinho e eles falavam: ‘Poxa, a gente está sem salário, sem nada… vamos tentar’. Foi onde iniciei a prática”, enfatizou.
Sem dar muitas informações, Rogatto confessou o rebaixamento do Coruripe de Alagoas, um time “muito forte” do Maranhão, clubes cariocas, paulistas e goianos. “Rio de Janeiro? É terrível isso aí, não vou nem entrar neste mérito, mas o melhor campeonato da minha vida é o Carioca”, afirmou.
O apostador disse que opera de maneira diferente a depender da importância da competição. Com ênfase em times pequenos, o criminoso confessou que a influência em equipes da primeira divisão nacional ocorre de maneira limitada, indo atrás de atletas e árbitros específicos. Já em séries mais baixas, o foco seria na gestão da equipe.
CASO PALMEIRAS E DENÚNCIAS DE TEXTOR
Apesar de dizer que não participou de qualquer esquema envolvendo Palmeiras e São Paulo, Rogatto afirma que John Textor, presidente do Botafogo, não está totalmente errado em relação a prejuízos contra o clube carioca.
“Vocês falaram do John Textor, não é? Não sei as provas que John Textor tem, tá? Mas uma coisa eu posso falar: as pessoas que trabalharam para mim também trabalharam contra ele nesse campeonato, e as pessoas falam que não. Não estou aqui para te enfrentar, Leila [Pereira, presidente do Palmeiras], não quero te enfrentar jamais, não estou falando que você fez ou não, está bom? Mas eu te garanto que o John Textor não está totalmente errado.”, completou.
Mesmo dizendo que não criou esquemas contra o Fogão, o apostador confirma que ganhou dinheiro com a má campanha do time carioca na reta final do Brasileirão.
“Todos os jogos que eu vi que estavam acontecendo, que o Botafogo vinha desestruturado, e o Palmeiras, todos os jogos que eu fiz no Palmeiras eu ganhei. Resultados. Informação corre. Informações chegam, muitas das vezes porque jogador não consegue segurar a boca: ‘Hoje vai ter um resultado ali, tal time vai ganhar e vai tomar uns gols aí’. Eu sou supostamente um apostador, não só de esquema de manipulação. Eu amo apostar. Alguns jogos que eu fiz, ganhei porque tinha a informação”, lembrou.
Apesar das declarações, Rogatto não apresentou provas sobre os casos citados. Mesmo assim, membros da CPI pediram para que o criminoso seja protegido como testemunha especial. Fora do Brasil, o apostador declarou que receberia membros da CPI em Portugal, local onde se encontra.