Em Lauro de Freitas, espetáculo da Paixão de Cristo homenageia Duzinho Nery e celebra retomada após dois anos de pandemia
“Como é belo viver, porque nascer é uma dádiva, viver é uma sorte, celebrar é uma graça”. Essa foi a primeira frase que o público da encenação Paixão de Cristo de Lauro Freitas ouviu, neste domingo (24), pela voz de Duzinho Nery, diretor e produtor cultural homenageado no espetáculo, falecido em dezembro de 2021. A poesia e interpretação deixada pelo agente cultural introduziu não só o último ciclo da vida de Jesus Cristo, com a sua morte na cruz, mas refletiu, nos dias atuais, a superação de todos aqueles que venceram a Covid-19 na pandemia.
A história da Paixão de Cristo tem mais de dois mil anos. A celebração, ao longo do tempo, relembra a morte e ressurreição de Jesus com o propósito da redenção humana. Dar voz e corpo a esse espetáculo teatral foi uma das grandes produções de Duzinho em vida. Neste ano, a encenação completou 22 anos e celebrou o seu legado. Como afirma Márcio Wesley, um dos diretores atuais da peça, o espírito de vanguarda de Duzinho sempre trouxe a Paixão de Cristo uma leitura multicultural que atinge os dias atuais.
“A encenação conta com mais de 200 participantes e se mistura com outras artes. Tivemos quatro grupos de dança e cantores ao vivo. A decisão de dar continuidade ao espetáculo foi dolorosa, mas a população ajudou bastante para manter o legado de Duzinho. Este é um projeto sociocultural que mexe com a cidade toda, de crianças a adultos. E depois de dois anos de pandemia, esta foi uma grande celebração, uma porta de esperança, com a volta das atividades culturais”, relatou Márcio, que também é irmão de Duzinho.
A multiculturalidade da encenação, que é um dos maiores espetáculos a céu aberto da Bahia no nicho da Paixão de Cristo, pode ser vista entre as cenas da cronologia da história, como na passagem de Maria Madalena. Antes de começar as contracenas da considerada pecadora, prostituta ou santa, um grupo de dança se apresentou com a personagem de Maria Madalena ao som da música “Ginga”, da cantora Iza. Na cena de Cristo perante Pilatos, um grupo de ballet traz a dança clássica para sinalizar todo o drama que estaria por vir. Outro exemplo de diversidade artística foi a participação do cantor Arthur Luz.
Na plateia, a prefeita de Lauro de Freitas, Moema Gramacho, se emocionou durante todo o espetáculo. “Agradecemos a Deus por permitir dar continuidade a este ato, que conta a história da Paixão de Cristo, além de agradecer a dona Lindóia e seu Nivaldo, pais de Duzinho, esse artista que manteve acesa a chama da Paixão de Cristo por mais de 20 anos. Esta peça conta com integrantes que são atores do município, oriundos da comunidade e, portanto, merecem o reconhecimento disso, do que fazem por amor”, disse.
Ao lado da prefeita, dona Lindóia e seu Nivaldo acompanharam a encenação com lágrimas nos olhos. A mãe de Duzinho, apesar de muito emocionada, conseguiu expressar o seu sentimento. “Foi muito difícil assistir e muito gratificante também, porque a gente tinha certeza que ele estava aqui com a gente. Ele começou esse trabalho há 22 anos e eu fico feliz em ver que estamos dando seguimento”, contou. A encenação Paixão de Cristo arrecadou alimentos que serão doados para as obras sociais da Paróquia de Santo Amaro de Ipitanga.
A realização do espetáculo contou com o apoio da Prefeitura de Lauro de Freitas, em toda a parte de estrutura, com som, iluminação, produção e liberação geral. A encenação foi realizada tradicionalmente na Praça da Matriz, nos dias 23 e 24. Quem acompanhou os dois dias foi Marisa Santos, de 65 anos. “Eu tenho muita fé em Jesus, é ele que nos ensina o caminho para chegar a Deus. Eu sempre fico emocionada quando vejo essa representação da Paixão de Cristo e por isso vim ontem e hoje”, contou a fiel católica.