Em Manaus, mais dois indígenas morrem após contrair coronavírus
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O Ministério da Saúde confirmou neste sábado mais duas mortes de indígenas por coronavírus. Trata-se de um homem da etnia tikuna, de 78 anos, e de uma mulher da etnia kokama, de 44 anos. A Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) e o Distrito Sanitário Especial Indígena Alto Rio Solimões confirmam seis casos nesta região do Amazonas.
O homem havia sido removido do Hospital de Tabatinga-AM, em UTI Aérea do Estado, para tratar de problemas cardíacos e estava internado no Hospital Delphina Aziz, na capital do Amazonas. Em 25 de março, havia sido transferido para o Hospital Adriano Jorge e, em 31 de março, para o Hospital Francisca Mendes, referência em Cardiologia. Durante o período de tratamento hospitalar, o teste para o novo coronavírus acusou positivo, o que agravou ainda mais seu quadro.
Já a kokama estava internada desde 28 de fevereiro, também em Manaus, para tratamento de anemia hemolítica autoimune. De acordo com os médicos, o quadro da paciente agravou-se após a contaminação do novo coronavírus , quando passou a respirar por aparelhos. Ela morreu na quinta-feira.
De acordo com o atestado de óbito, a indígena faleceu em decorrência de insuficiência respiratória aguda por Covid-19; anemia hemolítica auto imune; e lúpus eritematoso sistêmico.
Também na quinta-feira morreu o adolescente ianomâmi de 15 anos que estava em estado grave. Ele estava internado no Hospital Geral de Roraima desde o dia 3 de abril. Neste sábado, a entidade que representa os direitos dos ianomâmifez um alerta sobre o iminente aumento de casos entre indígenas da aldeia de Alvanir Xrixana e apontou falhas nos cuidados com o garoto desde o primeiro momento em que ele apresentou sintomas da Covid-19, há três semanas. A organização chamou a atenção das autoridades responsáveis para a presença de garimpeiros na comunidade onde a vítima morava.
O Distrito Indígena do Alto Solimões contabiliza seis casos da doença entre indígenas, sendo até agora o maior foco do país entre os nativos.
A primeira confirmação de um indígena contaminado por coronavírus no Brasil foi da agente de saúde Suzane da Silva Pereira, de 20 anos. Ao que tudo indica ela pegou a doença do médico Matheus Feitosa, com quem trabalha atendendo as aldeias da região. Ele foi o primeiro caso do município de Santo Antônio do Içá, no sudoeste do Amazonas, onde a kokama mora.
Ela, por sua vez, contagiou mais três familiares com quem manteve contato: a mãe, de 39 anos; a filha Yara, de 1 ano e 10 meses; e o primo de quarto grau, de 37 anos, todos da etnia Kokama. Os exames do pai e do marido de Suzane deram negatvo.
Em entrevista, por telefone, Suzane contou como tem sido a sua rotina desde que descobriu a doença, do medo de infectar seus familiares e do preconceito sofrido durante esse período que se isolou em casa.
Sesai contabiliza menos casos
O Brasil já soma ao menos dez casos de coronavírus entre indígenas de seis etnias e três estados diferentes. Além dos registros de quatro familiares da etnia Kokama revelados pelo GLOBO, em Santo Antônio do Içá, no Amazonas, outros seis pacientes testaram positivo para a Covid-19. Uma delas, uma senhora borari de 87 anos, só teve o diagnóstico confirmado pela secretaria de Saúde do Pará, depois de ter sido sepultada, na vila de Alter do Chão, distrito de Santarém.