‘Estamos às vésperas de um novo Carandiru’, diz ex-integrante do MP
“Episódios como o de Carandiru estão prontos para se repetir e até mesmo se agravar”, diz o advogado criminalista Roberto Tardelli, ex-integrante do Ministério Público Estadual de São Paulo, com amplo conhecimento sobre o sistema penitenciário.
Tardelli explica as razões de considerar como muito mais graves as circunstâncias que favorecem a repetição de um massacre como o ocorrido em 1992 no hoje extinto complexo penitenciário do Carandiru, na capital de São Paulo, em que 111 presos foram assassinados em confronto direto com a Polícia Militar após uma rebelião nas galerias do presídio.Quando uma pessoa é colocada dentro de um presídio, ela se vê obrigada a escolher do lado de qual facção criminosa vai ficar. Se não escolher facção alguma, essa pessoa certamente será morta. Some a isso o fato de se colocar em espaços reduzidos – como são as celas — um grande número de pessoas (70 onde só cabem 25, por exemplo), sem qualquer condição sanitária, e você tem o cenário pronto para eclosão de uma rebelião. É um quadro degradante. Torna-se impossível controlar o que se passa num ambiente desses.”O ex-Promotor Tardelli explica que nesses casos “quem passa a ditar as regras é o interno, é a facção, e o Estado fica inteiramente fora desse controle, porque ele mesmo, Estado, desrespeitou as regras, confinando em espaços mínimos um grande número de pessoas. Surgem então as rivalidades, as brigas e as disputas entre as facções. O quadro é degradante. O que aconteceu no Carandiru? Os presos perceberam que o Estado não conseguia mais cumprir seu papel de organizador de disciplina, e então se criaram as facções, vieram as rebeliões, o motim, o confronto e, por fim, o massacre.”
Para Roberto Tardelli, a opinião pública está certa ao avaliar que o Estado perdeu o controle sobre os presídios:
“Os estabelecimentos penais estão um caos, e só quem está dentro do caos é que consegue administrá-lo. E quem são esses administradores senão os próprios presos? A população está certa: as autoridades perderam toda e qualquer condição de gerir a disciplina nos presídios.” (Sputnik)