Gustavo Ferraz, que continua preso na Papuda, admite que buscou dinheiro em SP a mando do ex-ministro Geddel

 Gustavo Ferraz, que continua preso na Papuda, admite que buscou dinheiro em SP a mando do ex-ministro Geddel

              Ferraz teria recebido dinheiro vivo de um emissário de Eduardo Cunha. 

Gustavo Ferraz, aliado do ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB) preso na sexta-feira por também ter manuseado os R$ 51 milhões apreendidos num ‘bunker’, admitiu em depoimento à Polícia Federal (PF) ter buscado dinheiro em espécie em São Paulo a mando de Geddel e entregue por um emissário do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Fontes com acesso ao depoimento de Gustavo afirmam que a admissão foi feita à PF no sábado.

Geddel e seu aliado foram presos preventivamente na sexta, em Salvador, por decisão da Justiça Federal em Brasília. Eles foram transferidos à capital federal no mesmo dia. Os dois estão no Presídio da Papuda. A PF encontrou impressões digitais de Geddel e Gustavo nas notas e no material que envolve o dinheiro. A apreensão dos R$ 51 milhões foi a maior já feita na história do país.

Geddel decidiu ficar calado no depoimento à PF, segundo fontes ouvidas pela reportagem. Gustavo também não teria entrado em detalhes sobre o dinheiro, admitindo, porém, a busca de quantias em 2012, a mando do ex-ministro da Secretaria de Governo do presidente Michel Temer. Na decisão da prisão, o juiz Vallisney de Souza Oliveira reproduz o episódio sobre esta busca de dinheiro, apontada pela PF e pelo Ministério Público Federal (MPF).

Uma possível fonte dos R$ 51 milhões apreendidos, segundo o MPF, é a “retirada em espécie” a cargo de Gustavo num hotel em São Paulo, em 2012. Gustavo teria recebido dinheiro vivo de um emissário do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), como suspeita a PF. O aliado de Geddel deu “auxílio direto e essencial” para a acomodação dos R$ 51 milhões no “bunker”, segundo o MPF.

Gustavo era diretor-geral da Defesa Civil da Prefeitura de Salvador desde janeiro deste ano, nomeado pelo prefeito ACM Neto (DEM). O aliado de Geddel, que também é do PMDB, foi exonerado do cargo após a prisão.

A PF e o MPF suspeitam ainda que parte da fortuna guardada por Geddel em “bunker” em Salvador era oriunda de malas e sacolas de dinheiro entregues pelo doleiro Lúcio Funaro, operador de esquemas de políticos do PMDB. A suspeita aparece nos relatórios que embasaram a nova prisão preventiva de Geddel.

No relatório em que pede a prisão do ex-ministro e de seu aliado, o MPF ressalta que já se levantava a possibilidade de ser encontrado dinheiro no “bunker” em razão de depoimento de Funaro à PF. O doleiro disse aos policiais ter feito várias viagens em seu avião ou em voos fretados para “entregar malas de dinheiro” a Geddel. “Essas entregas eram feitas na sala VIP do hangar Aerostar, localizado no aeroporto de Salvador, diretamente nas mãos de Geddel. Em duas viagens que fez, uma para Trancoso e outra para Barra de São Miguel, o declarante fez paradas rápidas em Salvador para entregar malas ou sacolas de dinheiro”, cita o depoimento transcrito pelo MPF.

O fato de os R$ 51 milhões terem sido apreendidos em caixas e malas reforçam a suspeita, segundo a Procuradoria da República no DF. “A forma como foram encontrados os valores, em caixas e malas, bem como a expressiva quantia corroboram as declarações do operador financeiro Lúcio Funaro, de que os valores transportados por Funaro tinham como destino o ex-ministro Geddel.”

O ex-ministro é suspeito de receber R$ 20 milhões em propinas para liberação de crédito do FI-FGTS a empresas. Ele foi vice-presidente de Pessoa Jurídica da Caixa Econômica Federal entre 2011 e 2013, nomeado no cargo pela então presidente Dilma Rousseff.

Funaro assinou um acordo de delação premiada com a Procuradoria Geral da República (PGR) em que faz acusações a diversos políticos do PMDB, entre eles o presidente Michel Temer. A colaboração já foi homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), será usada na nova denúncia da PGR contra Temer e permanece sob sigilo. Geddel também é delatado. O depoimento à PF em que o doleiro disse ter entregue dinheiro vivo ao ex-ministro da Secretaria de Governo de Temer foi dado fora do acordo de delação.

Ainda conforme o MPF, o edifício onde estavam o “bunker” com os R$ 51 milhões fica a apenas um quilômetros do prédio onde o político baiano cumpria prisão domiciliar. “A proximidade permite que o deslocamento entre as duas localidades, envolvendo altíssimos valores, seja feito sem maiores imprevistos”, diz a Procuradoria no pedido de prisão.

O Globo

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