Intervenção no Rio de Janeiro teve resistência de aliados

Na manhã da Quarta-Feira de Cinzas, quando milhões de brasileiros curtiam a ressaca do carnaval, no Palácio do Planalto começava a tomar forma definitiva o movimento mais arrojado de Michel Temer desde que ele assumiu a Presidência, em maio de 2016. Apesar de ela ser chamada de “jogada de mestre” por assessores fiéis e marqueteiros bem remunerados, a intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro deixou feridas ainda abertas na relação de Temer com o Congresso Nacional. No início, a decisão não foi unânime no meio político, pelo contrário. Ela enfrentou resistências dentro e fora de Brasília, vocalizadas pelos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE). Relatos colhidos pelo Estado com fontes que tiveram acesso direto aos fatos ocorridos entre quarta, 14, e sexta-feira, 16, quando a medida foi anunciada, mostram o protagonismo do chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco, a resiliência do governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (MDB), e a resistência inicial de Maia e de Eunício. Após reuniões tensas, viagens às pressas e atritos entre os Poderes, os artífices palacianos da controversa medida enterraram, numa tacada, a reforma da Previdência, até então o emblema do atual mandato, e utilizaram pela primeira vez na história um dispositivo constitucional que, na semana passada, colocou um general da ativa no comando da Segurança Pública do Rio. Às 11h da Quarta-Feira de Cinzas, o presidente reuniu assessores para deliberar sobre a crise dos refugiados venezuelanos em Roraima. Mas, como Temer havia voltado do feriado decidido a criar uma pasta para Segurança Pública, as imagens de arrastões em Ipanema acabaram colocando o tema na pauta. Participavam da reunião os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil), Torquato Jardim (Justiça), Moreira Franco e o general Sérgio Etchegoyen, chefe do Gabinete de Segurança Institucional. Os ministros da Fazenda, Henrique Meirelles, e Planejamento, Dyogo Oliveira, eram acionados quando necessário. A conclusão foi de que eram necessárias medidas mais eficazes do que o simples envio de tropas do Exército ou da Força Nacional para o Rio. No dia seguinte, Temer despachou Moreira Franco e o ministro da Defesa, Raul Jungmann, para o Rio. Eles se encontraram com Pezão, às voltas com os estragos causados pela chuva naquele dia, e, no fim da tarde, os três embarcaram num avião rumo a Brasília, onde foram direto para o Palácio da Alvorada. Cerca de meia hora depois, por volta das 19h, Temer chegou. Etchegoyen, Oliveira, Meirelles e Torquato se juntaram ao grupo. Vários cenários foram traçados e Pezão concordou com o plano antes mesmo que a decisão fosse tomada.