Medo do coronavírus se espalha em comunidades indígenas
Várias lideranças indígenas do País manifestaram preocupação com eventual disseminação do coronavírus em suas comunidades no momento em que a Funai publicou portarias que limitam o acesso de agentes do órgão a atividades essenciais nessas localidades.
Várias delas fecharam seus acessos para evitar a contaminação, como em Raposa Serra do Sol, em Roraima, cuja população indígena é de cerca de 71 mil indivíduos. As doenças respiratórias são a principal causa de mortes das populações nativas. “Há um risco incrível de o vírus se alastrar pelas comunidades e provocar um genocídio”, alertou a médica sanitarista Sofia Mendonça, pesquisadora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), à BBC na semana passada. Como é sabido, várias terras indígenas do País são exploradas clandestinamente por madeireiros, garimpeiros, caçadores e missionários, que são possíveis vetores da covid-19.
“Estamos com medo. Se chegar aqui nos Xerentes vai acabar tudo porque nós somos poucos”, disse o cacique Valdemar Sõiti Xerente, de aldeia em Tocantínia (TO), ao G1. No Estado, onde há 15,6 mil indígenas de nove etnias, as lideranças têm bloqueado as estradas de acesso a essas comunidades.
No Amazonas, o Ministério Público Federal cobra respostas do governo estadual após um comitê municipal de prevenção da covid-19 em São Gabriel da Cachoeira atentar para a vulnerabilidade dos 23 povos indígenas a esse tipo de infecção respiratória. “Não podemos esperar a doença chegar no Alto Rio Negro para agir. Precisamos que os órgãos de saúde responsáveis e as instituições possam estar trabalhando juntas, com fluxo de informações e transparência na ação, para evitar que haja uma situação descontrolada no caso de proliferação do coronavírus pelo interior e nas fronteiras do Amazonas”, pediu Marivelton Barroso, do povo Baré, presidente da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), que integra o comitê. Na região sudoeste do Estado, indígenas da etnia Tikuna tiveram, por exemplo, contato com um médico contaminado pelo novo coronavírus, levando oito deles ao isolamento.
No Acre, o bloqueio das comunidades tem sido feito com correntes, como a do município de Mâncio Lima. Segundo a coordenadora do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) do Alto Juruá, Iglê Monte, “foi criado um plano de contingência para direcionar nossas ações. Esse plano foi construído junto às lideranças e conselhos, que eles que estão na ponta e fazem a conscientização de entrada e saída de pessoas que não moram nas aldeias”, segundo informou à Globo.
Outro foco de ameaça à saúde dos indígenas do País são os missionários e pastores. O Instituto Socioambiental informa que dois missionários norte-americanos, especialmente o pastor Josiash Mcintyre, estariam pressionando membros da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), cuja sede fica em Atalaia do Norte, Amazonas, para conseguir uma autorização de entrada, exigida pela Funai. Há relatos de indígenas sobre ameaças do pastor de atear fogo na aldeia caso não tivesse seu acesso liberado ao local. Nesse território, vive a maioria dos povos indígenas em isolamento do País.