‘Não foi só uma pessoa’, diz irmã de auxiliar morto em show de arrocha
Familiares e amigos de Uanderson Santana Santos, 26 anos, desconfiam que mais pessoas participaram da ação que terminou no seu assassinato. O auxiliar de obras foi morto a facadas no domingo (6), na saída do show ’10 horas de arrocha’, no Parque de Exposições de Salvador. Uanderson teria se envolvido em uma briga com Luis Tiago Cavalcante da Silva, o suspeito do crime, ainda dentro da festa.
Retirado do local por seguranças, Luis teria ido em casa buscar uma faca, voltou para o Parque e surprendeu a vítima com três golpes, sendo um na nuca, um no peito e outro no pescoço. O crime gerou uma confusão generalizada, mas o autor do crime foi preso em flagrante por policiais militares. Apesar disso, familares que foram ao sepultamento de Uanderson acreditam que mais responsáveis não foram presos.
“Não foi só uma pessoa, não tem como ter sido. Meu irmão tinha golpes no pescoço, na nuca e mais próximo do peito. Teve uma confusão na hora e mais gente pode ter ajudado”, falou a irmã de Uanderson, que preferiu não revelar o nome. A namorada do auxiliar de obras, que estava na hora do crime, não conversou com a reportagem e, muito abalada, não conseguiu dizer se Luis estava acompanhado de mais alguém.
A perícia realizada em Uanderson aponta para dois ferimentos feitos pela faca encontrada com Luis, mas indica também que o terceiro ferimento seria causado por uma garrafa de vidro. Além de acreditar que essa garrafa teria sido usada por uma segunda pessoa, um amigo de Uanderson, que prefere não se identificar, acredita que ajudaram Luis de outras formas.
“Eu também acredito que outra pessoa possa ter ajudado na hora de matar, mas não precisa ter ido lá e enfiado a faca ou a garrafa nele para participar. Como ele encontrou Uanderson? Ele deu sorte ou alguém ficou vigiando? Será que alguém ajudou ele a encontrá-lo? A gente quer essas respostas”, diz o amigo, ainda muito abalado com o caso.
Não há informações de mais pessoas presas no caso, além da namorada de Uanderson, que acabou fichada por lesão corporal ao acertar uma garrafa em um policial no momento em que tentava defender ele do ataque de Tiago. Apesar de detida, pelas circunstâncias do caso, ela foi liberada pela polícia ainda no domingo.
Em nota, a Polícia Civil informou que detalhes sobre a investigação não estão sendo divulgados, a fim de que a apuração do crime seja preservada.
Homicídio qualificado
O Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) confirmou que Luis Tiago vai passar por audiência de custódia às 9h30 desta terça-feira (8). O advogado criminalista César Faria pondera, porém, que a audiência não avalia o crime em si, mas sim a legalidade da prisão. O suspeito, que estará na companhia de um advogado ou defensor, responde a perguntas sobre a forma como foi preso.
“Na audiência de custódia, o juiz avalia se aquela prisão foi feita de maneira legal. A partir disso e também de outras questões, como o histórico do acusado, ele toma uma decisão. Ou seja, informações sobre antecedentes criminais pesam bastante, caso ele já tenha sido preso antes”, fala.
Sebástian Mello, advogado criminalista e professor de Direito Penal da Ufba, explica que há três decisões possíveis do juiz: conversão da prisão para preventiva, mantendo o suspeito preso até conclusão do inquérito e julgamento, a liberação do acusado e a adoção de medidas cautelares como uso de tornozeleira eletrônica, prisão domiciliar e outras limitações.
“É provável, no entanto, que o juiz opte pela conversão da prisão em preventiva. Isso é definido, de modo geral, por ordem pública, já que é um caso de muita repercussão e que gera uma revolta em familares, amigos e pessoas próximas à vítima. Não dá para saber o que vai ser definido porque depende do juiz, mas a conversão é o mais provável”, avalia o professor.
Ainda de acordo com Mello, Luis deve ser indiciado pelo crime de homicídio qualificado. “Isso porque, pelo que foi dito na imprensa, ele matou a vítima por um motivo torpe e, além disso, a surprendeu pelas costas, reduzindo sua chance de se defender”, conta ele. A confusão entre Luís e Uanderson na festa se deu porque o agressor teria importunado a namorada da vítima.
O advogado César Faria alerta ainda que o fato de ter premeditado o crime pode pesar contra o acusado na hora do indiciamento e julgamento. “Em tese, pelo que foi informado, ele pode ser indiciado por homicídio qualificado, um crime hediondo. Ele premeditou a ação, foi em casa, pegou a faca e teve tempo para pensar, mas mesmo assim o fez”, completa.
Como se trata de homicídio qualificado, o advogado explica que o suspeito poderia pegar até 30 anos de prisão. O caso deve ir a júri popular, mas não há uma estimativa de quanto tempo devem levar a conclusão do inquérito, indiciamento e julgamento do suspeito.