“O DEM conseguiu refazer a conexão com as ruas”
Favorito à reeleição em Salvador, prefeito diz que seu partido vive o melhor momento desde 2003
Não espere uma resposta do prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), ao questioná-lo sobre a possibilidade de se candidatar ao Governo da Bahia nos próximos anos. “Pelo amor de Deus, eu não posso… Nem especularia, porque tenho eleição para vencer em poucos dias”, disse por telefone o prefeito, que se diz “focado” em Salvador e frequenta a lista dos gestores mais bem avaliados do país. Seu partido, contudo, enxerga para além da capital baiana ao olhar para o prefeito favorito à reeleição, com quase 70% de intenções de voto em pesquisas de opinião. A “vitrine” do Democratas para o Brasil explica na entrevista abaixo a que atribui sua boa avaliação popular e defende que seu partido elabore um projeto nacional para 2018 após as municipais.
Pergunta. Você larga para a reeleição com quase 70% das intenções de voto e como um dos prefeitos mais bem avaliados do país. A que atribui sua popularidade?
Resposta. O primeiro e mais importante ponto é que eu assumi a Prefeitura com consciência de que não devia trabalhar obcecado com a reeleição. Quando cheguei ao Governo, reuni a minha equipe e disse que estava proibido qualquer pessoa pensar ou discutir sobre a próxima eleição. Daí começamos a tomar as medidas necessárias, sempre com a compreensão de que eleição era a consequência de um trabalho de todo o mandato. O que estamos colhendo agora são os frutos de um trabalho de quatro anos.
P. O que diferencia esse trabalho do realizado por prefeitos que enfrentam mais dificuldade para se reeleger?
R. Foi um trabalho de organização administrativa, de reestruturação da gestão pública de Salvador. Trabalhamos com parâmetros que não existiam em nossa cidade, modernizando a Prefeitura, trabalhando com planejamento estratégico, equilibrando as contas desde o princípio do Governo e fazendo sobrar recursos para poder usá-los em investimento. Somos a primeira Prefeitura do Brasil em investimento com recursos próprios: 97% de todas as obras feitas em Salvador pela Prefeitura são com recursos próprios do município.
P. Muitos gestores públicos atribuem a baixa popularidade à ausência de recursos nos últimos anos. De onde saiu o dinheiro da Prefeitura de Salvador?
R. Logo no começo promovemos um sério ajuste nas contas públicas, melhorando a qualidade do gasto e revisando despesas. Fizemos uma redução de 20% em todos os contratos de terceiros com a Prefeitura. Implantamos novos padrões de contratação pública, para garantir economia nos serviços, principalmente nos grandes contratos, como locação de automóveis e contratação de mão de obra. Por outro lado, fiz um esforço muito grande em elevação de receita. Sobretudo combatendo a inadimplência e a sonegação. Fomos muito atrás de arrecadar para o município o que era perdido. Com isso, reequilibrei as contas da prefeitura e controlo a execução orçamentária pessoalmente e com lupa, de maneira a não gastar um centavo a mais do que a prefeitura pode.
P. Depois de diminuir de tamanho e relevância na política nacional, o Democratas ressurge com um presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e ganha espaço com a crise do PT. Até onde o partido pode chegar?
R. Sem dúvida alguma, em retrospectiva de 2003 para cá, este é o melhor momento do partido. Nós pagamos um preço alto pela opção que fizemos de ser oposição. Uma opção de coerência com as urnas e com a vontade do eleitor. O Democratas saiu de 84 deputados e chegou a ter 20 depois da eleição de 2014. E depois voltou a crescer, porque a política, além de ser cíclica, premia neste momento, no Brasil, as pessoas que tiveram coerência. Agora, com o fim de um ciclo do PT no plano nacional, é claro que se abrem várias oportunidades para quem fez oposição. O partido começou a crescer, ganhou quase 10 deputados, é principalmente um partido que está com imagem leve no Brasil, que conseguiu criar conexão com as ruas, o que não é fácil. Hoje os nossos líderes na Câmara e no Senado têm grande apelo junto à população que acompanha a política, exatamente pela posição que tomaram. Acho que o partido tem de ter uma visão de médio, longo prazo. De fato o partido tem de se preparar para ter um projeto nacional próprio. Se é agora, em 2018, ou um pouco mais adiante, só as circunstâncias vão indicar. Porém, eu defendo que, passada a eleição municipal, o partido sente para pensar num projeto para 2018.
P. E onde o prefeito ACM Neto entra nesse projeto nacional?
R. Primeiro temos que trabalhar muito para conseguir uma vitória aqui, em Salvador. Eu sigo aquela velha lógica de que quem tem tempo não tem pressa. Eu não tenho pressa. O partido tem que se organizar e se preparar. Talvez seja um caminho apresentar a pré-candidatura de [o senador] Ronaldo Caiado (DEM-GO) à Presidência da República. Eu quero ser um colaborador desse processo. Se vou entrar em campo ou não, só o futuro dirá. Atualmente, eu só foco na Prefeitura de Salvador.
P. Dirigentes do DEM têm celebrado sua gestão como um exemplo de como podem funcionar as parcerias público-privadas. O que Salvador tem a mostrar?
R. A concessão do serviço de transporte público, que é o mais importante da Prefeitura… Nós fizemos a concessão que estava há 40 anos na gaveta. Tiramos do papel e isso permitiu um modernização e uma renovação de todo o serviço com investimentos privados, além de ter permitido arrecadação pode parte da Prefeitura de outorga onerosa paga pelos empresários. Outro modelo de sucesso com a iniciativa privada é o dos nossos eventos, como o Carnaval e o Réveillon. Isso nos permitiu arrecadar muito mais com patrocinadores privados. Mais da metade do Réveillon de Salvador é custeado pela iniciativa privada. Isso é fundamental, porque Salvador é uma cidade turística, que precisa e vive disso.
P. A exclusividade para a cerveja Schincariol no último Carnaval gerou polêmica…[até 2014 não havia contratos fechados com só uma cervejaria]
R. Com essa parceria, a Prefeitura deixou de gastar e ainda começou a arrecadar. Nós apuramos a utilização das marcas das empresas privadas. No caso da relação com as cervejarias, nós conseguimos aumentar o valor da arrecadação oferecendo exclusividade. Neste ano, já fechei e anunciei um contrato de 30 milhões de reais com a Ambev. Era a Schin, tinha uma reação, e no próximo ano será a Skol.