‘O primeiro é seu’, disse atirador antes de matar jogador no Rio Vermelho

 ‘O primeiro é seu’, disse atirador antes de matar jogador no Rio Vermelho

O tiro que matou o jogador de basquete amador Edinei Moreira Bahia, 30 anos, não foi disparado de forma aleatória. Essa foi a informação passada pelos amigos que estavam com ele quando tudo aconteceu, na madrugada de domingo (5). Além de Edinei, outras duas pessoas foram baleadas durante o ataque, ocorrido por volta das 4h no Largo de Santana, um dos mais movimentados do bairro do Rio Vermelho, em Salvador.
O motorista Josualdo Cardoso, 26, contou que ele, junto com Edinei e outros três amigos, entraram em uma boate que fica na região por volta de 1h30. O grupo pediu alguns baldes de cerveja e o jogador aproveitou o momento para fazer algumas selfies. Os amigos seguiram se divertindo até notarem que um dos baldes havia desaparecido.
“Ele (o atirador) reclamou que um balde de cerveja dele havia sumido, e um dos nossos também sumiu. Na hora, Edinei falou com ele que a gente também tinha sido roubado, e reclamou que isso era um absurdo. Ele até chamou o garçom para reclamar”, relatou Cardoso.
“Na saída da boate, depois que o show já tinha terminado, o cara veio para cima da gente com a arma em punho e disse: ‘Eu quero minha cerveja. O primeiro é seu’, e deu um tiro no peito de meu amigo. Foi tudo muito rápido”, complementou Cardoso.

O amigo da vítima contou que depois de atirar em Edinei, o homem virou para outro amigo do jogador de basquete e disparou. O rapaz conseguiu correr, mas os tiros acertaram José Raimundo de Jesus, que passava no momento. O assassino fez mais alguns disparos, o que provocou correria e empurra-empurra no largo, que estava lotado.

Cardoso disse que escapou porque conseguiu se abrigar em uma rua próxima, mas uma das balas acertou o ambulante Rui Moreira Bispo, 61, que trabalhava no local. Depois disso, o assassino, que segundo parentes da vítima, é um policial militar, fugiu. 

Preocupação com a família

Edinei foi socorrido pelo amigo de infância e também jogador de basquete, Alexsandro Barbosa, 30, para o Hospital Geral do Estado (HGE). Ele chegou na unidade de saúde com vida, mas não resistiu ao ferimento. O amigo contou que a todo instante o jogador pedia para que ele tomasse conta da família dele.
“A gente combinou de se encontrar, mas eu cheguei muito tarde. Nem entrei na boate, nos encontramos na saída. Quando o cara atirou nele, eu estava do lado. Ele só não mirou em mim porque não sabia que eu era amigo de Edinei”, analisou a testemunha. 
“Quando eu coloquei ele no carro para dar socorro, ele (Edinei) pedia o tempo todo para a gente tomar conta do filho dele, o garoto tem 4 anos”, continuou Barbosa, emocionado.

Atirador em selfie

Toda a ação foi registrada por câmeras de vídeo da região. A família e os amigos da vítima contaram que o assassino aparece também em uma das selfies feitas por Edinei, na boate. Ele estava com um amigo no momento do crime e já teria sido identificado. O PM mora na Federação, conforme os parentes da vítima, que não cederam a selfie feita por Edinei.
O caso está sendo investigado pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). A Polícia Civil disse que seis pessoas foram ouvidas sobre o crime até o momento, mas não passou detalhes da investigação.
Oportunidade fora

Edinei tinha 20 anos quando deixou o bairro de Alto de Coutos, no Subúrbio Ferroviário, para tentar a vida no Rio de Janeiro. Ele se mudou com a esposa, Janicleia Santos, então com 17 anos. O casal passou a morar no bairro da Vila Madalena, local onde ele continou jogando basquete, e onde começou a trabalhar como estofador para algumas emissoras de televisão.
Alguns anos depois, o pai, a mãe e a única irmã dele também mudaram para o Rio. A família contou que nos últimos anos o casal abriu um trailer onde vendida bebidas, e trabalhava com promoção de eventos. A última vez que Edinei esteve em Salvador foi em outubro do ano passado. No mês seguinte, ele perdeu o pai.

Na última sexta-feira (3), ele desembarcou no Aeroporto Internacional de Salvador para passar seis dias na cidade. Visitou amigos de infância em Fazenda Grande do Retiro, e foi até a praia da Ribeira. No sábado, participou de um jogo de basquete no Iceia, no Barbalho, depois saiu com os amigos para comemorar a vitória na partida. O grupo esteve também no Imbuí e, em seguida, foi para o Rio Vermelho.
“A ironia de tudo isso é que quando a gente estava no Imbuí ele disse que queria ir para outro lugar porque ali era muito exposto. Queria um lugar fechado para se sentir mais seguro. Então, fomos para o Rio Vermelho. Pagamos R$ 10, cada um, para entrar”, relembra Cardoso.
“Ele morreu por uma cerveja, e quem estava bebendo cerveja era a gente. Ele estava tomando uísque”, conclui o amigo.

Dor e desamparo da família

A esposa, o filho, a mãe e a irmã de Edinei chegaram no Departamento de Polícia Técnica (DPT) de Salvador às 19h12, após passarem mais de 24 horas na estrada. Eles saíram da Vila Madalena por volta das 18h de domingo. Janicleia contou que a família do jogador que mora na Bahia disse para ela que ele sofreu um acidente, antes de dar a notícia completa.
“Meu marido era um homem de bem que foi morar no Rio de Janeiro para batalhar pela vida. Ele dizia que o maior sonho dele era jogar basquete profissional e ver nosso filho crescer. Esse assassino matou meu marido e o pai do meu filho. Me deixou só. Como eu vou criar meu filho agora? Ele matou um trabalhador e eu quero justiça”, afirmou a viúva, sem se identificar.

Emocionada, a mãe de Edinei, Vanda Moreira, 50, precisou ser amparada pelos familiares. Ela teve dificuldade para caminhar até a sala do IML, onde fez o reconhecimento do corpo do jogador. “Ele mantou meu filho por causa de uma cerveja. Ninguém sabe a dor que eu estou sentindo. Eu peço às mães e pais desse país que não deixe esse crime ficar impune. Só quem é mãe pode imaginar a dor que eu estou sentindo”, afirmou.

O corpo de Edinei será sepultado hoje, em Salvador, no Cemitério Quinta dos Lázaros.
A Liga Super Basketball afirmou que Edinei Bahia já havia sido campeão do estadual amador no Rio de Janeiro vestindo a camisa do Perphorma, em 2011. Ele também jogou pelo Bad Angels e Anchieta Fears.

Correio

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