O que está por trás da venda do Hospital da Bahia
A notícia de que o Hospital da Bahia seria vendido ao grupo Rede D’Or causou um furor no mercado hospitalar e serviços de saúde nesta semana. Por causa disto, a Dasa (Diagnósticos da América), que administra a unidade de saúde, e a rede divulgaram notas à imprensa nesta sexta-feira (8) nas quais negam a negociação. A reação das empresas era esperada por segmentos da área. Ambas estão na bolsa de valores e acordos neste sentido precisam ficar em sigilo até a concretização sob pena das ações despencarem.
Na nota enviada aos jornalistas, na qual refuta a existência de uma negociação, a Dasa ressaltou que o comunicado também era direcionado aos “acionistas e ao mercado” para esclarecer que não estava vendendo o Hospital da Bahia para a Rede D’Or. No entanto, segundo apuração do CORREIO, as conversas entre as empresas ainda ocorrem em segredo para evitar turbulências no mercado hospitalar. A Dasa e a D’Or, inclusive, contrataram uma terceira empresa para fazer a ‘valuation’ – isto é, análise do valor justo da unidade de saúde.
Segmentos da área avaliam que o Hospital da Bahia junto com a clínica AMO – especializada em tratamento de câncer – estão estimados em R$ 1 bilhão. A clínica, que também pertence à Dasa, entraria no pacote de vendagem, apesar de estar com as contas no azul. O receio da Rede D’Or é que a compra da unidade de saúde seja barrada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), órgão vinculado ao governo federal que avalia fusões e aquisições entre empresas para garantir que essas operações não comprometam a competitividade do mercado.
Como a Rede D’Or já controla quatro hospitais em Salvador e região – Aliança, São Rafael, Aeroporto e Cardio Pulmonar -, há um temor de que o Cade considere um monopólio a obtenção de mais uma unidade de saúde – o Hospital da Bahia. O monopólio acontece quando uma única empresa domina o mercado, o que lhe permite influenciar os preços e a oferta. Se as tratativas entre a Dasa e a rede emperrarem ou o conselho impedir, a aposta é de que o hospital, que fica na Avenida Magalhães Neto, será adquirido pela operadora de saúde Hapvida.
Planserv
Foi por causa da situação do Planserv – plano de saúde dos servidores do governo estadual – que as negociações da Dasa e a Rede D’Or tornaram-se públicas. A D’Or, que é a maior rede privada de hospitais do país estimada em mais de R$ 100 bilhões, teria pedido a Dasa que cancelasse o acordo com o Planserv antes de comprar o Hospital da Bahia.
De acordo com integrantes da área médica, o compliance da rede – conjunto de regras e procedimentos – proíbe contratos com o poder público. Por essa razão, as unidades de saúde do grupo não atendem o Planserv. Nesta semana, então, o Hospital da Bahia informou que deixaria de fazer atendimentos emergências e de urgências aos beneficiários do plano estadual.
A Dasa disse que tentou por meses alinhamento com o governo Jerônimo Rodrigues (PT) para haver um equilíbrio econômico, mas não chegaram a um acordo e então decidiu romper o contrato. Profissionais que já atuaram nos setores privados e públicos da área médica avaliam que a empresa pressionou a administração petista a pagar mais do que estabelecido na tabela do Planserv, e a gestão petista recusou.
Nesta semana, o governador transferiu a responsabilidade pelo fim do contrato ao hospital. Ele disse ainda “estar no limite” em relação à situação do Planserv. Também reconheceu que o encerramento dos atendimentos na unidade de saúde trará “transtornos” ao sistema de saúde. E foi o que aconteceu já nesta semana. Após baterem com a cara na porta do Hospital da Bahia, os pacientes recorreram a outros lugares, como o Hospital de Brotas, que lotou com atendimentos mais demorados.
“Pago quase R$ 2 mil de Planserv e, toda vez que preciso usar, é um sacrifício. É um desrespeito com os servidores”, reclamou a professora aposentada Maria Andrade, de 68 anos.
fonte: correio