Os desafios da advocacia para a mulher negra

Que a advocacia em si já é um desafio, nós, operadores do Direito já sabemos. Mas, existe uma vertente mais ampla quando levamos ao viés da cor.
Em que pese, falarmos de igualdade e equidade, em muitos momentos, dentro da nossa sociedade, e dentro da nossa própria comunidade do Direito somos medidos também pela nossa cor de pele ou testados a saber se o cargo que ocupamos, ou a carteira que suamos pra ter de fato foi “válida”.
Sim, em parêntese porque até o nosso empenho e mérito são constantemente validados.
Sabemos que na Bahia, estado com a maior proporção de pessoas negras autodeclarada, segundo o site do governo da Bahia, ainda temos um grande enfrentamento e combate à atitudes racistas.
Mas, como isso reflete na advocacia?
Ser uma pessoa negra na advocacia impõe desafios que vão muito além do exercício técnico da profissão. Trata-se de enfrentar, diariamente, barreiras estruturais e simbólicas que atravessam raça, classe e gênero.
A ascensão de uma pessoa negra no espaço jurídico ainda carrega um legado de representatividade e quebra de padrões. Até porque, os espaços jurídicos – tribunais, bancas renomadas, escritórios e até os cargos em concursos – continuam sendo, majoritariamente, ocupados por pessoas brancas.
Sentimos um racismo velado, que pode surgir de olhares desconfiados, na falta de credibilidade atribuída a nossa fala ou na constante necessidade de provar nossa capacidade.
É a roupa sendo julgada no fórum, o sobrenome sendo questionado, o cliente que prefere outro profissional.
Além de ressaltar a dificuldade inicial, que começa enquanto ainda estamos no período acadêmico, enquanto bacharel. Muitos não possuem o privilégio de apenas estudar, sendo necessário fazer um malabarismo entre estudo e trabalho, distanciando-se de estágios e afins por alguma das vezes, e assim tendo que optar por um emprego fixo com uma renda comum para auxiliar sua família, ou para custear seu próprio estudo.
Apesar de todos os desafios, a presença negra na advocacia cresce e se fortalece. Mais do que resistir, hoje há projetos, escritórios coletivos, redes de apoio, e uma geração que transforma o direito a partir da sua vivência, criando caminhos mais acessíveis e diversos.
Ser advogada(o) é ter nas mãos um papel desafiador, é fazer parte de uma profissão brilhante e de grande importância, portanto, quando um de nós alcança um ponto de destaque, isso simboliza motivação e acolhimento para os demais.
Assim, o meu desejo é que mais portas sejam abertas por nós, que mais mãos sejam erguidas, para que em um determinando momento não tenhamos que olhar para tons de pele, justamente por entendermos que ali, onde ocupamos espaços, se formou uma grande comunidade, um grande aquilombamento competente e resistente que desmistificou esses olhares julgadores e duvidosos.