Pânico potencializa impacto da covid-19

 Pânico potencializa impacto da covid-19

Coronavírus

A onda de medo que acomete o mundo cresce à medida que o novo coronavírus avança pelos continentes. Impulsionado pela disseminação de informações incompletas ou distorcidas, o pânico também é alimentado por interesses político-econômicos que correm ao largo do foco no bem-estar da população. O clima negativo já afeta setores econômicos, gerando instabilidade e prejuízos de ordens diversas, ao mesmo tempo  incentivando o consumo de itens farmacêuticos e alimentícios e provocando mobilização da indústria  no desenvolvimento de remédios e vacinas que podem render lucros bilionários. Com base em quadros semelhantes já ocorridos no mundo, especialistas dizem que é preciso aguardar o tempo necessário para que o momento de crise seja superado.

No que pese a importância do tema, os efeitos do novo coronavírus são tão preocupantes do ponto de vista econômico quanto sobre a saúde pública. Apesar de especialistas garantirem se tratar apenas de uma variante do vírus da gripe ainda não catalogada pela medicina, mas equivalente a um resfriado, o medo provocado pela incidência da Covid-19 vem derrubando bolsas, influenciando na alta do dólar e do euro, fechando fábricas na China e, de uma forma geral, atrapalhando a vida das pessoas.

“Não há motivo para pânico. Aqui no Brasil as autoridades estão certas ao não fazer alarde, ao pedir prudência, ao tratar o caso como um resfriado, para que não haja corrida aos supermercados, aos serviços de saúde. Os aspectos econômicos são até mais desastrosos que a doença. As pessoas já estão consumindo menos, deixando de sair”, diz o economista, ex-provedor da Santa Casa de Misericórdia da Bahia e presidente do Grupo de Apoio à Criança com Câncer no estado, Roberto Sá Menezes.

Ainda de acordo com ele, tamanha exposição pode ter relação com interesses comerciais ou até mesmo políticos. “A indústria farmacêutica, ou quem fabrica determinado acessório, por exemplo, ganha com a expectativa de elaborar vacina, medicamento. Mas eu não diria que elas fomentam o terror. De qualquer modo é tudo uma questão de tempo, cabendo às autoridades o papel de controle (da situação)”.

Na Bahia, a principal consequência até o momento parece recair sobre o setor do turismo, com o cancelamento de pacotes, remarcação de passagens aéreas, hospedagens em hotel – tanto de quem sai como quem vem para Salvador –, diz a presidente da Associação Brasileira das Agências de Viagens na Bahia, Ângela Carvalho. Segundo ela, um trabalho de gestão junto a fornecedores vem sendo feito no sentido de que “haja uma flexibilidade” por parte das empresas e que elas não cobrem multas.

Roberto Sá Menezes, economista, ex-provedor da Santa Casa de Misericórdia da Bahia: “As autoridades estão certas ao não fazer alarde, ao pedir prudência” | Foto: Shirley Stolze | Ag. A TARDE | 29.1.2020
Roberto Sá Menezes, economista, ex-provedor da Santa Casa de Misericórdia da Bahia: “As autoridades estão certas ao não fazer alarde, ao pedir prudência” | Foto: Shirley Stolze

Impactos

“O Salão Internacional do Móvel de Milão, na Itália, um dos mais tradicionais da área, por exemplo, já mudou a data de abril para junho. Clientes arquitetos que estavam com passagem comprada pediram para trocar (o período da viagem), outros alterando o destino, e as companhias áreas, os hotéis, de um modo geral, estão fazendo isso sem cobrança para viagens marcadas para março, meados de abril. Cada um com a sua política, claro, de forma a minimizar os impactos causados”, diz.

Ainda de acordo com ela, para além do coronavírus, a alta do dólar e do euro é outro motivo de preocupação do setor. “Essa semana ultrapassou todos os limites. As pessoas estão de fato adiando os planos de viajar, evitando circular em aeroportos, o que impacta muito as agências de viagem. Nós temos um mercado muito sensível, quando não é uma epidemia é um atentado, um vulcão (que entra em erupção)”, afirma Ângela.

Do ponto de vista do varejo, o impacto do coronavírus, segundo o economista da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo da Bahia (Fecomércio), Guilherme Dietze, ainda é “zero”. Segundo ele, pelo contrário, deve contribuir para elevar o faturamento do segmento de farmácias, com o aumento da procura por máscaras de uso pessoal, álcool em gel, antigripal, sabonete, suplemento vitamínico, entre outros. “Há um alarde, por falta de informação, mas que no médio prazo deve normalizar”.

Sobre aspectos como a alta de moeda e queda das bolsas, o assessor em investimentos e sócio da corretora Praisce Capital, Eduardo Souza, destaca que o momento é de “cautela”, e que o mercado passa por fase de “volatilidade e aversão a risco”, e que o melhor (que o investidor tem) a fazer é “não se precipitar”. “A recomendação agora é nem comprar nem vender (ações), evitar o efeito manada, pois ninguém sabe para onde vai evoluir. O investimento em fundo prevê um horizonte de 36 a 60 meses”.

Ameaça

“A Bahia exporta para a China commodities como soja e celulose, de modo que não há uma relação direta entre nossas exportações e essa questão de saúde pública. No entanto, pode haver algum efeito indireto sobre o comércio exterior, com o possível impacto da desaceleração da economia chinesa. Mas é difícil quantificar esse efeito. Esperamos que esse surto seja logo controlado e a ameaça para a saúde das pessoas e da economia seja afastada”, afirma o presidente da Federação das Indústrias do Estado da Bahia, (Fieb), Ricardo Alban.

Médico pneumologista e alergologista, Paulo Freitas ratifica que o momento não deve ser de “pânico”. Ele explica que o coronavírus nada mais é do que uma “evolução” do vírus da gripe, geralmente transmitida de uma outra espécie animal para o homem. O especialista lembra ainda que a doença surgiu no inverno rigoroso da China, e que a maioria das epidemias mundiais vem do oriente, “onde se come tudo que rasteja, voa, nada e anda”. Por último, diz que “sempre há um interesse do mercado”.

“Quantos habitantes tem a China? Mais de um bilhão. Dentro do mercado as oportunidades surgem. Pessoas investem para ganhar. Até o momento são poucas as mortes (2,8 mil, segundo a Comissão Nacional de Saúde), e há muito infectado sem sintomas. É preciso não disseminar o medo na população, pois, pelo menos lá, já há problema com desabastecimento, transporte, distribuição (de mercadoria). Aqui a tolerância é maior, estamos no Verão, um clima mais ameno. De resto é lavar as mãos, tapar o rosto ao tossir ou espirrar, evitar beijo no rosto e manter distância. Logo o vírus desaparece”.

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