PF indica que Bolsonaro preparou um golpe quase dois anos antes de ser derrotado nas urnas em 2022
O relatório final da Polícia Federal (PF) que foi usado para indiciar Jair Bolsonaro e outras 36 pessoas por tentativa de golpe de Estado e pelos crimes de abolição do Estado Democrático de Direito e organização criminosa diz que o ex-presidente e seus aliados planejaram uma ruptura institucional no Brasil quase dois anos antes da derrota de Bolsonaro para Luiz Inácio Lula da Silva na eleição presidencial de 2022. A informação é da coluna de Malu Gaspar, no Globo.
O principal ponto defendido pelos investigadores passa sustentar essa tese é uma apresentação de slides encontrada em um notebook do ex-ajudante de ordens Mauro Cid apreendido pela PF. O arquivo foi criado em 22 de março de 2021 – 20 meses antes da eleição, portanto.
De acordo com o documento, a apresentação detalhava o plano de golpe de Estado e contava com um plano de fuga de Bolsonaro para o exterior em caso de fracasso.
O plano encontrado no notebook de Cid foi elaborado quando Bolsonaro já estava em uma ofensiva contra o STF, que teve início logo no primeiro ano do governo Bolsonaro, em 2019, quando foi aberta o inquérito das fake news, mas se intensificou na pandemia de Covid-19 após a Suprema Corte ter reconhecido a autonomia de prefeitos e governadores para adotar medidas de isolamento social, criticadas por Bolsonaro, além da pressão feita pelo ex-presidente pela adoção do voto impresso e a reabilitação política de Lula que ocorreu depois que o STF anulou os processos da Lava-Jato contra o petista.
Ainda segundo o relatório da PF, o plano encontrado no notebook de Mauro Cid previa três cenários que poderia levar o então presidente a avançar para um golpe de Estado: intervenção do STF no Poder Executivo; uma possível cassação da chapa de Bolsonaro à reeleição em 2022 ou caso o veto do STF e/ou do TSE à implementação do voto impresso, caso ele fosse aprovado pelo Congresso. Porém, o projeto foi derrotado na Câmara dos Deputados meses após não chegou a passar pelo Senado.
“Os elementos de prova colhidos demonstram que os investigados planejaram o cenário de enfrentamento de Jair Bolsonaro com o Poder Judiciário, que levaria a uma ruptura institucional. Conforme exposto, tal fato ocorreu de forma mais incisiva no dia 7 de setembro de 2021, quando o então presidente ameaçou o STF e seus ministros, evidenciando a prática de atos contra o regime democrático, restringindo a atuação da Suprema Corte brasileira”, diz trecho do relatório da PF.
“Nesse contexto, mais uma vez se evidencia a utilização de técnicas militares pelos investigados contra o próprio Estado brasileiro com o objetivo de garantir a fuga de Jair Bolsonaro caso a tentativa de Golpe de Estado fosse frustrada”.
De acordo com a publicação, a apresentação usava nomenclaturas técnicas das Forças Armadas e previa a disposição de armas e munições do Estado para serem usadas em uma eventual resistência à Justiça, além do sequestro ou a destruição de estruturas estratégicas para a estabilidade do Brasil por militares cooperados para que as forças golpistas demonstrassem força.
Em caso de fracasso nessas etapas do plano, a ideia era retirar Bolsonaro do país para evitar sua prisão pelo descumprimento das medidas judiciais e a própria investida golpista.
No entanto, pano de fuga só aconteceu em 2022, quando Bolsonaro deixou o Brasil e seguiu para os Estados Unidos a dois dias do fim de seu mandato. O documento indica ainda que o ex-presidente deixou o país para evitar uma possível prisão e esperava o desfecho da conspiração golpista que deu origem aos atos golpistas do dia 8 de janeiro de 2023.