Reprovação de Doria triplica em 1 ano, atinge 39% e já é igual à de Haddad
Há quase um ano no cargo e hoje considerado carta fora do baralho da próxima eleição presidencial, o prefeito João Doria (PSDB) viu sua reprovação crescer e atingir o mesmo nível de seu antecessor, o petista Fernando Haddad.
Segundo pesquisa Datafolha realizada de terça (28) a quinta (30) da semana passada, 39% dos moradores de São Paulo consideram a gestão tucana ruim ou péssima –exatamente o mesmo índice de desaprovação de Haddad ao final de seu primeiro ano no comando da cidade, em 2013.
Doria ainda tem 29% de ótimo ou bom e 31% que apontam a gestão como regular. Só 1% não soube responder.
No caso de Haddad, o mergulho nas pesquisas em 2013 ocorreu após os protestos de junho daquele ano, quando milhares de pessoas foram às ruas do país com uma série de reivindicações contra a classe política. A avaliação negativa dele se manteve alta até o fim do mandato, no ano passado.
Já em relação a Doria, não há um fator único que possa explicar esse desgaste. Do início do ano até agora, a aprovação a Doria caiu 15 pontos percentuais (44% para 29%), enquanto a reprovação nesse mesmo período cresceu 26 pontos (13% para 39%). Somente nos últimos dois meses, sua rejeição subiu 13 pontos –ela estava em 26% no começo de outubro.
Ao longo do ano, a cidade seguiu convivendo com seus transtornos cotidianos, sem sinais claros de mudança em relação à gestão anterior, como as falhas de zeladoria.
São exemplos disso buracos nas ruas, semáforos apagados e praças e parques mal cuidados. Reportagem da Folha desta segunda (4) revelou que áreas vistoriadas e “ajeitadas” por Doria no início da gestão e alvo de propaganda do programa Cidade Linda estão novamente deterioradas.
EXPECTATIVA
Segundo o Datafolha, atingiu o ponto mais alto da gestão a taxa daqueles que declararam que o prefeito fez menos pela cidade do que se esperava. Agora, são 70% (eram 64% em outubro).
Para 17% dos moradores, Doria fez o que se esperava dele, ante 10% que consideram a atuação dele acima da expectativa. Especificamente sobre os bairros dos entrevistados, 83% dizem que Doria fez menos do que se esperava –só 4% dos entrevistados consideram acima do esperado.
Também nesse período de avanço da rejeição, o prefeito passou pela chamada “crise da farinata”, quando atropelou sua equipe ao anunciar a adoção de um complemento alimentar para a população pobre da cidade, produto feito à base de comida doada e próxima do vencimento.
Diante da repercussão negativa, Doria deu um passo atrás, mas logo em seguida anunciou a inclusão do mesmo produto na merenda escolar, sem que o secretário da área tivesse sido avisado. Teve de recuar de novo para, depois, abandonar a ideia.
Outro fator que pode ter contribuído para a queda da avaliação do prefeito foi sua corrida pela vaga de candidato do PSDB ao Palácio do Planalto nas eleições de 2018.
Na guerra fria contra o governador Geraldo Alckmin (PSDB), Doria fez uma série de viagens para outras cidades em dias úteis da semana, o que foi reprovado pela população. Em outubro, 49% dos moradores de São Paulo disseram ao Datafolha que essas viagens do prefeito pelo país traziam mais prejuízos do que benefícios à cidade (35% aprovavam a iniciativa).
Ao perder esse fôlego eleitoral, Doria já sinalizou apoio a Alckmin para a Presidência, mas ainda mantém o time dele em campo para eventual disputa ao governo do Estado. Para isso, além de convencer o PSDB, terá de deixar o cargo em abril, deixando a cadeira nas mãos do também tucano Bruno Covas, seu vice.
RICOS
Na estratificação socioeconômica, a reprovação a Doria se destaca entre os mais pobres (44%), mulheres (44%), pessoas de 35 a 44 anos (44%) e com ensino médio (41%). Já o pico de aprovação está entre os mais ricos (45%), homens (32%) jovens de 16 a 24 anos (32%) e aqueles com nível superior completo (33%).
Na semana passada, o Datafolha ouviu 1.085 moradores da cidade, em um levantamento com margem de erro de três pontos percentuais, para mais ou para menos.
Após serem eleitos como prefeito, Gilberto Kassab (hoje no PSD), José Serra (PSDB) e Marta Suplicy (hoje no PMDB) tiveram, respectivamente, 27%, 23% e 34% de reprovação depois de um ano –contra a marca de 39% tanto de Haddad como de Doria.
Após sua última queda de aprovação, o tucano culpou as dificuldades financeiras herdadas da gestão petista. Para reverter esse cenário, aposta na alta dos investimentos a partir do ano que vem. Para 2017, a quantia não deve passar de R$ 1,5 bilhão, mas em 2018 a gestão tucana prevê no Orçamento atingir a marca de R$ 5,5 bilhões.
O tucano conta ainda com a retomada dos reparos de semáforos e com seu programa de recapeamento de ruas (inclusive com verba das multas) para tentar retomar melhores índices de popularidade.