Roberto Justus no rastro de Trump

O candidato pelo Partido Republicano para a Presidência dos Estados Unidos, Donald Trump, tinha, segundo as pesquisas, chances remotas de ser eleito. Mas venceu a disputa nos EUA. O candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo, João Doria Jr., seguiria na liderança para a disputa do segundo turno, segundo as pesquisas. Mas venceu no primeiro turno. Em comum entre eles, há mais do que terem aprontado uma grande surpresa em seus pleitos. Ambos se apresentaram como candidatos de fora do establishment político e, mais curiosamente, foram apresentadores do programa O Aprendiz, um reality show de empreendedorismo.

Mas esse movimento pode não ter acabado. Há ainda uma outra personalidade capaz de preencher todos os mesmos requisitos: o publicitário Roberto Justus, criador do grupo Newcomm, que apresentou sete edições do programa no País. Ele ainda guarda semelhanças mais anedóticas com Trump, como o cuidado com as madeixas e os sucessivos casamentos com beldades (foi marido de Adriane Galisteu e Ticiane Pinheiro).

Então, não é de se surpreender que a notícia dada por Justus de que considera se candidatar à Presidência em 2018 não foi recebida apenas como piada pronta. Ele fala sério. “Nunca quis me candidatar. Mas, inspirado pelo João e pelo Trump, com quem ideologicamente não concordo, vejo que preciso me posicionar”, disse Justus. “Estou considerando a hipótese.

A última eleição dá sinais de que pode ser a hora de um empresário, não necessariamente eu, assumir e trazer ao Brasil uma visão de metas, planejamento e organização.” O publicitário garante, no entanto, que não tem interesse em fazer carreira política, começar com atribuições menores, como a de prefeito, antes de buscar uma eleição presidencial. “Não tenho nada a ver com isso. Só toparia algo como estão propondo agora, de um mandato de cinco anos e sem reeleição”, afirmou. “Em eleições passadas, houve contatos de partidos e empresários, e agora todo mundo está querendo me apoiar, mas ideologicamente não tenho nenhuma simpatia, contra ou a favor, a qualquer partido. Apenas contra o PT, pelo que ele fez ao meu País.”

Mas, a julgar pelas condições atuais e pela repulsa dos eleitores aos políticos, o seu nome tem apelo para muitas legendas. Além de ser um dos empresários mais conhecidos do País, de ter se destacado como um self-made man, ele tem forte exposição pública, depois de apresentar programas na tevê aberta há 14 anos e continuar à frente do “Roberto Justus Mais”, na rede Record. “Se a eleição fosse hoje, Justus teria o perfil ideal. É um empresário bem sucedido”, diz Carlos Manhanelli, presidente da Associação Brasileira de Consultores Políticos.

Gaudêncio Torquato, consultor político e conselheiro do presidente Michel Temer, acredita no potencial de Justus. “As semelhanças com Trump vão além do topete. Ambos são empresários bem-sucedidos e a sociedade, no momento, busca perfis novos, que não fazem parte da velha política. O que vai definir o sucesso do Justus é o discurso.” Embora Justus ainda esteja longe de ter elaborado uma plataforma, alguns de seus pensamentos indicam como seria um possível governo. Defensor da meritocracia e da boa gestão, ele acredita que pessoas não devem ocupar posições acima de suas qualificações.

“Não colocaria políticos em muitos cargos que eles ocupam, apesar de ser inevitável ceder em alguns casos”, diz. Também é crítico da alta carga de impostos, que, no entanto, não pode servir como desculpas para manobras das empresas. “O maior sócio do empresário no Brasil é o governo”, afirmou. Também gostaria de ver um Estado menor, inclusive, melhorando os presídios por meio de privatizações. “O governo deve cuidar apenas de segurança, educação e saúde.” Antes de convencer os eleitores, Justus precisa resolver a questão dentro de casa, pesar o impacto de uma decisão como essa para a família.

“Agora, poderia ser a hora de descansar”, diz. “Mas. ao mesmo tempo, tenho filha de sete anos, e não quero morar fora do País por causa das faltas de segurança, de educação e de saúde.” O momento poderia ser o ideal para o empresário de 61 anos se reinventar. Em dezembro de 2015, ele começou a vender os 17% de participação que ainda detinha no grupo Newcomm, o qual fundou em 1998, para o WPP, maior grupo global do setor. A holding brasileira é dona de cinco agências, incluindo a Grey, a VML, a Wunderman, a Red Fuse e a Ação. A principal delas é a Y&R, a maior do Brasil, que movimenta mais de R$ 7 bilhões em verbas brutas de publicidade, segundo a Kantar Ibope Media.

Por contrato, Justus deve ficar por cinco anos no conselho de administração do Newcomm, mas já vem buscando novos desafios. Ele se associou ao médico Ruy Marco Antonio, que também vendeu o seu negócio, o Hospital São Luiz. Ambos fundaram a clínica popular de diagnósticos Megamed, que já tem duas unidades na Zona Leste de São Paulo. “Podemos chegar a 250 clínicas, começando pela capital e depois pelo interior de São Paulo”, afirma Justus. “É a minha primeira vez como sócio de um negócio fora da publicidade, depois de 35 anos no setor.” Será a política sua póxima aventura?

 

 

Por Carlos Eduardo Valim

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