SECA: Às vésperas de pior mês, 19% dos municípios da Bahia já decretaram emergência

A falta de chuvas tem sido razão de sofrimento para aproximadamente 1,5 milhão de baianos espalhados pelo Estado. Segundo dados da Superintendência de Proteção e Defesa Civil (Sudec), 80 municípios, ou 19,2% do total de 417, já tiveram a situação de emergência reconhecida pelo governo federal. Outros oito ainda aguardam o resultado da análise.

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Além de atrapalhar atividades básicas do cotidiano, a falta de água prejudica a agricultura e pecuária, fato que só agrava a situação. Segundo o representante do Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (INEMA), Aldirio Almeida, não existe perspectiva de melhora em curto prazo. “Não há previsão de chuvas fortes para os próximos 10 dias, com volume significativo”.

Isso acontece faltando exatos 36 dias para o mês de dezembro, reconhecidamente o pior quando se trata da seca na Região Nordeste. É neste período — quando se inicia o verão — que as temperaturas atingem valores mais expressivos e a escassez de água se torna uma constante.

Conforme Almeida, nas regiões mais afetadas, a exemplo do semiárido, sul e extremo sul, só deve começar a chover em meados de novembro. “Ainda assim, a chuva não deverá ser suficiente para resolver a questão, sobretudo por conta do longo período de estiagem nestes municípios”.

Essa dependência do “humor de São Pedro” é apontada como um grave problema pelo especialista em semiárido, Manoel Gomes. Ele critica a falta de uma visão hídrica estratégica, que pense a questão de forma global.

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“Muito mais precisa ser feito. É preciso sair do campo emergencial. Você não ouve história sobre problemas no Alasca por conta de uma geada, por exemplo. Os carros-pipa são adotados desde os anos de 1950, mas não resolvem a situação, são mero paliativo”.

E essa história não é nova. Gomes afirma que 2016 representa o sexto ano seguido de seca, fato que, em sua opinião, torna a situação desse ano mais crítica que as dos anos anteriores.

“Alguns podem alegar que até 217 municípios já tiveram situação de emergência decretada na Bahia no passado, mas este tem sido um ciclo sem intervalos. E o quadro tende a piorar caso a situação climática não sofra alterações. Qual será esse número daqui a dois, três meses?”.

BARRAGEM DE SOBRADINHO: Principal reservatório do Nordeste pena com a estiagem

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O quadro da seca no Nordeste pode certamente ser traduzido pela Barragem de Sobradinho. Principal reservatório da região, responsável por 58,2% do abastecimento, ele trabalha atualmente com 8,3% da sua capacidade. Os dados são do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).

Mantida essa situação, Sobradinho pode começar a operar em “volume morto” nos próximos meses. Isso significa que será preciso retirar água do subsolo, do lençol freático.

“Sobradinho é responsável pelo abastecimento humano, produção de alimentos e também de energia, através da Chesf. Quando isso não é possível, a prioridade deve, por lei, ser dada ao consumo das pessoas”, explica Gomes.

Por sua importância não só para a Bahia, mas para toda a região Nordeste, o funcionamento parcial de Sobradinho é apontado por ele como um “desastre”. Contudo, a falta de alternativas aos meios tradicionalmente utilizados é, mais uma vez, apontada como uma grave falha:

“Ter tamanha dependência de uma barragem como Sobradinho é mais uma prova da nossa falta de visão. E isso não é uma crítica direcionada ao governo da Bahia. Esse é um problema que se reproduz em todo o país, independente da região”.

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