Será? Estudo estima pelo menos 4,2 milhões já contaminados com coronavírus no Brasil

 Será? Estudo estima pelo menos 4,2 milhões já contaminados com coronavírus no Brasil

Cerca de 3,3% da população da cidade de São Paulo e 10,6% da população do Amazonas já devem ter se infectado com o novo coronavírus, aponta uma estimativa divulgada nesta sexta-feira, 8, pelo Grupo de Resposta a Covid-19 do Imperial College de Londres. Para São Paulo, isso representa cerca de 1,5 milhão de pessoas. No Amazonas, são cerca de 448 mil contaminados.

A estimativa, feita para 16 Estados com mais casos até o momento, é de mais de 4,2 milhões de pessoas que já contaminadas (com margem de erro entre 3,48 milhões e 4,7 milhões).

O estudo, que conta com pesquisadores ingleses e três autores brasileiros, avaliou especificamente para o País como deve estar a taxa de transmissão da doença. Eles partem do número oficial de mortes para, em retrospectiva, estimar a parcela da população infectada. Eles afirmam que intervenções de isolamento social foram capazes de derrubar em 54% o número de reprodução do coronavírus (para quantas pessoas uma contaminada é capaz de transmitir), mas ela ainda está ativa. Veja o estudo, em inglês.

“Apesar de medidas tomadas até agora terem reduzido o número de reprodução, os dados sugerem que a epidemia continua em aumento exponencial em todos os 16 Estados brasileiros analisados”, disse ao Estado o médico Ricardo Schnekenberg, doutorando da Universidade de Oxford, que assina a análise.   

Cemitérios cavam sepulturas para vítimas e suspeitas da pandemia de coronavírus COVID-19 no cemitério de Nossa Senhora em Manaus, estado da Amazônia.
Cemitérios cavam sepulturas para vítimas e suspeitas da pandemia de coronavírus COVID-19 no cemitério de Nossa Senhora em Manaus, estado da Amazônia. Foto: MICHAEL DANTAS / AFP

Segundo os autores, o número de reprodução mais alto hoje é observado no Pará, de 1,90. No Estado, os pesquisadores estimam que 5,05% da população já foram infectados (ou 439 mil pessoas). Belém iniciou nesta quinta-feira um regime de lockdown. Em São Paulo, onde políticas de isolamento foram adotadas em 24 de março, a taxa de reprodução é de 1,47.

“Condicional aos padrões de mobilidade observados até o momento no Brasil, concluímos que a transmissão do vírus SARS-CoV-2 ainda não está sob controle. Se esse padrão for mantido, é esperado um colapso no sistema de saúde de alguns estados”, afirmou o estatístico brasileiro Henrique Hoeltgebaum.

A taxa está acima de 1 em todos esses Estados, o que indica que a epidemia ainda não está controlada. O trabalho lembra que a distribuição da doença é altamente heterogênea no País, com cinco Estados (São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará, Pernambuco e Amazonas) sendo responsáveis por 81% das mortes reportadas no Brasil. Até esta quinta, de acordo com o Ministério da Saúde, 9.146 pessoas já haviam morrido em decorrência da covid-19. A doença já foi diagnosticada em mais de 135 mil pessoas.

“Essas tendências estão em forte contraste com outras grandes epidemias de covid-19 na Europa e na Ásia, onde bloqueios forçados levaram com sucesso o número de reprodução para abaixo de 1. Embora a epidemia brasileira ainda seja relativamente incipiente em escala nacional, nossos resultados sugerem que ações adicionais são necessárias para limitar a propagação e impedir a sobrecarga do sistema de saúde”, escrevem os autores.

O Imperial College é um dos institutos de pesquisa mais conceituados do mundo em modelagem matemática e vem publicando projeções desde que a epidemia chegou à Europa. Foi por conta dos números apresentados pela instituição que o primeiro ministro do Reino Unido, Boris Johnson, se convenceu de que o isolamento social era a única medida possível para evitar um número catastrófico de mortes no país.

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