“Vamos fazer a transformação”: diz Caetano em abertura de maior curso do MEC sobre educação antirracista sediado em Camaçari

Camaçari foi palco, neste sábado (31), de um momento considerado histórico para a educação baiana e brasileira. A cidade sediou a aula inaugural do Curso de Aperfeiçoamento em Educação das Relações Étnico-Raciais: Afrobrasilidades e Africanidades na Educação Básica, uma iniciativa pioneira da Secretaria Municipal de Educação (Seduc) em parceria com a Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), por meio do Campus dos Malês, localizado em São Francisco do Conde.
O evento, realizado no Recanto das Orquídeas, no bairro Jardim Limoeiro, reuniu cerca de 1.000 professores, sendo 300 da rede municipal de Camaçari e os demais oriundos de municípios da Região Metropolitana de Salvador, do Recôncavo Baiano e de Feira de Santana. Ao final do curso, 1.200 docentes serão certificados, com formação baseada na Lei 10.639/2003, que determina o ensino de história e cultura afro-brasileira nas escolas.
Durante a abertura, o prefeito Luiz Caetano destacou a dimensão do projeto. “Tem muito tempo que não participo de um encontro com esse alcance. Saímos daqui fortalecidos para enfrentar a batalha contra o racismo. Vamos fazer a transformação”, afirmou.
O secretário de Educação, Márcio Neves, reforçou a importância da formação. “Camaçari perdeu recursos no passado por não ter políticas antirracistas. Agora estamos virando essa página com uma proposta ampla, rica e transformadora para a cidade e para a educação pública.”
A vice-reitora da Unilab, Eliane Gonçalves, ressaltou que o curso é o maior projeto do Ministério da Educação em andamento no país. “Essa formação vai além da teoria, ela propõe práticas pedagógicas voltadas para a descolonização do ensino e o fortalecimento da identidade afro-brasileira nas escolas.”
Ao longo de 180 horas, o curso será ofertado em formato híbrido, com encontros presenciais quinzenais aos sábados e atividades online. A programação inclui fundamentos da educação para as relações étnico-raciais, estudos sobre racismo, linguagem, cultura africana e afro-brasileira, além do desenvolvimento de projetos pedagógicos interdisciplinares.
Maria de Fátima Cardoso, assessora da Seduc, destacou que a iniciativa vai além da legislação: “É também uma ação humanitária. Estamos garantindo a liberdade, o respeito e o direito de ser quem se é. Esse é o papel da escola”.
Para a professora Iane Araújo, da Escola Maclina Maria da Glória, a formação é um reforço essencial: “Antes, cada professor fazia esse trabalho sozinho. Agora, temos um curso que nos une em uma rede comprometida com a construção de uma educação antirracista sólida”.
Também participaram do evento autoridades como a secretária estadual de Promoção da Igualdade Racial, Ângela Guimarães; a diretora pedagógica da Seduc, Alexandra Pereira Silva; o diretor em exercício do Campus dos Malês, Pedro Acosta Leyva; e a coordenadora do curso, professora Carine Curinga de Matos, além de vereadores e lideranças da região.
A aula inaugural foi mais que o início de um curso — foi o ponto de partida para uma virada na educação pública, voltada à equidade, à representatividade e ao enfrentamento do racismo nas salas de aula da Bahia.