Atraso no pagamento de terceirizados suspende liberação de corpos no IML
O irmão da auxiliar de serviços gerais Iraildes Andrade, Alencar Rodrigues Gomes, 49 anos, morreu no domingo, vítima de um infarto. O corpo foi levado para o Instituto Médico Legal Nina Rodrigues (IML), mas por falta de vaga no Cemitério Municipal de Periperi, ela só foi retirar o corpo hoje. No entanto, ao chegar ao IML, Iraildes teve uma surpresa: por conta de uma greve dos funcionários terceirizados da empresa Sandes Empreendimento, a liberação está suspensa.
O problema é que o enterro estava marcado para às 10h, a família chegou a fazer uma vaquinha para arrecadar R$ 350 e fretar um ônibus para levar as pessoas de Pernambués para o cemitério em Periperi, mas o enterro não vai ocorrer no horário previsto porque o corpo ainda não foi liberado. “Não me informaram nada, cheguei aqui às 7h e estou aguardando liberação”, lamenta. O medo dela agora é perder a vaga no cemitério. “Não sei o que vai fazer porque se perder a vaga, outras pessoas vão entrar na frente”, explica. O irmão dela morreu em casa, após sofrer um Acidente Vascular Cerebral (AVC).
Quem vive um drama parecido é o aposentado Albesírio Domingos, 63 anos, que foi liberar o corpo do irmão, que morreu de causas naturais e ainda não sabe quando isso será possível. “Simplementemente mandaram eu aguardar e ter paciência”, informou. A morte foi ontem, a família foi comunicada que o corpo estava liberado, providenciou toda a documentação de cartório, conseguiu vaga no Cemitério Municipal de Brotas, mas não conseguiu retirar o corpo ainda. “Estou aguardando a liberação para agendar o horário do enterro”, contou.
Segundo o porta-voz dos funcionários da empresa Sandes Empreendimentos, o auxiliar de necropsia Eduardo da Silva, 40 anos, a paralisação atinge 40 funcionários. Entre eles há auxiliar de necropsia, auxiliar de serviços gerais, motoristas de rabecão e assistente de rabecão. “A gente vem sofrendo há mais de oito meses com o descumprimenro da parceria entre a empresa e o estado. Nos atinge a falta de pagamento, o desvio de funções e a deficiencia das condições de trabalho. Nossas funçoes não são compatíveis com os serviços que prestamos na nossa carteira. A assinatura é de auxiliar de serviços gerais, mas nós exercemos a função de necropsia, além de funções da parte administrativa e recebemos como serviços gerais”, denuncia.
Ele informou ainda que há oito meses que os trabalhadores vinculados a Sandes Empreendimentos não recebem em dia e que até hoje a empresa não pagou sequer a primeira parcela do 13º salário. “Só recebemos o transporte até o dia 1º”, acrescentou. Outro funcionário que não quis se identificar e atua como motorista de rabecão reclamou ainda que o pagamento da alimentação e do transporte são parcelados e que os trabalhadores ainda sofrem ameaças. “Lá dentro o pessoal fala: você tem família? Tem filhos? Então é bom que trabalhe. Os desvios de função incomoda bastante porque somos contratados para uma coisa e realizamos outra com necropsia, que é responsabilidade dos estatutário, que ganham cinco vezes mais do que a gente”, informa.
Auxiliar do gabinete do IML, Antonio Nonato foi designado para se reunir com a empresa e os trabalhadores para resolver o impasse. “Conversei com os trabalhadores para que possam voltar a trabalhar ao menos 30% do contigente. Espero contar com a compreensão deles. O estado está em dia. Estou indo agora me reunir com a Sandes para entender o porquê do atraso nos pagamentos. Se não resolver, vou me reunir com o secretário da Fazenda para que o estado possa adiantar esse pagamento para os trabalhadores. Só não garanto que será hoje por conta da parte burocrática que envolve esse processo”, explicou.