Funcionária do Projeto Viver envia carta ao governador Rui Costa pedindo a manutenção e ampliação do serviço 

 Funcionária do Projeto Viver envia carta ao governador Rui Costa pedindo a manutenção e ampliação do serviço 

Atenção GOVERNADOR, esse brilhante projeto não pode acabar. 

CARTA AO GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA PELA MANUTENÇÃO E AMPLIAÇÃO DO SERVIÇO VIVER

“Para mim o Viver significa VIDA, pois me lembro bem como cheguei a esse Serviço, com uma ferida no peito que só doía, perdendo peso assustadoramente, com medo de tudo e todos, não conseguia pensar. Esse Serviço me possibilitou sair do breu que vivia naquele momento, sair da escuridão, no VIVER encontrei ouvido, fui acolhida, encontrei carinho de toda a equipe, encontrei palavras que me fizeram despertar, abrir os olhos, buscar o que era necessário, perder os medos, seguir em frente” (usuária do Serviço Viver) 

A Marcha Mundial das Mulheres organiza mulheres urbanas, rurais, das florestas e das águas a partir da base e as alianças com movimentos sociais, defendendo a visão de que as mulheres são sujeitos ativos na luta pela transformação de suas vidas e do mundo e que ela está vinculada à necessidade de superar o sistema capitalista patriarcal, racista, homofóbico e destruidor do meio ambiente. A MMM busca construir uma perspectiva feminista afirmando o direito à auto-determinação das mulheres e a igualdade como base da nova sociedade que lutamos para conquistar.
Dessa forma, defendemos a construção e manutenção de todo e qualquer mecanismo, instrumento ou serviço que tenha como objetivo combater a violência e buscar alternativas de vida para quem a sofre. Assim percebemos o Serviço VIVER. Desde sua criação, o VIVER tem conseguido criar alternativas de cuidado e atenção para a violência sexual e isso é essencial, principalmente para as crianças, adolescentes e mulheres. Seu fechamento significa, em nossa visão, a desconstrução de um caminho longo de luta para termos um Estado mais responsável pelo cuidado de seu povo.

Pra onde irão as crianças, adolescentes, mulheres e famílias cobertos hoje por esse serviço? A afirmação do governo de que haverá um trabalho de redistribuição na rede de atenção não nos contempla. A especificidade do manejo do cuidado no Serviço VIVER – amparado nas lógicas do Acolhimento, na não culpabilização da vítima e no olhar sistêmico sobre a violência abarca intervenções que cobrem oferta de ações às vítimas e seus familiares. O escopo das ações ofertadas prevê, além dos cuidados médicos, intervenções psicossociais e psicológicas através atendimentos individuais e grupais contínuos.

Por isso, é inviável o redirecionamento da demanda proposto pela nota técnica da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos, atual responsável pelo Serviço VIVER.  Como o CREAS irá absorver essa demanda, se esse Serviço não prevê acompanhamento psicológico contínuo? Como o CEDECA irá receber esse fluxo? Como Hospital da Mulher dará conta dessa demanda tão complexa, se preconiza atendimento para apenas mulheres a partir de 12 anos e não absorverá no fluxo homens, meninos e crianças, pessoas trans.

É urgente pautar essas questões, pois são históricos os furos da rede e sua incompatibilidade em receber o fluxo de pessoas em situação de violência sexual. Essa violência, naturalmente complexa e polissêmica, está historicamente imbricada a diversos elementos que permeiam o imaginário social, e revelam a conexão de questões estruturais de raça, gênero e classe.

Fechar o VIVER é corroborar com o não reconhecimento do sofrimento gerado pela violência sexual, tão presente na historicidade desse fenômeno! Essa movimentação vai na contramão de uma luta histórica pela desnaturalização da violência sexual. Qual será o lugar ofertado a esses corpos violados, que vivenciam diariamente os efeitos de uma cultura de culpabilização da vítima? Aonde poderão construir uma fala segura sobre a violência, fenômeno tão velado e naturalizado socialmente?

Estamos em luta pela manutenção do Serviço Viver e da sua ampliação, tendo em vista que através dos anos problemas de gestão desorganizaram e minguaram a contratação dos profissionais, a abertura de novas unidades de atendimento e o crescimento desse trabalho tão importante para a transformação das nossas vidas. Esperamos que o governo do estado possa apresentar soluções concretas para o não fechamento de Serviço e dialoguem com os movimentos sociais e a sociedade civil que hoje se organizam para essa luta. Temos a certeza que podemos construir um caminho de aprofundamento do combate a violência através do fortalecimento do VIVER estamos a disposição pra isso.

Seguiremos em Marcha até que todas sejamos livres!”

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